A Solenidade do Santo Hieromártir Josafat | Série: Conheça o seu Rito

“Santo bispo e mártir Josafat, foste um luminoso luzeiro, pois, como bom pastor, entregaste a tua vida pelas tuas ovelhas…”

(Tropário da Solenidade).

A solenidade de são Josafat, hieromártir, é especialmente querida, glorificada e cheia de alegria para os fiéis da Igreja Greco-Católica Ucraniana porque ela é a solenidade de um santo ucraniano, nosso irmão que é da nossa carne e dos nossos ossos; é a solenidade de um grande apóstolo e mártir pela santa fé e a unidade das Igrejas.

Não apenas nossa própria Igreja Greco-Católica Ucraniana, mas toda a Igreja Católica venera, louva, e roga a são Josafat bem como constrói igrejas em sua honra. Suas relíquias estão conservadas no centro do mundo católico – na Basílica de São Pedro, em Roma. São Josafat é o primeiro santo ucraniano que foi canonizado pela Igreja Católica. É devido a ele e ao seu martírio que hoje nós professamos a verdadeira fé cristã e somos membros da verdadeira Igreja de Cristo.

Nós não pretendemos aqui relembrar a história de sua vida, canonização ou culto, mas, ao invés, examinar as principais características de sua personalidade e caráter pelas quais a santa Igreja o canonizou e o listou entre os santos mártires. Nós podemos caracterizar a pessoa de são Josafat em três palavras: ele foi santo, ele foi um apóstolo, e ele foi um mártir.

São Josafat – Santo Canonizado

Nos céus existem milhares e milhares de santos anônimos. Contudo, existem muitos outros santos que, durante a sua vida terrena, foram distinguidos por sua santidade e amor heroico a Deus e ao próximo, e a quem o Senhor Deus glorificou após a sua morte. Estes, a santa Igreja elevou aos altares dos santos e orientou que eles fossem venerados. Estes são os santos canonizados, e são Josafat é um deles.

São Josafat seguiu sobre o caminho da santidade enquanto ainda era um menino, desde o momento que uma centelha de amor caiu de um crucifixo sobre seu inocente e jovem coração. Esta centelha nunca foi extinguida, mas ao longo dos anos se inflamou em um grande fogo do amor a Deus e ao próximo. O desejo pela santidade o conduziu a entrar no mosteiro da Ordem de São Basílio Magno, em Vilnius. Neste lugar ele rapidamente cresceu em santidade pelo amor à oração e a meditação, por meio de vários atos penitenciais, e por meio de seu amor ao Ofício Divino que ele logo guardou na memória. Ali ele se debruçou em livros litúrgicos que continuamente colocavam um exemplo dos santos e mártires diante de seus olhos. A partir destes livros, ele aprendeu sobre santidade, e adquiriu um conhecimento de nossa fé e grande amor pelo nosso Rito e serviços litúrgicos. De todas as práticas espirituais, ele ama a Divina Liturgia mais que todos. Como um monge, ele alegremente assistia à Liturgia, e após, como padre e bispo, ele a oferecia com devoção angélica. Aos pés de Cristo Eucarístico, ele rezava por horas completas e, às vezes, por grande parte da noite.

Como padre e, após, como bispo, ele mesmo ardia como uma vela no serviço a Deus e ao próximo. O seu espírito de zelo e sacrifício para a glória de Deus e pela salvação das almas era grandemente admirado por seus coirmãos, amigos, e até mesmo por seus inimigos. Após a sua morte, mais de 150 testemunhas confirmaram a santidade de sua vida sob juramento. O metropolita Yosyf Veliamyn Rutskyy, notificando a Santa Sé da morte de são Josafat, escreveu em sua carta de 23 de dezembro de 1623: “entristeço-me sobre o fato de que eles fisicamente tomaram de mim aquele que era o meu braço direito… contudo, estou cheio de esperança que ele continuará a trabalhar pelo nosso benefício com tão grande força nos céus do que ele poderia fazer enquanto estava aqui na terra, porque este santo mártir deu a sua vida pela glória de Deus, pela santa união, e pela primazia da Sé Apostólica”. Alexander Tyshkevych, o juiz chefe na região Polotsk, que conhecia são Josafat durante todo o tempo de seu episcopado e mantinha conversas frequente com ele, em 1628, testemunhou sob juramento: “eu sei que o servo de Deus, Josafat, era e ainda é hoje reverenciado e honrado por todos como um santo e um grande servo de Deus”.

