Publicação do Dossiê Filosofia e Ciências Sociais de Basilíade – Revista de Filosofia

Temos a grande honra e a grata satisfação de apresentar o nosso segundo número de Basilíade – Revista de Filosofia da Faculdade São Basílio Magno, FASBAM. Trata-se de mais uma publicação que busca estar em sintonia com os ideais de divulgação de pesquisa em filosofia e, assim, vincular-se à visão desta instituição no sentido de “tornar-se referência de qualidade acadêmica especializada na área das Ciências Humanas como uma das melhores instituições de ensino superior no Paraná”. Outra conquista importante é o fato de que este número já está incluído no CROSSREF, uma rede global de aproximadamente treze mil membros de cento e dezoito países que conecta pesquisadores do mundo inteiro.  Deste modo, o CROSSREF faz com que os artigos publicados em nossa revista sejam mais rapidamente encontrados, citados e avaliados através do registro do Digital Object Identifier (DOI) da International DOI Foundation (IDF).

No presente dossiê, apresentamos artigos que se inserem no diálogo cultural entre filosofia e ciências sociais. Com efeito, a aproximação dos saberes possibilita melhor entender o ser humano em sua existência, na sua realidade social e na sua abertura para o transcendente. Em meio à diversidade das questões que são examinadas neste número, temas da filosofia antiga e medieval – foco de nossa revista – se acham igualmente contemplados e explorados.

Assim, abrimos este número de Basilíade com o artigo intitulado Entre a filosofia e as ciências sociais, de Alessandro Cavassin Alves. Neste artigo, o autor nos convida a um exercício de comparação entre a teoria filosófica de Plotino (século III d.C.) e a teoria sociológica de Émile Durkheim (séculos XIX–XX). O objetivo desta comparação é o de questionar os limites reflexivos que a própria ciência, a partir do positivismo, quis impor ao conhecimento, rejeitando assim a tradição filosófica. A princípio, isto parecia um tanto impossível ao autor. No entanto, ele busca demonstrar, pela comparação, como Durkheim, ao formular a sua teoria científica, não conseguiu desvincular-se da filosofia.

O segundo artigo, de Soter Schiller, se intitula: A questão “homem” como problema fundamental da filosofia na perspectiva de Max Scheler. A partir do pensamento de Scheler, o autor chama a atenção para a questão de como as ciências humanas, apesar da “aparente riqueza de dados e fatos referentes ao fenômeno humano, não resultou em um autoconhecimento do homem mais profundo e esclarecido”. Daí, pondera o autor, resulta a necessidade de se pensar “a questão “homem” frente à diversidade de pensamentos e também de encontrar aquilo que o caracteriza em sua essência. Para isso, a filosofia continua sendo de fundamental importância neste mundo marcado pela cientificidade e pelo caráter tecnológico em que vivemos. Soter Schiller, ao longo do artigo, aponta também para alguns limites da filosofia de Scheler à luz, por exemplo, da filosofia cristã e tomista.

O artigo de Elaine Cristina Senko Leme, Considerações sobre a filosofia social de Ibn Khaldun (1332-1406), nos apresenta esse importante pensador medieval islâmico e discute sua biografia, seu contexto histórico e as ideias que exprimem sua filosofia social. Esta filosofia envolve uma compreensão da história e da vida em sociedade. Neste sentido, a autora examina o significado de “civilização” para Ibn Khaldun, isto é, seu auge e as causas de sua decadência, passando especialmente pelos califados islâmicos em todo o norte da África e na península Ibérica. Destacam-se aqui os conceitos khaldunianos de Assabiya, Umran e Mulk que, posteriormente, estarão presentes nas filosofias de autores ocidentais modernos e contemporâneos. A autora também nos sugere pensar como, na Idade Média, a filosofia produzida no mundo ocidental cristão manteve contatos e diálogos com a filosofia do mundo islâmico, e vice-versa.

A este estudo, segue o artigo de Natália Cristina Granato, A teoria social de Norbert Elias e suas contribuições para a Sociologia do poder. Aqui, a autora destaca um dos principais sociólogos do século XX que contribuiu, de forma excepcional, para o desenvolvimento da ciência social ao “dialogar com os pares dicotômicos objetivo/subjetivo e coletivo/individual, combinando assim estruturas sociais a dimensões subjetivas e interacionistas”. Segundo a autora, Norbert Elias se dedica a pensar e entender o que ele chama de “processo civilizador ocidental” com a consequente “centralização do poder do Estado”. Tudo isto se apresenta como a expressão viva da dinâmica da força das estruturas sociais e da ação do indivíduo em prol de um modo de vida, ou de civilização, com suas renúncias e liberdades. Essa configuração pode ser estudada e compreendida na análise tanto de micro-sociedades como do próprio desenvolvimento da civilização ocidental.

Arilson Pereira do Vale, com o artigo: Os estudos CTS e a Filosofia da Tecnologia de Andrew Feenberg, analisa os estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) e sua interação. Ao mesmo tempo, ele questiona o possível mito da neutralidade da ciência e o determinismo tecnológico. Neste sentido, o autor nos mostra as proposições teóricas do filósofo Andrew Feenberg, em especial a sua posição sobre a necessidade de “democratização da tecnologia” como enfrentamento de um controle social autoritário produzido pelo próprio discurso científico. Assim, democratizar o conhecimento científico e tecnológico seria uma forma eficaz de enfrentamento ao autoritarismo.

Por fim, destacamos o artigo de Roberto Akira Goto, O que é um clássico: algumas considerações. O texto nos convida a saborear o pensar a partir de leituras e obras que se tornaram indispensáveis ao longo das gerações nas mais diversas especificidades do conhecimento. Ele destaca também como tais obras, independentemente da área de conhecimento em que atuaram, devem ser lidas e apreciadas em todos os tempos, pois discutem a natureza humana e seus dilemas. Para o autor: “A lição que temos ou podemos ter de um clássico – ainda que ele não tivesse originalmente a intenção ou a pretensão de oferecê-la – é o fato de que ele sempre desvela, revela, ilumina e/ou dá voz a algum aspecto da condição humana”.

O presente número se termina com a recensão de Renato dos Santos sobre o livro, Fenomenologia, Linguística & Psicanálise, escrito por um conjunto de quatorze autores. Diz Renato dos Santos: “A partir de três discursos distintos que, em vários pontos, dialogam entre si – a fenomenologia, a linguística e a psicanálise –, os autores buscaram circunscrever o indeterminado, o non-sens, o nada, ou simplesmente o real”.

Com esta sugestão ao diálogo, desejamos aos leitores deste segundo número de Basilíade uma ótima oportunidade para conferirem as variadas pesquisas nas áreas de filosofia, das ciências sociais e da cultura em geral.

 

Alessandro Cavassin Alves
Membro do Conselho Científico Nacional
Organizador do dossiê

https://www.youtube.com/watch?v=JD8WD3hKXtM

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo