Ars Celebrandi – Revista de Liturgia é o novo periódico da FASBAM

No ano em que celebramos os sessenta anos da promulgação da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II (04/12/1963), que promoveu uma ampla e profunda reforma litúrgica do Rito Romano, a Faculdade São Basílio Magno (FASBAM) tem a alegria de presentear teólogos, estudiosos, ministros ordenados e comunidade dos fiéis com a primeira revista acadêmica de Liturgia do Brasil, a Ars Celebrandi – Revista de Liturgia (clique aqui para acessar a revista gratuitamente).

Com artigos de especialistas e de estudiosos da teologia, espiritualidade e prática pastoral litúrgicas, a Ars Celebrandi – Revista de Liturgia pretende ser um espaço propício e fecundo para a reflexão acadêmica em torno da arte de celebrar.

A Liturgia é “a meta para a qual se encaminha toda a ação da Igreja e a fonte de onde promana sua força” (SC, 10), é o exercício do sacerdócio de Jesus Cristo (cf. SC, 7), onde Deus é plenamente glorificado e o homem é santificado (cf. SC, 10), é ação eclesial que não se iguala em grandeza por nenhuma outra atividade da Igreja (cf. SC, 7). Por conseguinte, é indispensável uma sólida, consistente e rigorosa reflexão teológica a respeito da natureza da Liturgia e de sua imprescindível função pastoral, a fim de propiciar e promover uma ativa, consciente e plena participação celebrativa que é direito e dever do Povo de Deus (cf. SC, 14).

Ars Celebrandi – Revista de Liturgia, que ora apresentamos, inscreve-se, ainda, em um amplo e profícuo contexto para a reflexão litúrgica. Há um ano foi publicada a Carta Apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco, a respeito da formação litúrgica do Povo de Deus, como um insistente convite a “contemplar a beleza e a verdade da celebração cristã” (DD, 1). Neste ano, foi aprovada, para o Brasil, a Terceira Edição do Missal Romano, que logo chegará às nossas comunidades com um renovado desejo da Igreja de redescoberta do precioso tesouro que se encerra na Celebração Eucarística como memorial da Páscoa do Senhor, cuidadosamente conservado e transmitido pela Tradição. O Missal Romano que agora recebemos é testemunha da arte de celebrar ao longo dos tempos e da fidelidade eclesial ao mandato do Senhor: “Fazei isto em memória de mim”.

Momento privilegiado vive a Igreja, ademais, no caminho sinodal que está percorrendo, desde a fase diocesana e nacional, despontando, agora, na assembleia geral em Roma. Em busca da comunhão, da unidade, do caminhar juntos e da escuta mútua do Espírito. Como ensina o Papa Francisco, este caminho só estará completo quando “todos os homens, ‘de todas as tribos, línguas, povos e nações’ (Ap 5,9) comerem o seu Corpo e beberem o seu Sangue: por isso aquela mesma Ceia se tornará presente, até ao seu regresso, na celebração da Eucaristia” (DD, 4).

Pensando, pois, nestes diferentes enfoques, Ars Celebrandi – Revista de Liturgia, em seu primeiro número, apresenta estudos comemorativos relacionados aos sessenta anos de Sacrosanctum Concilium, de Desiderio Desideravi e da contribuição da iconografia para o espaço litúrgico e para as temáticas da comunhão e da sinodalidade. Deste modo:

Primeiramente, dois artigos versam sobre a Carta Apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco. O primeiro artigo se intitula: A Formação Litúrgica do Povo de Deus: um desafio reproposto pelo Papa Francisco na Carta Apostólica Desiderio Desideravi. Tem como autor Gutemberg de Albuquerque Machado e pretende refletir sobre a necessidade e os caminhos de uma autêntica formação litúrgica da comunidade cristã pela e para a Liturgia. Antes de uma formação a nível intelectual e pastoral, a formação que se pretende está no nível do fazermo-nos dóceis e sensíveis aos símbolos litúrgicos e à formação pela própria arte de celebrar.

O segundo artigo, O Sacramento da Unção dos Enfermos à luz da Carta Apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco: ênfases de uma releitura teológico-ritual-mistagógica, é de minha autoria. Neste artigo, faz-se uma releitura teológica, ritual e mistagógica da Unção dos Enfermos a partir de ênfases e perspectivas da carta apostólica pontifícia. Constitui, por isso, uma contribuição para uma vivência profunda e mistagógica deste sacramento, consolidando o caminho conciliar de redescobri-lo como sinal de vida, de cura, de salvação, de esperança e de eternidade.

