A Solenidade da Imaculada Conceição nas Igrejas Orientais | Série: Conheça o seu Rito

Embora as Igrejas Ortodoxas Orientais não aceitem formalmente o dogma da Imaculada Conceição, mesmo assim, em prática elas, também, acreditam e professam este dogma. Uma procissão inteira dos santos Padres da Igreja Oriental, iniciado com santo Efrém, o Sírio, quer aludir ou expressar explicitamente sua fé na Imaculada Conceição da Santíssima Mãe de Deus. Em seus Hinos Nisibenos, santo Efrém, o Sírio, diz: “Vós, Senhor, e vossa Mãe, sois somente santos em todos os aspectos, pois não há nem em Vós, Senhor, nem em Vossa Mãe, qualquer mancha de pecado”. A fé na Imaculada Conceição é revelada na doutrina de são Sofrônio de Jerusalém, são Germano, patriarca de Constantinopla, e são João Damasceno. O último, em seu sermão sobre a Dormição da Mãe de Deus, diz: “Vosso imaculado corpo que foi preservado de toda mancha não permaneceu na terra”. Nos nossos serviços nós temos inúmeras expressões pertencentes a imaculabilidade e santidade total da Mãe de Deus. Uma oração muito bela à Mãe de Deus que conclui o serviço do Pequeno Noturno, atribuída a santo Efrém, inicia com as palavras: “Imaculada, puríssima e santíssima Virgem, Soberana Esposa Divina…”.

Toda uma gama de teólogos ucranianos da Escola Kyivense dos séculos XVII e XVIII pensou e defendeu a doutrina da Imaculada Conceição. Lazar Baranovych (m. 1694), que foi reitor da Academia Mohyla de Kyiv e posteriormente bispo de Chernihiv, disse: “nós todos podemos verdadeiramente dizer: ‘Pois eis que na culpa eu nasci; no pecado minha mãe me concebeu’. Mas vós sois a única a quem estas palavras não se aplicam, pois vós não fostes concebidas no pecado e nem nascestes em culpa. Era claramente imperativo que vós fostes concebidas sem pecado, pois vós tivestes que O receber, que era para livrar o mundo do pecado e destruir toda a iniquidade”[1]. Yoanikiy Galiatowskyy (m. 1968), reitor da Academia Mohyla de Kyiv, em seu segundo sermão sobre a Natividade da Puríssima Virgem Maria, recordando suas várias prefigurações no Antigo Testamento e comentando sobre os seus privilégios, diz: “o terceiro grande privilégio que Deus concedeu sobre a Puríssima Virgem é que Ele a preservou do pecado original, pois a Puríssima Virgem Maria foi concebida e nasceu sem o pecado original… sobre a alma da Puríssima Virgem não há pecado original, mas a graça de Deus. Por esta razão, o anjo Gabriel a disse: “Salve, cheia de graça, o Senhor é convosco”. Estas palavras do anjo nos possibilitam entender a imaculada concepção da Puríssima Virgem. Quando uma vasilha está cheia de óleo, nada pode ser adicionada a ela, nem água, nem qualquer outra coisa, pois simplesmente não há espaço. Assim, também, na Puríssima Virgem não há qualquer espaço para o pecado original ou para qualquer outro tipo de pecado, pois ela é cheia de graça de Deus”[2].

No Capítulo de Zhyrovyci, 1661, a Ordem Basiliana decidiu estender por toda a ordem a celebração da solenidade da Imaculada Conceição para oito dias ao invés de um. Esta decisão foi tomada em ação de graças à Santíssima Mãe de Deus por sua especial proteção da Igreja Uniata.

A Igreja Católica Ucraniana na Galícia, após a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, começou a chamar a solenidade da Concepção de Santa Ana de “A Imaculada Conceição da Santíssima Mãe de Deus”. O Sínodo de Lviv (1891) colocou a solenidade da Imaculada Conceição entre as solenidades Marianas e determino que ela fosse celebrada posteriormente da mesma maneira das grandes solenidades Marianas, isto é, com um dia de pré-solenidade e sete dias de pós-solenidade. O Sínodo também aprovou o serviço da Imaculada Conceição, que foi composto pelo Pe. Isidoro Dolnytsky, e enviado para ser usado em todas as igrejas. O antigo serviço da Concepção de Santa Ana foi colocado na pré-solenidade da Imaculada Conceição.

Quão maravilhosamente Deus a preparou para ser a Mãe de nosso Salvador. Ela – cheia de graça, santa, puríssima e imaculada – tornou-se o digno tabernáculo no qual o Filho de Deus morou. Nosso antigo Prólogo eslavo contém a seguinte instrução para a solenidade da Concepção de Santa Ana: “amados, hoje é o início de nossa salvação. No ventre da justa Ana, após a anunciação do anjo, a neta do justo Jesse, da linhagem de Davi, é concebida… E sabeis, amados, que hoje nós estamos celebrando a Concepção de nossa Senhora, a Puríssima Soberana – a Portadora de Deus, a Mãe de Deus. Por isso, apressemo-nos para a sua igreja com alegria e permanecemo-nos em maravilhosa oração; com uma vigília vamos abrir as portas da câmara celestial, e vamos nos embelezar com oração, esmolas e jejum. Assim vamos celebrar a santa Concepção da Puríssima Senhora, a Mãe de Deus, devotamente e com alegria, pois Ela incessantemente roga ao seu Filho e nosso Deus por nós”.

[1] BARANOVYCH, Lazar. Sermões para as grandes Solenidades.

[2] GALIATOWSKYY, Yoanikiy. Chave para o Entendimento.

Fonte: KATRIY, Yulian Yakiv. Conheça o seu rito: o ano litúrgico da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Roma: PP. Basiliani, 1982.

Pe. Yulian Yakiv Katriy, OSBM
(1912 - 2000) Doutor em Filosofia e autor de diversos livros.

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