Para que serve estudar filosofia?

Alguém pode nos perguntar: “Para que serve estudar filosofia?” e acreditar que esse modo de pensar não serve mais. Na realidade, o conhecimento científico – que combina a experiência dos fenômenos físicos com a exatidão do cálculo matemático – é o conhecimento real universalmente reconhecido como tal após as inúmeras descobertas que ocorreram desde Galileu até os dias atuais. A estas se somam, embora com certa margem de incerteza, as conquistas das ciências humanas: psicologia, sociologia, linguística, crítica estética ou literária, história e muitas outras. Assim, tanto o mundo externo quanto a condição humana revelam gradualmente seus segredos de uma maneira muito mais precisa e, mais importante, mais rica do que as abstrações universais da filosofia.

A essa objeção, muito comum hoje em dia, podemos responder que sim, em certo sentido, a filosofia é inútil. Mas, em outro sentido, serve para tudo.

O conhecimento e o útil

Certamente, muitas coisas são estudadas e praticadas porque “são úteis”: a medicina é usada para curar os doentes; a engenharia civil é usada para construir edifícios, pontes e ferrovias; e a matemática serve à medicina, à engenharia civil e a muitas outras disciplinas.

No entanto, vamos recuar e perguntar por que o conhecimento deve sempre “ter alguma utilidade”? Se assim fosse, o conhecimento seria apenas uma função útil para algum propósito, e esse propósito não seria o próprio conhecimento. Útil para quê então? Para manter nossa vida biológica? Ou para nos oferecer algum prazer? A sobrevivência do corpo, depois a satisfação que ele pode nos proporcionar: essa é, de fato, a resposta que muitas mentes superficiais dariam a essa pergunta.

Mas esta concepção é terrivelmente reducionista porque rebaixa a humanidade a ser apenas uma espécie de animal, possivelmente superior a outras em certos campos. Na realidade, a busca de sentido transcende os limites do útil e do prazer, e é inata à alma humana. Isso é atestado pela história das ciências individuais, que nunca se detêm apenas nos resultados práticos, mas sempre tendem a construir teorias mais amplas e mais capazes de abarcar a complexidade da realidade apenas para conhecê-la melhor.

Saber por saber

Ora, esse impulso encontra nas ciências exatas e nas ciências humanas um objeto específico e cada vez mais limitado. Ao mesmo tempo, visa conhecer tudo o que é cognoscível e, portanto, constitui uma certa totalidade. Ora, três grandes esferas diante de nós e dentro de nós vão além do conhecimento especializado justamente porque abrangem tudo: a natureza, a pessoa humana e, sobretudo, o ser. Deixe-nos explicar.

  • Encontramo-nos num mundo de realidades corpóreas, cujas leis as ciências procuram legitimamente descobrir; mas, antes de serem reguladas por parâmetros que condicionam a sua existência e dinamismo, as coisas têm uma identidade que a linguagem procura exprimir com uma definição o mais pertinente possível. Existe algo comum, até certo ponto, entre todas as realidades corpóreas, seja uma gota d’água, uma tília, um gato? Este é o campo de investigação da filosofia da natureza.
  • Quando nos voltamos do mundo exterior para nós mesmos, surgem questões sobre a humanidade: antes de tudo, o que é uma pessoa? Como se articulam suas múltiplas dimensões entre si e com a própria humanidade: racionalidade, fala, criatividade artística e técnica, propensão para a vida social e política, abertura ao sagrado, entre outras? Além disso, sendo autoconsciente como um ser conhecedor e livre, a questão antropológica se expande em uma questão ética – o que devo fazer? — e numa questão gnosiológica — o que posso saber e como sei?
  • Além da natureza e da humanidade, existe a instância mais universal e radical: embora tudo seja uma coisa e não outra coisa (uma tília é uma tília, não é uma banana) tudo é: a tília é, a banana é, até o gato éO que é então a entidade, não como esta ou aquela entidade, mas precisamente como ela é? E existe uma causa transcendente do ser das coisas, que as religiões chamam de Deus? Essas duas questões geram respectivamente a metafísica e aquela teologia que chamamos de filosófica, para distingui-la da teologia, que se baseia na Escritura.

Assim, parece que a questão do significado gera seis áreas de pesquisa: filosofia da natureza, antropologia, filosofia do conhecimento, ética, metafísica e teologia filosófica. Todos elas se enquadram no reino da filosofia, e todas elas são… inúteis, primeiro porque nenhuma delas fará um computador funcionar, e depois porque nem mesmo a ética me dirá finalmente o que devo fazer hic et nunc para fazê-lo bem. Assim, a grandeza da filosofia consiste precisamente na sua gratuidade: é um conhecimento que, sendo procurado por si mesmo, e por nada mais, é a sabedoria.

Ao mesmo tempo, porém, o conjunto de disciplinas que acabamos de esboçar é, em outro sentido, útil para tudo. Com efeito, quem dele tiver adquirido um certo domínio poderá avaliar os méritos e as limitações do conhecimento científico com que nos deparamos na vida profissional ou quotidiana. E mais profundamente, essa pessoa poderá inserir os fragmentos analisados por esta ou aquela ciência no todo do qual recebe seu significado pleno. A personalidade intelectual deste estudante será enriquecida pela capacidade de organizar tudo o que aprendeu desde a infância em um organismo coerente, e poderá aprender mais tarde. Esta organicidade é, antes de tudo, sistemática, porque visa conhecer as coisas em que se baseiam as diferentes partes da filosofia, mas é também histórica porque estuda o seu desenvolvimento desde os gregos até aos nossos dias.

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Fonte: Aleteia, em inglês.

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