O ícone é pintado em oração e para a oração. Para entender e captar o sentido de um ícone é preciso contemplá-lo em oração. Quem somente observa um ícone, entende-o apenas como obra de arte. É preciso aprender a contemplar um ícone. “Contemplar” quer dizer “olhar em profundidade”. O primeiro passo na contemplação é a concentração do olhar no ícone; para esse fim é colocada diante do ícone uma lâmpada, sinal da luz divina. A concentração leva ao silêncio interior. Quando fixamos o olhar no ícone, vemos a personagem ou grupo de personagens. No entanto, para distinguir quem é representado ou que acontecimento é retratado, há uma inscrição sobre o ícone, que traz o nome da pessoa divinizada ou o nome da festa.
A pessoa de Cristo é representada nos ícones por meio de certos traços característicos. Um deles é a auréola em forma de cruz em torno da cabeça de Cristo: na auréola vem a inscrição grega hó Ón (ό ών), que significa “Aquele que é” (“Sou Aquele que é”). Cristo é representado vestido numa túnica vermelha, sobre a qual vem um manto azul. A cor vermelha da túnica representa a natureza divina de Cristo, que na encarnação se revestiu da natureza humana, simbolizada pela cor azul do manto. Nos ícones da Transfiguração, da Ressurreição, Ascensão, do Último Juízo, e também nas imagens do Menino Jesus nos ícones da Mãe de Deus, as vestes de Cristo são representadas nas cores dourada e branca, que simbolizam a natureza divina e a natureza humana glorificada em Cristo.
A Mãe de Deus é representada nos ícones com um véu que lhe cobre a cabeça e desce até os ombros (em grego maforion) que é símbolo da plenitude da graça que Deus lhe concedeu. O véu desce sobre uma túnica azul, símbolo de sua humanidade. Nos ombros e na cabeça da Mãe de Deus estão três estrelas douradas, simbolizando a virgindade da Mãe de Deus: Ela é Virgem “antes do parto, no parto e após o parto”[1].
Nos ícones de santos a luz da presença de Deus é representada pela cor dourada do fundo do ícone e das vestes: é o símbolo da graça de Deus que envolve e impregna toda a pessoa. Dessa maneira, da contemplação dos símbolos e sinais nos elevamos para a contemplação das pessoas, retratadas no ícone. A oração perante o ícone é uma relação de comunhão com a pessoa nele representada, o que manifestamos principalmente com o sinal da cruz, pelo incensamento e beijando o ícone.
Por meio do ícone, Deus dirige-se ao homem, manifesta a sua vocação e o chama para partilhar da sua vida divina. “Ver” a Deus que do ícone olha para nós é o grande dom de Deus, a manifestação do “céu na terra”. “Vendo” Deus no ícone, nos tornamos capazes de vê-lo também no nosso próximo.
[1] Cf. Octoico, melodia 7, teotóquio da ressurreição.
Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 592-596.