Nos tempos hodiernos tem se escutado acerca do conceito de empatia nos mais variados âmbitos do corpo social, no entanto, fica-nos a indagação: em que consiste a empatia? Se tomarmos o conceito a partir do Dicionário Alemão Cassel’s New German Dictionary[1], entendemos a empatia como colocar-se dentro do sentir de outra pessoa.
Para Edith Stein, a compreensão do conceito também segue essa mesma dimensão. O homem que age com a empatia, “vivencia a experiência do outro em mim”. A filósofa alemã enaltece três características que abarcam o ato empático.
A primeira consiste na experiência que o outro perpassa e todo o seu sentir interior. Desta forma, a partir de uma situação existencial a qual o indivíduo está passando, ele é acometido por sentimentos interiores, que influenciam diretamente na totalidade de sua pessoa[2].
A segunda característica se dá na dimensão física do sujeito. Sendo assim, tendo sentido dentro de si os sentimentos e as emoções em relação à sua existência, aquilo que está dentro de si, extravasam para o exterior do homem, em suas ações e realizações.
Por fim, a terceira característica constitui a experiência da pessoa humana após ter experimentado essa situação interior, ou seja, após ter perpassado pelas duas características antecedentes, o ser apreende a experiência para si e em sua existência.
Tomemos o exemplo de um amigo ao qual conhecemos de forma profunda e convivemos com ele cotidianamente. Encontramo-lo logo pela manhã e percebemos em seus aspectos físicos uma tristeza exacerbada e um modo de se portar diferente do habitual. Perguntamos se algo aconteceu e ele responde que seu irmão viera a falecer[3].
De acordo com Edith Stein, o meu ato empático em relação a esse meu amigo se dá a partir de minha percepção em relação a ele, notando e sentindo a sua dor. Embora os aspectos externos sejam percebidos na relação “sujeito x sujeito”, o ato empático não pode permanecer apenas nos aspectos exteriores, pois o externo está refletindo algo de interno. Portanto, é preciso alcançar o âmago do ser humano em vista do empatizar-se, isto é, alcançar a raiz da dor que está na alma do indivíduo[4].
Uma das grandes problemáticas da existência humana atualmente está na perspectiva do egoísmo e narcisismo. Gradativamente o homem está cada vez mais individualista, inserido em uma cultura do descartável e do momentâneo, buscando unicamente alimentar a sua própria vontade, ainda que supérflua e passageira.
Tratemos essas características como subjetividade. Por isso, sempre os princípios únicos do homem, o ser pelo próprio ser; minhas vontades, meus desejos, minha vida, isso basta, nada mais importa.
Edith Stein realça que é preciso a intersubjetividade[5]. Temos uma substituição do conceito. Não mais o subjetivismo pelo subjetivismo, mas agora, temos uma valorização dos valores singulares de cada pessoa, no entanto, não fico em minhas próprias – unicamente -, mas junto do ato empático, saio de mim mesmo e vou ao encontro do outro, de suas necessidades, de sua dor, de sua existência. Com essa ação empática, no cerne do intersubjetivismo, o homem se auto transcende, distanciando-se do egoísmo, o indivíduo abre-se ao semelhante, se relacionando, acolhe e adentra ao mundo interior do outro através da empatia[6].
Concluímos, portanto, a nossa reflexão: o câncer social hoje consiste no subjetivismo exacerbado. A cura para este mal: a intersubjetividade. Ela permite que o homem consiga sair de si, indo ao encontro do outro homem, ajudando-o em suas necessidades existenciais. Essa percepção intersubjetiva é a empatia, onde noto o outro indivíduo e busco perscrutar o seu interior, compreendendo os seus sentimentos mais profundos, sentindo com ele, apreendo-os também em mim.
Autor: Félix Adriano, estudante do 3º ano do Curso de Filosofia da FASBAM.
[1] Einfühlung: “Ein” junto de “fühlung”: respectivamente significando “dentro” e “sentir”.
[2] FILHO, Juvenal S. Empatia Edmund Husserl e Edith Stein. Coleção leituras filosóficas. São Paulo: Loyola, 2014. p. 36
[3] Percebe-se no exemplo sugerido a passagem pelos três estágios: a experiência que o indivíduo passou, no caso o luto, por isso está entristecido e com a dor interior; as características físicas percebidas por causa de sua tristeza interior, refletindo assim no seu exterior; enlutado e diferente fisicamente, o indivíduo compreende essa experiência interior de si e retira para sua vida uma chave de leitura a partir do seu interno.
[4] STEIN, Edith. Sobre el problema de la empatía. Trad. José Luis Caballero Bono. Madrid: Editorial Trotta, 2004.
[5] BELLO, Angela Ales. Introdução à fenomenologia. Coleção Filosofia e política. Trad. Ir. Jacinta Turolo e Miguel Mahfoud. Bauru: Edusc, 2006. p. 65.
[6] FARIAS, Moisés Rocha. Dissertação (mestrado em filosofia) A empatia como condição de possibilidade para o agir ético. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 2013. p. 84.