A ética para Chesterton em seu primeiro momento foi ferida por consequências ideais e profecias falsas. Como já destacamos, a ética propriamente dita não fere e nem se incide em si mesmo, pelo contrário, ela nos revela aquilo que é claro, limpo e justo para todos os homens. Há, portanto, um grave problema que leva Chesterton a enxergar e a perceber o quão ele foi enganado, não apenas ele, mais um vasto número de pessoas em que todos poderiam perder seus ideais originais, porém, aquilo que seria uma passagem para luz é, na verdade, um escamoteamento da escuridão. Por isso, quando somos crianças acreditamos em várias coisas das quais nos parece verdade, entretanto, a pura inocência acaba aderindo aos ideais da política pragmática.
Chesterton não tem vergonha de afirmar de modo direto que aquilo que ele perdeu foi a sua fé antiga e infantil na política pragmática, pois, o passado diz que irá ser confortável quando, na verdade, o futuro apresenta o oposto, ademais, o jovem acredita nestes ideais, mas o passado que bate em sua porta com objetivo de relembrá-lo de como era tão inocente e cheio de mentiras. Por isso, Chesterton chama de fraude, pois, era uma centração na realidade lunática. Ora, a própria explicação de Chesterton nos diz respeito de quanto a sanidade mental deve ser sólida, visto que, sua concepção de democracia – como meio de combater a política pragmática – se define como em coisas comuns “a todos os homens são mais importantes que as peculiares a um só homem”.[1] Depois, o homem deve fazer as coisas comuns mesmo que venham a fazê-la mal, façam com tranquilidade como escrever uma carta de amor ou assoar seu próprio nariz. Chesterton nos é centrando em colocar que a democracia é uma fidelidade inquebrantável a qual o homem deve participar das maiores glórias como das maiores tremendas e coisas terríveis onde o homem deve abraçar e alçar.
Ora, Chesterton apresenta de maneira muito humorístico de sua parte onde o país das fadas e toda sua doutrina é sua filosofia[2], entretanto, devemos observar que sua crítica à política pragmática percorre essa linha filosófica-mítica. Por isso, o próprio Chesterton diz uma frase lapidar onde crer com certeza inquebrantável, foi ensinada durante a sua infância ou mais especificamente, em seu berço. Neste sentido, será mais fácil acreditar nos contos de fadas do que na política inglesa. Em teoria, os contos de fadas podem ser chamados fantásticas, porém, aquilo que é chamado moral e ética são mais fantasiosas do que à terra dos elfos, isto é, a ética se apresenta com mais visibilidade, respeito e racionalidade no mundo dos elfos do que na terra onde os homens perderam sua doutrina, sua moral e principalmente perderam seu rumo, o homem perdeu-se e buscar enganar o seu semelhante enquanto continua a enganar-se a si mesmo.
A terra dos elfos é simplesmente uma terra a qual o senso comum é atingido pela luz do sol. Quando criança aprendemos as coisas antes de conhecê-las em nossas mãos, destarte, não é a terra que julga o céu e sim o céu que julga a terra. Chesterton com seu senso comum, nos pondera com clareza que o pé de feijão mágico é antes de tudo um conhecimento mágico, a qual guia-nos para o conhecimento ou provar que de fato o feijão existe. Conhecemos pela simplicidade e dessa, observamos o quão os egípcios e gregos usaram da natureza para provar a verdade, ou seja, o uso da natureza era o fundamento de explicar os fenômenos, entretanto, os modernos abandonaram e excluíram este conhecimento, e negaram que os antigos apreciavam a Natureza, pelo fato de os antigos crerem que ela é divina.
