Na iconografia bizantina, cada detalhe em um ícone é uma expressão consciente de significados profundos. Nada em um ícone é acidental e essa atenção aos detalhes se estende às cores utilizadas. Por isso, vamos explorar o simbolismo por trás das cores que dão vida a essas janelas do divino.
Ouro: A Glória Divina
O dourado é proclamado como a cor da luz incriada, representando a glória de Deus e a graça divina. Os halos dourados que circundam figuras iconográficas indicam a resplandecência da pessoa representada, mergulhada na luz não criada.
Branco: Pureza e Celestialidade
O branco, símbolo de pureza e limpeza, junto ao ouro, é frequentemente usado em ícones do Cristo ressuscitado. Juntamente com o dourado expressa a esfera celestial e a graça divina que envolvem a figura de Cristo em sua ressurreição.
Prata: Pureza da Alma e Santidade
A prata, indicando pureza da alma e santidade, confere um significado especial a certas figuras iconográficas, ressaltando a natureza divina e purificada daqueles que são representados.
Verde: Juventude e Renovação da Vida
O verde, cor da juventude, fertilidade e do Espírito Santo, desempenha um papel significativo. É usado nas Igrejas Orientais em paramentos sacerdotais na Solenidade de Pentecostes, simbolizando a renovação de toda a criação por meio da ação do Espírito Santo.
Azul: O Reino de Deus e a Humanidade
O azul representa o reino de Deus na terra, a humanidade da Theotokos, a Santíssima Mãe de Deus, e a vida humana. Em ícones como o de São Simeão, a túnica azul enfatiza a sua natureza humana.
Vermelho: O Sangue de Cristo e a Divindade
O vermelho evoca o sangue de Cristo, simbolizando sacrifício, martírio e a sua divindade. Ícones da Theotokos, a Santíssima Mãe de Deus, frequentemente a representam com um manto vermelho sobre uma túnica azul, mostrando que ela foi primeiro humana e depois, por sua completa obediência a Deus, tornou-se divina. (Para saber mais sobre isso, conheça o significado de Theosis, clicando aqui).
Roxo: Riqueza, Poder e Autoridade
A cor roxa é utilizada para transmitir riqueza, poder e autoridade, como visto na parábola de Lázaro e do homem rico.
Marrom: A Terra e Suas Montanhas
O marrom assume a identidade da terra e das montanhas, conectando o divino à criação terrena.
Preto: A Ausência de Luz e a Rejeição do Mundo
O preto é a cor do mal e da morte, usada para pintar cavernas e símbolos de túmulos. Também pode ser a cor do sigilo. O preto é a ausência de luz e, portanto, não tem lugar na realidade transfigurada. As vestes pretas dos monges podem simbolizar a rejeição dos prazeres e hábitos mundanos.
Na iconografia, cada matiz carrega um significado espiritual profundo. Cada escolha de cor é uma paleta de símbolos, uma narrativa visual que transcende o acidental, convidando-nos a contemplar a riqueza espiritual por trás de cada pincelada. Ao observarmos esses ícones, somos guiados por uma jornada espiritual, na qual as cores são mensageiras de verdades mais elevadas.