G.K. Chesterton: um singular paradoxo do século XX

Este artigo busca compreender a vida de Gilbert Keith Chesterton e delinear, através de suas obras, a relevância de seus escritos, seu impacto atual e instigar a subjetiva busca do leitor para a apreciação de seus livros. Para uma satisfatória análise, a vida de um autor é crucial para captar a essência de seus pensamentos, e em citação deste singular pensador inglês, esta verificação tem alta importância e, por conseguinte, uma descrição de suas principais obras e denotações de sua época categorizadas na sua exímia escrita.

Viveu em muitos enfrentamentos da vida e conturbações políticas inglesas entre o final do século XIX e as tensões das mudanças do século XX, mas como ele mesmo defende em Ortodoxia, diante das falaciosas críticas de G.S Street, “era, talvez, uma imprudente sugestão feita a quem está sempre preparado para escrever um livro a mais leve provocação[1]”. Assim se marca a figura de Chesterton, um especial autor dotado de argumentações e sugestivas opiniões que gerava afecções e movimentos críticos no seu tempo, isto se inicia desde as polêmicas análises da guerra dos Boers até seu rompimento, já convertido ao catolicismo, com a laxista moral defendida pelos anglicanos que consistia em adaptar a igreja a cultura que se manifesta no século XX, o que o escritor inglês combateu veementemente.

A demonstração do itinerário interior e crítico de Chesterton é atestado em uma de suas obras primas Ortodoxia que é uma resposta a acusação sobre a sua falta de originalidade. O inglês, dessa forma, ensaia suas mais fortes e polêmicas proposições que rasgam as correntes saltitantes e causam mais alvoroço nos críticos, ele sustenta que o racionalismo exacerbado, separado do senso comum, conduz ao que chama de suicídio do pensamento[2], outro destaque é o reconhecimento do caráter democrático da tradição que deve ser sempre colocado em análise, tece um crítica a teoria da felicidade condicional em que a permissividade “feliz” se troca por uma pequena coisa que é negada e, por fim, ele constrói um acerto paradoxal da doutrina cristã, ou seja, um equilíbrio entre as virtudes contrárias.

Em outra obra salutar para compreender grandiosidade de seus escritos é a intitulada O que há de errado com o Mundo?[3], esta obra mostra as defesas de Chesterton para com a moral e, sem saber, condizentes com a doutrina cristã católica que logo se convertera. É evidente nesta de 1910, as preocupações e observações que o mesmo faz acerca da condição humana e forma civilizatória do ocidente na sua época.

Isto dito, ele discute questões como feminismo, educação, política, capitalismo, socialismo, religião, moralidade e outros assuntos que em seu contexto e com a enxurrada de ideias passam forçar transformações impetuosas. O que nosso autor considera frívolo, em certas discussões, é maneira com que elas não chegam a nenhum ideal e se perdem nos achismos e nas correntes. No referido livro, no capítulo sobre os homens úteis, ele metaforiza com a fútil discussão de quem veio primeiro o ovo ou a galinha, dessa maneira, ele reforça que “Não falamos senão dos homens úteis e das instituições que funcionam, ou seja, nós só pensamos nas galinhas como coisas que nos darão mais ovos. Em vez de empenharmo-nos na criação de nossa ave ideal, a águia de Zeus ou o cisne de Avon10, ou do que quer que desejemos, falamos unicamente em processo e embrião. O processo em si mesmo, separado de seu objeto divino, torna-se duvidoso ou mesmo mórbido. No embrião de tudo penetra o veneno; e nossa política são ovos podres[4]

O âmago das suas discussões é a insatisfação com a qual a sociedade moderna busca soluções superficiais para problemáticas tão complexas e admite que o enfoque na raiz destes problemas é onde estão as verdadeiras resoluções. Ele alude que uma sociedade “saudável” deve se solidificar no olhar da tradição, da família e religião e disto se construir.  É de empolgante elogio a maneira com que o pensador inglês apresenta suas ideias com provocação e perspicácia carregadas de ironias e paradoxos, assim, desafia noções aceitas e entrega uma análise crítica da condição humana e também suscita em seus leitores a reflexão do mundo no espaço que vivem e a buscarem soluções profundas aos problemas surgidos no eminente contexto.

