Fé e Razão em Leibniz

Dento do contexto histórico sobre o termo Teodiceia, em que onde encontra o discurso da fé com a razão, é importante notarmos que foi um marco forjado de duas palavras gregas Théos (Deus) e Díke (Justiça), com estas duas palavras tornar-se uma monolítica do próprio termo usado por Leibniz.[1] Com a compilação das duas palavras gregas, a Teodiceia pretende a nos atinar as divinas perfeições do Criador, principalmente a bondade e justiça, a qual são uma das palavras que o autor mais usa para defender e considera como doutrina da justiça de Deus. Além do termo, apresentar caraterística de defesa, trata-se de uma obra explicativa, dando desse modo, o complemento do nome de “Ensaios sobre a Bondade de Deus, a Liberdade do homem e a Origem do mal”.

Dado a isso, respeitando a idiossincrasia de Leibniz, não é o primeiro nem propriamente dito, o último a empenhar-se em harmonizar a sabedoria, a bondade e a onipotência de Deus com a existência do mal no mundo. Este empenho começa a partir de uma longa tradição iniciada por Platão, Agostinho e os medievais, contendo também os de sua época. A obra Teodiceia trabalha com linhas mediante em levar ao homem uma consciente compreensão sobre a bondade de Deus, não apenas isso, mas levar ao ser criado a uma reflexão daquilo que é dom, onde não se pode criar um antagonismo com as coisas criadas e dadas pelo Sumo Bem. Para Leibniz, existem aqueles devidos critérios prévios à criação do universo incluindo mais a doutrina metafisica dos possíveis ao seu objeto em justapor com a bondade Deus.[2]

Para resolvermos esse assunto do discurso entre fé e razão, será necessária toda dignidade, porém, muita das vezes desagradável, a qual devo dizer que são objeções da parte de alguns pensadores, anterior e posterior a Leibniz. Ora, estes pensadores que não merecem ser citados no momento, não podem empreender uma guerra entre essas duas fontes essenciais para o desenvolvimento do homem. Este discurso tem por recurso, duas verdades que são unidas, filosofia e teologia. De modo direto e claro, Leibniz, não ver de modo algum uma confusão entre ambas, mas sim duas verdades que se entrelaçam sem perder sua originalidade. Ele julga que duas verdades não poderiam se contradizer, pelo contrário, elas são e se formam uma única verdade.

A razão, que tem como consistência o encadeamento das verdades, tem por responsabilidade um laço com a experiência, ou seja, a experiência que fornece a chegar em determinadas conclusões. Leibniz, fala sobre a ratio pure et nue – razão pura e simples – esta razão se distingue da própria experiência, em que ela se ocupa de modo peculiar a uma independência dos sentidos. Enquanto fé, tem uma dependência da experiência, isto é, dos sinais e milagres que foram revelados e está fundamentada na tradição da crença, nas Escrituras, e todos os relatos que foram oferecidos a todos os crentes.[3]

Seria conveniente fazer uma breve posição sobre a razão e suas duas compreensões. Ora, Leibniz, nos propõe que elas são de dois tipos de verdade. A primeira a ser apresentado, consiste nas verdades eternas, a qual existe uma extrema e importância necessidade, neste sentido, ela tem como base, ou melhor dito, cuja necessidade é a própria lógica, metafísica ou geometria. A segunda que merece total destaque, trata-se de positivas. Leibniz, aborda que esta incide nas leis que agradou a Deus dar à natureza, ou simplesmente porque elas têm sua totalidade dependência.[4] Deus sendo superior a tudo, Leibniz, destaca que existem milagres que o Criador realizou pelo ministério dos anjos, em que as leis da própria natureza não foram violadas.  Ora, os anjos não há modificação pelo simples fato – ou talvez não seja nada simples – em que a causa do grau de perfeição que eles têm não deturba.

A cognoscibilidade que o filósofo alemão nos expõe, traz de fato, uma constante defesa da fé e da razão, sem tão pouco ridicularizar alguma delas. Leibniz, fundamenta que tudo aquilo que por alguma ocasião se torna contra a razão – de maneira muito radical da própria palavra – tem por vez uma radicalidade impregnada em supostas razões a qual são corrompidas e enganadas pelas famosas falácias imagináveis. Entretanto, esta pequena confusão que ganha força, tem por consequências vários atributos negativos, dentre o principal refere-se ao homem, presentemente, é mais fácil falar da bondade e justiça de Deus, de sua sabedoria e de suas propriedades infinitas, do que falar do homem.[5]

O fato de ocorrer a essas confusões, há geralmente algumas expressões que alguns associam filosofia e teologia, isto é, fé e razão; explicar, compreender, provar, sustentar, neste aspecto, existem suposições das expressões que se confundem em sua característica de associação. Leibniz, é cauteloso em argumentar a relação, porém, deixa claro aonde quer chegar. Por isso então, que ele salienta meios para não se confundir mais. A questão de explicar e compreender em relação aos mistérios não significam a mesma coisa, ora, explicar exige uma necessidade, que consiste numa simplicidade e qual muitos vejam como uma grande complexidade, ou seja, acreditar, esta é a necessidade. Enquanto, compreender, não seja ao seu ápice, é nesse sentido que ele nos pondera: “em física nós explicamos até certo ponto muitas qualidades sensíveis, mas de uma maneira imperfeita, pois, não as compreendemos.”[6]

Portanto, a problemática da fé com a razão não é tão pouco um assunto que passa despercebido ou até descuido pelos filósofos, mas pelo contrário, é um assunto – como já foi deixado claro – pertinente que merece ainda total reverência e acuidade visual para se chegar a uma conclusão exata, porém, até uma conclusão exata necessita de contribuições contrarias, a qual possam colocá-las a prova de sua concordância. Em virtudes do que foi proporcionado, é de súmula importância elucidar e guiar aos leitores a uma percepção do que seja o acordo da fé com a razão.

 

Autor: Fr. Phaulo Rycardo Souza Guilhon, SAC, estudante do 2° ano de Filosofia na FASBAM (2021).

 

Referência: LEIBNIZ. G. W. Ensaios de Teodiceia sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal. Trad: William Siqueira Piaui, Juliana Cecci Silva. 2 ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2017

 

[1] Cf. LEIBNIZ. G. W. Ensaios de Teodiceia sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal. Trad: William Siqueira Piaui, Juliana Cecci Silva. 2 ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2017. p. 11.

[2] Cf. Ibidem. 12-13.

[3] Cf. LEIBNIZ. G. W. Ensaios de Teodiceia sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal. Trad: William Siqueira Piaui, Juliana Cecci Silva. 2 ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2017. p. 73.

[4] Ibidem. 74-75.

[5] Ibidem.

[6] Ibidem. 76.

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