Francis Bacon e as fases do método científico experimental como refutação dos ídola

Este artigo trata da filosofia de Francis Bacon, que é considerado um revolucionário do método científico na modernidade e inestimável contribuinte para as técnicas científicas. Para isso, ele desenvolve diversas críticas aos padrões filosóficos e científicos anteriores e versa sobre uma nova construção abrangente e genuína das pautas da ciência e filosofia. Bacon viveu na época industrial do século XVII e sua ideia germina justamente a uma resposta a esta realidade, ele acreditava que o saber deveria dar seus frutos na prática e contribuir para o aperfeiçoamento industrial com o qual os nobres homens teriam o dever desta transformação em função de boas condições de vida.[1] Isto constitui a sua máxima de que o saber é poder.

O saber é o tema central de sua obra Novum Organum, nesta, Bacon versa sobre o rompimento com as linhas tradicionais do pensar, a purificação dos pré-conceitos e as fases do método científico experimental. Bacon atesta que “todos aqueles que até hoje se ocuparam das ciências foram ou empiristas ou dogmáticos. Os empiristas à maneira das formigas contentam-se com amontoar e consumir; os dogmáticos à maneira das aranhas tecem teias a partir da sua própria substância”[2]. Esta afirmação narra o nascimento do seu método que proclama a destruição dos ídolos e o alvorecer de uma ciência autêntica. O próprio título da obra demonstra a crítica a lógica tradicional aristotélica por considerar que ela repete os erros da tradição e que os silogismos são mecanismos incapazes de investigar a profundidade da natureza que força o assentimento e não a realidade.[3]

O filósofo Epicuro (341-271 A.C) fundamentava que o conhecimento verdadeiro era adquirido através das sensações, as prolepses e o sentimento de dor e de prazer[4]. Para ele, a partir dos simulacros dos objetos o registro marcado nos nossos sentidos são exatamente correspondentes a apreensão original. Diante disso, as prolepses são antecipações do que já é conhecido e registrado pelos sentidos, logo, antes mesmo de saber o objeto, pelas suas categorias, se pode antecipar o seu conhecimento pelo que está já gravado nos sentidos desde o primeiro contato. O filosófo inglês defende o quanto errôneo é este tipo de afirmação, pois esta analise dá credibilidade aos ídolos que consiste nos erros de conhecimento e contaminação do verdadeiro saber através dos manipuláveis sentidos. No Novum Organum, ele ainda salienta sobre a maneira que estas formas de antecipação prejudicaram a mente humana ao afirmar que “Por isso, a razão humana não é mais do que um amontoado e uma miscelânea, feita de muita credulidade, também de muito acaso, sem contar já com as noções pueris com que primitivamente fomos penetrados”[5].

Os ídola fazem parte da análise de Bacon para que constituição do seu método científico possa atingir seu objetivo, uma vez eliminados pode-se construir um caminho de conhecimento puro e “tornar os homens conscientes das falsas noções que congestionam a sua mente e barram-lhe o caminho para a verdade” (REALE, 1990. p. 337.).

Os ídolos são compreendidos como quatro: O Ídola tribos, que representam a tendência humana a viver em abstrações e paixões naturais do fluxo do tempo que gera apego e rudeza dos sentidos[6], O Ídola specus, que versa sobre a natureza própria de cada indivíduo e a maneira em que foi educado e influenciado nas diversas circunstâncias e conversações durante a vida e formação[7]. Outro é o Ídola fori são os homens de alto domínio do ensino que creem estarem com pleno domínio da razão, porém isto atrapalha as investigações ao considerar seu entendimento como dogmático e investirem em sofisticas e resistências ao processo de observação e relatoria dos fenômenos e seus possíveis resultados[8]. Por conseguinte, há o Ídola Theatri que consiste em fabulações que de forma secreta atinge o entendimento humano e perverte qualquer habilidade de demonstração, regras ou limites, como exemplo a religião que somente se preocupou nas realidades metafísicas de Deus sob a teologia[9].

Uma vez que o método científico retira esses ídolos a construção de novos entendimentos pelos métodos com base na observação direta e na experimentação se tornam possíveis, pois esse processo garantiria extinguir os vícios mentais e alcançar o conhecimento genuíno. Assim, disserta Francis Bacon sobre o método “o homem ministro intérprete da natureza, só alarga as suas ações e os seus conhecimentos quando as suas observações das coisas ou do espírito se prendem à natureza; nada mais sabe e nada mais pode”[10], e continua “são a mesma coisa a ciência e o poder humanos, pois a ignorância da causa priva do efeito. Só se triunfa sobre a natureza obedecendo lhe e aquilo que na especulação é dado como causa assume o papel de regra na operação”[11].

O filósofo Francis Bacon deixa uma herança inestimável para a ciência moderna e atinge os nossos dias com o impacto da interpretação da natureza e os diversos ensinos que foram propostos neste artigo. O movimento de saber e conhecer o mundo nos faz ser esses bons homens que, livres dos vícios do intelecto, tem o dever de transformar e aperfeiçoar aquilo que é o nosso e para o nosso próprio bem, uma lição da filosofia deste inglês vivente do mundo voltado a produção industrial.

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Autor: Pedro Igor Farias Rodrigues, estudante do 2º ano do Curso de Filosofia da FASBAM.

REFERÊNCIAS

REALE, Giovanni. História da filosofia: Do Humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 1990.

BACON, Francis. Novum Organum. Porto-Portugal: Rés, 1991.

REALE, Giovanni. ANTISERI, Dário. História da Filosofia Pagã Antiga. São Paulo: Paulus, 2003.

[1] REALE, Giovanni. História da filosofia: Do Humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 1990. p. 324.

[2] BACON, Francis. Novum Organum. Porto-Portugal: Rés, 1991. p. 80.

[3] Op. cit. p. 334.

[4] REALE, Giovanni. ANTISERI, Dário. História da Filosofia Pagã Antiga. São Paulo: Paulus, 2003. p. 261.

[5] Op. cit. p. 81.

[6] BACON, 1991. P 41.

[7] Ibid. p 41.

[8] ibid. p. 43.

[9] ibid. p. 45.

[10] BACON (1991), p 25.

[11] ibid. p. 26.

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