O terceiro artigo tem como autor João Paulo Lourenço de Aguiar Oliveira e, como título, A valorização do lugar da Palavra no espaço litúrgico à luz do Vaticano II. Neste texto, o autor apresenta uma das principais redescobertas do concílio em relação à Sagrada Liturgia, o “lugar” da Palavra de Deus na celebração litúrgica. Trata-se não apenas de seu lugar no espaço litúrgico, o que, por si, já demonstra a grandeza e a importância de sua proclamação litúrgica equiparada a uma mesa em relação ao altar do Sacrifício. Consiste antes na redescoberta da Palavra como lugar-presença de Cristo (cf. SC, 7) e, por isso, sua abundância nos rituais, em especial, na Celebração Eucarística, seu lugar físico de proclamação e seu valor sacramental em celebrações da Palavra. De fato, “na Liturgia Deus fala ao seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho” (SC, 33).

Na esteira da revalorização do espaço litúrgico em Sacrosanctum Concilium, o quarto artigo, de autoria de Janete Barros dos Santos Gomes, tem como título: Arquitetura do Silêncio: o espaço litúrgico à luz do recolhimento. A autora discute a relação do espaço litúrgico que está, em primeiro lugar, a serviço das celebrações litúrgicas e, ao mesmo tempo, a serviço da experiência de fé. Assim, o espaço celebrativo não se encontra na ordem puramente funcional, nem, muito menos, no âmbito puramente introspectivo. Trata-se, antes, de pôr a arquitetura a serviço de uma verdadeira arte de celebrar, espiritualmente radicada na celebração cristã que conduza ao profundo do Mistério de Deus celebrado em comunidade.

O quinto artigo, intitulado, Artes visuais como ação missionária dentro e fora da Igreja, tem como autor Bruno Felipe Fachi. O seu objetivo é o de refletir a missão e a espiritualidade do artista sacro católico em relação à evangelização. O artista deve comunicar aos outros a beleza, o bem e a verdade para uma finalidade profundamente evangelizadora. Uma celebração que não evangeliza não é autêntica (cf. DD, 37), do mesmo modo se pode dizer da arte sacra e religiosa: se não evangeliza, não serve.

Na continuidade de reflexões a respeito do espaço litúrgico e da arte sacra, inscreve-se o sexto artigo, que é de autoria de Bruno Quinaud Minchilo e tem como título: O estilo gótico e a via pulchritudinis: o caminho da beleza no simbolismo e na estética luminosa da obra do abade Suger de Saint-Denis. Aqui o autor se propõe a discutir o estilo gótico em sua relação com o caminho da beleza a partir da intervenção do abade Suger de Saint-Denis na primeira igreja de estilo gótico, bem como aprofundar suas razões estéticas e simbólicas para tal. Trata-se de uma interessante e profunda reflexão a respeito do caminho da beleza que conduz a Deus na concretude de um estilo arquitetônico e artístico.

O sétimo e último artigo, da autoria de Guilherme Leonel e de Márcio Luiz Fernandes, tem como título: A escrita do ícone Trindade de Rublev: espiritualidade, sinodalidade e koinonia. A partir do estudo do mais conhecido ícone a respeito da Santíssima Trindade, os autores mergulham na espiritualidade da comunhão trinitária e na sua necessária consequência para a comunidade cristã chamada a ser sinal de Deus no mundo. Ademais, este artigo está em profunda sintonia com o caminho sinodal empreendido pela Igreja nos últimos anos e como desdobramento da eclesiologia do Vaticano II.

O presente número de Ars Celebrandi – Revista de Liturgia se conclui com uma recensão, de autoria de Marco Antônio Pensak, que discorre sobre a obra: GUARDINI, Romano. Formação litúrgica. Tradução de Christiane Meier. Curitiba: Carpintaria, 2023. Uma importante obra, citada cinco vezes pelo Papa Francisco em sua Carta Apostólica, e que influenciou grandes teólogos e liturgistas do século XX como Joseph Ratzinger e que, agora, está à disposição dos leitores de língua portuguesa.

Esta revista constitui mais um fruto maduro de múltiplos esforços da FASBAM na promoção da Liturgia a serviço da Igreja no Brasil, em especial dos cursos de especialização que já formaram centenas de alunos nas diferentes áreas litúrgicas. Agradecemos profundamente aos autores e ao Conselho Editorial e fazemos votos de que a Ars Celebrandi – Revista de Liturgia contribua proficuamente para a tão desejada revalorização da Sagrada Liturgia na vida da Igreja.

 

Pe. Antonio Eduardo Pereira Pontes Oliveira

Organizador

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo