Kant e a religião nos limites da simples razão

O estudo da religião e a sua vivência move o ser humano de tempos diversos, na busca de se compreender o fenômeno que o transcendental provoca no campo terreno. A religião, dentre as suas várias características, possui uma em especial, que é possibilidade do conhecimento de todos os deveres propostos ao homem, configurado por meio dos mandamentos divinos. O pensamento religioso não se contraria ao pensamento racional ou filosófico, o qual numerosos estudiosos se pautaram para tecerem suas conclusões sobre religião. Entre eles enquadra-se Immanuel Kant, que por intermédio de uma doutrina ético-racional buscou elucidar o problema da religião.

Immanuel Kant, grande filósofo do século XVIII, compôs sua principal obra sobre religião no ano de 1793, sob o título “A religião nos limites da simples razão”, obra esta que culminou o denominado período crítico do autor, depois de uma série de estudos sobre a crítica da razão humana. Insta salientar que Kant, de modo geral, subsumi a religião na moral e na razão, muito pelo caráter de seu pensamento racional.

Ao forjar seu pensamento sobre religião, este se valeu do pensamento efervescente à sua época, qual seja, o deísmo, que defendia a possibilidade de se conhecer a Deus somente pela razão, sem levar em consideração a religião do coração, ao passo que a própria natureza nos levaria a conhecer a Deus.

O filósofo de Königsberg defende a ideia do reconhecimento dos deveres como sendo divinos, salvo que o conceito de dever se mostra essencial para entendermos o campo da religião, onde sua origem e fundamento encontram-se na ética.

A par da realidade ética encabeçada por Immanuel Kant, ou seja, o imperativo categórico, o problema do sentido último da realidade só pode reconhecido no campo ético, justificando-se, neste diapasão, a introdução sobre a religião no portfólio crítico de Kant, onde a lei moral conduz, através do conceito de bem supremo, à religião. Religião, segundo este entendimento seria o conhecimento de todos os deveres como mandamentos divinos.[1]

“A Religião nos limites da simples razão” cunha o pensamento filosófico kantiano de que o conceito genuíno de Deus conduz à moral, criando desse modo a chave de leitura para a compreensão apurada da referida obra e do contexto histórico ao qual influenciou a vida do autor e a construção de seu ideal crítico.

A seu turno, esta importante obra trata, em suma, de quatro aspectos principais, divididos em quatro partes, ao passo que na primeira Kant apresenta do problema do mal radical, na segunda busca guiar-se na vida e obra de Jesus Cristo, sem citar-lhe o nome, na terceira, infere sobre a construção da Igreja invisível, aos moldes de um estado-ético-virtuoso e quarto na crítica da Igreja organizada como instituição e a sua prescrição ritual.

Para o autor, em uma das reflexões abordadas sobre o tema em tela, “sentimentos não são conhecimentos e não indicam, portanto, mistérios e como o mistério se relaciona com a razão sem poder, no entanto, ser comunicado a todos, cada um só tem que procurá-lo (se realmente nela subsistir) em sua própria razão.”[2] Pela veemência da razão prática, a verdadeira fé religiosa universal é a fé em Deus, criador todo poderoso do céu de da terra, ou seja, sob o ponto de vista moral enquanto legislador sagrado, conservador do gênero humano, enquanto seu soberano benevolente e seu protetor moral e por derradeiro juiz íntegro, administrador de suas próprias leis santas.[3]

Portanto, Kant considera a religião como sendo ética e racional, pois, por meio da razão, diretriz primaz do agir moral, as nossas ações podem ser tomadas sob usufruto total de nossa liberdade, obrigando-nos a cumprir nossos deveres. Nisto, o referido filósofo destaca que a religião se entende no conhecimento de todos os deveres sendo como os próprios mandamentos divinos, do Deus Sumo Bem, importando reconhecer que este subsumi a religião a moral e a razão. A reflexão sobre o referido tema conduz a interiorização da fundamentação da fé, mediante o delineamento firmado na razão do pensamento humano, tão presente no pensamento kantiano, que perpassa o seu crítico itinerário filosófico.

 

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Por: Fr. Bruno Coelho Gonçalves, SAC, aluno do 3º de Filosofia da FASBAM (2022)

 

REFERÊNCIAS

KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. Tradução: Ciro Mioranza. 1. ed. São Paulo: Lafonte, 2017.

 

ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. 8ª ed. São Paulo: Paulus, 2010.

[1] ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. 8ª ed. São Paulo: Paulus, 2010, p. 56.

[2] KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. Tradução: Ciro Mioranza. 1. ed. São Paulo: Lafonte, 2017, p. 131.

[3] KANT. Op. cit., p. 133.

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