G.K. Chesterton, em verdade, honra a sua história e sua crença e a reflete nas suas obras fundamentadas na realidade objetiva do contexto que viveu, um filósofo nato. Um crítico a todas as provocações e combatente dos idealistas simplórios, os rebeldes sonhadores e as revoluções egoístas de seu tempo. Tornar presente os pensamentos e a filosofia do escritor inglês em nosso atual mundo, carece de extremo cuidado ante ao hibridismo moderno e as velozes mudanças constantes que se conhece.

É tentador salientar que Chesterton é um revólver descontrolado, em que as balas pegam em tantas paredes que nem se percebe de onde vem, ou uma voz refém da reconhecida impotência diante das modificações históricas impossíveis de se conter, parece ser falho, se assim visto num olhar anacrônico ou envenenado pelo extremismo idealista, mas, como bom cristão, ele faz a sua parte de forma autêntica e declara “Não chamarei de minha filosofia, porque não fui eu quem a fez. Deus e a Humanidade a fizeram; ela me fez a mim[5]”.

Luis Ignacio Seco, espanhol e grande admirador de Chesterton acende sobre a magnitude do seu pensamento e a forma que os seus paradoxos escritos perpassam a história e tem autoridade no presente, ele define que “Hay que verlo como um solitario genial, que entró de rondón en la trasición del siglo XIX al XX, que fue um testigo excepcional de su época y que supo trazar diagnósticos tan certeiros que siguen y seguirán sobre el tapete de la historia[6]”.

Em suma, a vida e obra de Chesterton deve ser explorada de uma forma subjetiva pelo homem contemporâneo e refletida em seu dever prático na realidade e suas devidas exigências de um mundo que grita superficialidade e carece de um olhar para o espírito, que nosso autor inglês autenticamente defendeu. A macro contribuição dos escritos do pensador de Kensington, consiste em, ao conhecer suas relevantes obras, o leitor possa interpretar e ressignificar suas buscas pessoais e aceitação do mundo de opiniões débeis e traçar uma avaliação para almejar a solidez de vida nos valores, no espírito e profundas relações humanas e transcendentes.

Convido a embarcar nesta literatura única que com certeza no passado e no presente provoca, ao modo de Chesterton, um impactante crescimento e luz na realidade.

Autor: Pedro Igor Farias Rodrigues, estudante do 2º ano do Curso de Filosofia da FASBAM.

REFERÊNCIAS

CHESTERTON, G.K. Ortodoxia. 1 ed. São Paulo: Ecclesiae, 2013.

CHESTERTON, G.K. O que há de Errado no Mundo? São Paulo: Ecclesiae, 2013.

SECO, Luis Ignacio. Chesterton: Um escritor para todos los tiempos. ed. 2. Madrid: Palabra, 1998.

[1] CHESTERTON, G.K. Ortodoxia. 1 ed. São Paulo: Ecclesiae, 2013. p. 25.

[2] Ibid, p. 14.

[3] CHESTERTON, G.K. O que há de Errado no Mundo? São Paulo: Ecclesiae, 2013.

[4] ibid, p. 20.

[5] Op cit, p. 25.

[6] Em tradução livre: Deve ser visto como um brilhante solitário, que entrou na transição do século XIX para o XX, que foi uma testemunha excepcional de seu tempo e que soube traçar diagnósticos tão precisos que continuam e continuarão na mesa da história. SECO, Luis Ignacio. Chesterton: Um escritor para todos los tiempos. ed. 2. Madrid: Palabra, 1998. p. 18.

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