O testemunho mais fidedigno da santidade de são Josafat é o próprio Senhor Deus que, após a morte de Josafat, glorificou-o com milagres. Estes começaram a ocorrer imediatamente após o seu martírio. Entre os milagres excepcionais está a preservação de seu corpo que permaneceu incorruptível por muitos anos após a sua morte. Outros milagres incluem a conversão do bispo ortodoxo, Meletius Smotrytsky, que foi o responsável pela morte de são Josafat. Existem muitos outros milagres de conversões e curas, como a restauração da vista aos cegos, a cura de doença cardíaca e paralisia, e a libertação de vários perigos. Todos estes milagres foram verificados pela Igreja, e foram confirmados, sob juramento, por aqueles que foram benificiários ou testemunhas oculares destes milagres. Em 1628, o confessor de são Josafat, Pe. Gennadius Khmelnytskyj, testemunhou o seguinte: “pessoas de todos os povos vem ao seu túmulo, todos invocam sua intercessão, e por meio dele grandes graças e milagres estão sendo realizados”.

Assim sendo, não é surpresa que a santa Igreja, após conduzir muitos e estritos inquéritos sobre a vida de são Josafat, julgando-o merecedor da canonização. O papa Pio IX, em 29 de junho de 1867, inscreveu Josafat entre os santos oficialmente reconhecidos pela Igreja. “Pio, bispo, o servo dos servos de Deus…”, diz a Bula de canonização, “decreta e define que o chamado bem-aventurado Josafat, arcebispo de Polotsk, do Rito Ruteno, deve ser considerado como um santo, e inscrito no registro de santos mártires”.

São Josafat – Apóstolo de Cristo

A verdadeira santidade tem uma bela característica que a impede de se voltar sobre si mesma, exigindo antes que seja completamente amigável, nunca evitando as pessoas, mas procurando torná-las boas e santas, conduzindo outros a Cristo e sendo, para todos, um apóstolo da verdade cristã.

O amor flamejante a Deus e o zelo pela glória de Deus impulsionaram são Josafat no vórtice de incansável da atividade sacrifical de salvação do próximo. Ele era consumido por somente um desejo: levar a luz da santa fé para cada pessoa e levar a Cristo o maior número possível delas. Os meios que ele usou em seu apostolado foram a oração, a palavra viva, e o exemplo de sua vida.

Antes mesmo de são Josafat se tornar um sacerdote, ele praticava um apostolado secreto de oração, sacrifício, e penitência. Dia e noite ele rezava em sua cela monástica, na igreja, e no cemitério; ele rezava especialmente pela união das Igrejas.

Como padre e bispo, ele usava a espada de dois gumes da palavra de Deus. Seus sermões fluíam de grande convicção e das profundezas da alma; consequentemente, eles eram poderosos, convincentes e comoventes. Até mesmo os pecadores endurecidos eram incapazes de resistir a eles. A igreja estava sempre cheia quando ele pregava. “Ele pregava sobre cada dia santificado”, diz o arquipresbítero de Polotsk, Yakiv Syakonytskyy, “e além disso, sempre que possível, ele preparava um santo banquete de instrução espiritual. As suas palavras perfuravam o coração e provocavam lágrimas nos olhos”. Os seus sermões faziam com que muitas pessoas abraçassem a verdadeira fé que os seus inimigos o chamavam de “ladrão de almas”. As almas rebeldes, movidas pela graça de Deus e pelo poder de sua palavra, tornavam-se reconciliadas com Deus no Santo Sacramento da Penitência. Muitos penitentes iam a ele que, às vezes, ele despendia mais de seis horas por dia no confessionário. Além da palavra viva, ele cuidava do apostolado pela palavra impressa. Ele escreveu em defesa da santa fé e da união, e compôs um catecismo e diretrizes para os seus padres.

São Josafat não apenas cuidou de um apostolado de oração e da palavra falada e escrita, mas também de um bom exemplo. Ele praticava o que ele pregava aos outros. Até mesmo os seus inimigos não podiam nivelar qualquer aversão contra ele. O seu coração era aberto a todos e abraçava a todos com amor. Ele era sempre acessível, sempre humilde, sempre indulgente. Ele recebia os seus inimigos alegremente, perdoava-os e rezava por eles. Quando os seus inimigos o chamaram de “ladrão de almas”, ele respondia: “Deus conceda que eu roube todas as vossas almas e as leve para os céus”.