Eis a peculiar doutrina do berço e do tom das verdadeiras lendas da infância. Devemos observar a cada instante que, o Sr. Chesterton não quer apenas nos fazer rir a ponto de olharmos para os atos cometidos erroneamente para acabarmos crendo no país da fada, mas antes tudo apresentar a todos o quanto ela tem sua filosofia, tem sua doutrina mítica e principalmente o quanto ela é lógica. Em função disso, a palavra lei é evitada no país das fadas, enquanto na terra da ciência existe uma demasiada reverência por ela. Dado, então a isto, a lei exige um conhecimento cauteloso, em seu primeiro lugar quanto no seu fim, ora, sem delonga, Chesterton é pomposo e direto em afirmar que se existe uma lei é necessário um conhecimento da “natureza da generalização e de sua realização; e não simplesmente que notamos alguns de seus efeitos.”[3]
Este grandíloquo espanto é, no entanto, um óbvio fundamento racional onde o homem deve antes de tudo analisar o que do fato ele está fazendo, isso prova com que intensidade o homem científico é, na verdade, comumente um ser humano sentimental, ou seja, ele abandona e corre, ou melhor dito, ele é levado a simples associação de que pássaros voam, constroem seus ninhos e colocam seus ovos, em resumo, ele pode acreditar que existe uma conexão ardente com seus ideais quando, na verdade, não existe nenhuma conexão. Há, portanto, a falta do autoconhecimento onde o homem esqueceu seu próprio nome. Chesterton então acentua com a seguinte expressão portentosa:
Todos lemos em livros científicos e em todos os romances a estória do homem que esqueceu seu nome. Ele perambula pelas ruas e pode tudo a ver e apreciar; somente não pode lembrar quem é. Todos nós somos o homem dessa estória. Todos esquecemos o que somos. É possível compreender o cosmos, mas nunca o ego; o eu é mais distante que qualquer estrela. Amarás o Senhor teu Deus, mas não conhecerás a ti mesmo. Todos padecemos da mesma calamidade mental; esquecemos nossos nomes e o que realmente somos.[4]
Por mais que esquecemos nossos nomes, ainda assim sabemos que existe um vasto lugar neste universo complexo que há uma casa que nos espera.[5] É um verdadeiro espanto acreditar em fadas, é um verdadeiro espanto vagar pelo mundo e esquecer quem sou, é ainda mais espantoso, conhecer e ver tão próximo o universo e ver o eu mais distante que uma estrela. Entretanto, o espanto é a causa da filosofia[6], pois, a partir do espanto torna-se uma oportunidade mirífica.
A cognoscibilidade que o Sr. G. K. Chesterton nos expõe, traz de fato, uma fida defesa dos contos de fada, porém, podemos observar a ridicularização que bateu em sua porta tantas vezes, principalmente quando ele próprio teve que enxergar que o mundo estava errado e sua babá certa. O grande exemplo ético que Chesterton apresenta a todos, consiste na fidelidade a uma mulher. Ora, o homem deve amá-la e respeitá-la até o fim de sua vida, podemos aderir a sua concepção, pois, não é nada ético e nem moral e nem mesmo digno de abraçarmos a poligamia. O mundo se tornou selvagem e espantoso, não em seu sentido filosófico a qual os homens podem descobrir, ou melhor, retirar os panos do universo, mas um espanto da perdição sem saber para donde vai e quando irá chegar.
Em síntese, Chesterton faz uma belíssima recapitulação da construção de sua ética. Em primeiro lugar, o mundo não se explicava, o mundo pode ser explicado de maneira natural sem a rejeição de sua divindade, como foi para os egípcios e gregos, ou ainda, ela pode partir da magia, donde ela seja falsa ou verídica. Em segundo lugar, ela deve ter um sentido, como a arte tem sentido para o artista. Em terceiro lugar, ela deve ter uma intenção reta. Em quarto lugar, devemos obedecer, ser grato, pois a felicidade é o teste de toda gratidão. Por fim, em quinto, devemos salvaguardar o bem universal mesmo diante das ruínas do mundo. Contudo, a ética das fadas tem seu milênio doutrinal na reta intenção e intelectual, enquanto o mundo moderno a enterrou, e a mesma ética dos contos de fada educam o ser humano em seu âmbito moral e intelectual.
Autor: Fr. Phaulo Rycardo Souza Guilhon, SAC. Aluno do 3º ano de Filosofia na FASBAM (2022)
REFERÊNCIAS
CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. 2 ed. Campinas: Editora Ecclesiae, 2018.
CHESTERTON, G. K. O que há de errado com o mundo. 2 ed. Campinas: Editora Ecclesiae, 2019.
[1] Cf. CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. 2 ed. Campinas: Editora Ecclesiae, 2018.p. 58.
[2] Os termos usados pelo Sr. Chesterton podem parecer para o ledor uma visão infantil e muito fantasiosa, que, aliás, ele usa da fantasia, imaginação para apresentar o real. Existe uma sensibilidade e um cultura do senso comum. Em suma, consiste em sua ética e filosofia, não sua filosofia em totalidade, mas uma parte importante da qual é tão óbvia.
[3] Ibidem. p. 64-65.
[4] Ibidem. p. 67.
[5] Em sua obra “What’s Wrong With The World” – “O que há de errado com o mundo”, Chesterton nos coloca em posição existencial em que somos errantes desde do Éden, porém, julgamos saber onde fica nossa casa, ela sempre nos espera. (Cf. CHESTERTON, G. K. O que há de errado com o mundo. 2 ed. Campinas: Editora Ecclesiae, 2019.p. 68).
[6] Afirmo causa da filosofia tratando da ideia de que os primeiros filósofos não apenas usaram de sua acuidade visual para mundo, como para si mesmo, neste sentido, afirmo que o espanto do universo é a chave para entender o meu “eu” no mundo e ainda, qual sua teleologia.