Prof. Felipe Koller encontra Pe. Marko Rupnik, SJ, no Santuário Nacional de Aparecida

Com os trabalhos de Marko Ivan Rupnik e de sua equipe do ateliê do Centro Aletti em Aparecida, que tiveram início em agosto, deu-se a oportunidade de um encontro online entre o teólogo e artista esloveno e os membros do Grupo de Estudos Marko Ivan Rupnik, uma iniciativa do Prof. Felipe Koller em parceria com a FASBAM.

O ateliê do Centro Aletti, de Roma, é responsável pelas obras em mosaico que revestirão as quatro fachadas do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. No momento, a equipe, composta por 26 pessoas de diversas nacionalidades, trabalha na fachada norte da basílica.

O encontro com Rupnik aconteceu na noite de sábado (25/09), com a participação de cerca de 60 membros do grupo de estudos. Na ocasião, o jesuíta respondeu a algumas questões propostas pelo coordenador e por membros do grupo. A FASBAM oferece agora uma transcrição das respostas de Rupnik, que teve a ocasião de tratar de temas como memória, espaço litúrgico, beleza e discernimento.

Um tema que sempre volta nos nossos estudos é o da memória. É um tema que temos dificuldade para conseguir captar a importância dele, porque de fato nas nossas catequeses, nas nossas homilias, na forma como a nossa fé é educada, parece que não é um tema tão central assim, tão importante assim. Nessa semana, nas homilias aqui em Aparecida, Pe. Marko tocou bastante nesse tema. Eu pediria que ele compartilhasse um pouco sobre essa questão, sobre a relação entre memória e nostalgia como atitudes que são próprias da pessoa e do indivíduo respectivamente. — Felipe Koller, teólogo, São José dos Pinhais (PR)

Pe. Marko Ivan Rupnik: Nós nascemos com uma memória ligada à nossa natureza. A humanidade está marcada pela tragédia do pecado e, por isso, segundo os Padres gregos, quando um homem nasce, nasce em uma aliança de necessidade entre o eu e a própria natureza. Então, é uma memória trágica, porque é colocada na nossa natureza e o eu é sujeitado a essa memória. É uma memória que podemos chamar de descritiva, muito estática, a mesma que o homem reproduz no computador: é uma memória mecânica. Mas o eu a falseia. Nós sabemos hoje, pela medicina, que também os órgãos têm uma memória. Mas o eu, que está nessa aliança entre a minha natureza e a minha consciência de mim mesmo, falseia essa memória da natureza. Por exemplo, todo o bem que eu fiz, pouco a pouco, o engrandeço. Como os pescadores: pescaram um peixe de trinta centímetros, mas, depois de sete dias de contação de histórias, o peixe já tem um metro e meio… E, assim, também o bem que eu fiz é sempre maior. Depois, me volto para o outro e o condeno porque não é grato àquilo que eu fiz. Já o bem que o outro fez a mim, facilmente o diminuo e o esqueço. Enquanto isso, o mal que sofri, eu o engrandeço e me faço de vítima. O mal que eu fiz, o diminuo e o esqueço. Esse é o modo como o indivíduo gerencia a memória.

Nesses dias estamos trabalhando muito sobre o Êxodo, porque é o tema da fachada norte da basílica. Ali aparece a memória teológica, aliás, litúrgica, porque o problema do pecado é o esquecimento. Ninguém se recorda de que nasceu. Ninguém! Não há nada mais abstrato do que dizer a uma pessoa que ela foi criada por Deus… Se você quiser colocar uma pessoa em crise, pergunte a ela: “Você se lembra que foi criada por Deus?” Isso é abstrato. E nós não recordamos de nosso nascimento, nós temos um “vazio” na memória. Mas, no salmo 22, é descrito o nascimento de Moisés. Diz assim: “Tu me tirastes do ventre de minha mãe.” E em hebraico é muito interessante: tu me tiraste da angústia, me tirastes por meio da passagem estreita, para fora da goela”. Vejo aqui no encontro muitas mulheres: quem deu à luz, sabe do que estou falando. Então, o salmo diz: “Desde o meu nascimento, eu te conheço como meu Deus”. Porque vejam, Moisés nasceu quando não devia nascer: ele devia morrer, foi lançado no Nilo, mas sobreviveu. E não haviam parteiras por perto; era o desígnio de Deus. Por isso, Moisés tinha uma consciência, uma memória, de que desde o início era conduzido por Deus. E, quando se tratava de sair do Egito, Deus de novo disse a Moisés: “Tu conduzirás o povo para fora da passagem estreita, será um sufoco, será uma morte, mas tu o conduzirás para fora da escravidão”. E tudo ocorrerá em uma ceia, de um cordeiro, com o sangue pintado sobre a porta. E diz: “Isso será para vós uma memória perene, um rito, um memorial.” Perene! Ou seja, a vossa consciência de vós mesmos será essa memória.