Com seu amor, ele especialmente abraçava o pobre, o inválido, o doente e os órfãos. O metropolita Rafael Korsak (m. 1640), em seus registros do processo de beatificação, escreve da misericórdia de são Josafat: “ele nunca negligenciava em dar esmola ao pobre, às viúvas, e especialmente aos órfãos. Por esta razão, todos o amavam; sempre que ele deixava a igreja em Vilnius, todas as pessoas iam às portas dela, desejando buscar consolação em suas palavras. Quando ele foi elevado da dignidade de hegúmeno do mosteiro de Vilnius para a de arcebispo de Polotsk, os pobres acompanhavam o seu guardião e pai, com grande lamento”.

São Josafat – Mártir pela Fé

São Josafat não foi apenas um grande santo e zeloso apóstolo de Cristo, mas também um mártir. Na iconografia ele é frequentemente visto segurando em suas mãos a palma do martírio pela santa fé e pela união de nossa Igreja com a Sé Apostólica de Pedro. Onde existe santidade verdadeira e zelo apostólico, aí existe também prontidão para um total auto-sacrifício, por sofrimento e morte pela santa fé. Prova disto é dada milhares de centenas de milhares de santos mártires, desde o início do Cristianismo até os nossos tempos. No martírio, todas as virtudes se manifestam em um herói cheio de dedicação, fortaleza e digno de louvor. Nós encontramos tudo isto manifestado na vida do hieromártir, são Josafat.

O seu martírio não o tomou por surpresa. Ele o desejou por muito tempo; ele falava sobre isso e se preparava. Enquanto ainda vivia, ele estava deixando pronta a sua cripta na catedral de Polotsk. O testemunho de sua morte afirmado pelo Pe. Doroteu Letsykovych, afirmou em 1628 diante da Comissão de Beatificação: “em seus sermões, conversas, cartas, ele sempre deixou conhecido o seu desejo pela morte, e sempre que possível, ele dizia que desejava nada mais do que morrer para dizer: “vós me ameaçais com a morte, mas eu vos digo: nada me fará mais feliz do que morrer por vossas mãos pela Fé católica e apostólica”.

São Josafat não apenas desejou morrer pela santa fé, mas voluntariamente foi ao encontro do sofrimento e da morte. Ele sabia que os inimigos da União em Vitebsk estavam conspirando para matá-lo, e ainda assim ele foi lá para visitação. Eles o avisaram que a morte certa o esperava se ele fosse, mas ele respondeu: “Deus conceda que eu derrame meu sangue pela ovelha perdida, que todas possam ser salvos e venham ao conhecimento da verdade, e que tendo aceitado a santa união, todos a preservem com amor mútuo”.

Após rezar durante toda a noite do dia 12 de novembro, de acordo com o antigo calendário juliano, no ano de 1623, ele entregou sua vida inocente para cumprir as palavras de Cristo: “então haverá́ um só rebanho, um só́ pastor”[1]. Ele morreu defendendo as verdades expressas no Creio: “creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica”.

Que as palavras do arcebispo-maior cardeal Yosyf, faladas na cripta de são Josafat no dia 25 de novembro de 1969[2], sejam uma inspiração para todos nós o venerarmos e imitarmos no amor da santa fé: “que são Josafat, um filho fiel da Igreja e da nação, conduza a nossa nação à vitória. Ele defendeu a união da Igreja e da nação durante toda a sua vida. Mesmo em Polotsk, Bielorrússia, ele se considerou como um ucraniano, e também convenceu os monges da Lavra de Kyiv sobre a necessidade da união da Igreja. O seu forte caráter e a sua santidade de vida heroica podem também nos encorajar e inspirar a seguirmos os seus passos, mesmo se nos for requerido o sacrifício de nossas vidas por Deus, pela Igreja e pela nação”[3].

[1] Jo 10,16.

[2] Dia de são Josafat no calendário juliano.

[3] Благовісник, V, 1-4, 1969.

Fonte: KATRIY, Yulian Yakiv. Conheça o seu rito: o ano litúrgico da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Roma: PP. Basiliani, 1982.

Pe. Yulian Yakiv Katriy, OSBM
(1912 - 2000) Doutor em Filosofia e autor de diversos livros.

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