Aqui nasce a grande diferença: a memória do indivíduo está ligada a ele: eu e a minha natureza, eu e a minha história. O nascimento do homem novo, a refundação do homem, a ressurreição do homem é uma memória de mim junto a Deus. Eu me recordo de como Ele me tirou da escravidão, como me tirou do jugo da morte. Então a fundação, precisamente o nascimento do homem, é um ato de memória. E aqui nasce a pessoa. A pessoa é constituída pela memória, mas por uma memória que é comunhão. Não posso ter a minha identidade senão junto ao outro, porque estou unido ao outro. E isso muda tudo, porque uma memória relacional é uma memória agápica, pascal, é memória de amor: e por isso transfigura a história.

Eu me recordo, faz tantos anos, ouvi a confissão da mãe de dois irmãos terroristas italianos, e ela me disse — não na confissão, mas depois, conversando: “A Itália não conhece os meus filhos. Eles não são assim! Não são totalmente assim!” Quem ama digere, transfigura os eventos, os episódios, os fatos, toda a história. E então, para nós, cristãos, a memória é verdadeiramente o fundamento da fé, porque é uma narração não do passado, mas daquilo que estou me tornando. Moisés devia continuamente passar pela passagem estreita e sempre o fez em virtude da memória da passagem estreita anterior. Quando estavam diante do Mar Vermelho, todos gritavam assustados. Ele não. “Nasci quando não podia, sobrevivi ao Nilo, fui tirado do Nilo, fui educado pela filha do Faraó e ela poderia ter sido morta por ter me salvado: tudo foi assim. Eu me tornarei aquilo de que me recordo, ou seja, unido sempre a Deus. Nenhum passagem estreita me matará, porque desde o ventre de minha mãe Tu és o meu Deus!” E por isso, vejam, a única “técnica” do pecado que permanece é a nostalgia.

O grande autor que eu estudava quando era jovem, Vjačeslav Ivanovič Ivanov, diz que a doença espiritual mais grave é a nostalgia. A nostalgia é o pecado que te mantém na escravidão e que gostaria que você não fosse libertado, mas que permanecesse escravo. E, por isso, na escravidão, você viveu algo de agradável à natureza, e agora isso é apresentado a você como aquela coisa bonita que agora você não tem mais. Você está em processo de libertação, mas a nostalgia te faz voltar à escravidão. Vejam, a nostalgia fecha o homem em si mesmo e nem Deus pode salvá-lo, porque se está totalmente fechado. Por isso, se me permitem, quando vocês encontrarem uma pessoa nostálgica, fiquem atentos: são pessoas muito perigosas, porque a nostalgia é o triunfo do egoísmo, é um monumento de egoísmo.

Já a memória é a força da criação, da criatividade, porque a única memória verdadeira é o amor do Pai. Matamos o Filho, mas a memória do Pai, o seu amor, o ressuscitou, e Ele caminha conosco. É indestrutível! Por isso, a memória faz criar. Pensem que na eucaristia nós recordamos a segunda vinda de Cristo, que ainda não foi realizada, mas nós já a recordamos. Nós recordamos o devir, porque somos parte, estamos unidos Àquele que nos ama.

Para concluir, podemos “ficar tranquilos”, pois a nossa tradição latina sabe muito pouco sobre a memória. O último grande teólogo da memória foi Santo Agostinho e me parece que ele não era do século XIX… e foi o último grande teólogo da memória. Depois, deslocamos tudo para a racionalidade e para a vontade. E, pelo contrário, a Bíblia é uma narração da história. Os Atos dos Apóstolos são uma narração. Os Evangelhos são uma narração. A liturgia é uma narração. Hoje, o problema é que é difícil encontrar uma pessoa que seja capaz de narrar sem o veneno da nostalgia.

Como é feita a elaboração dos projetos iconográficos do ateliê do Centro Aletti? — Olga Blachechen, iconógrafa, Curitiba (PR)

Pe. Marko Ivan Rupnik: A nossa cultura ocidental esteve por quatro ou cinco séculos radicalmente fundada sobre o indivíduo, que segundo os Padres gregos é o homem reduzido ao pecado, àquela aliança entre o eu e a sua natureza humana que é ferida, mortal, imperfeita. O indivíduo, por isso, busca se restaurar, se salvar. Então, a sua preocupação é que o seu nome esteja ligado a uma obra. Mas me mostrem uma obra de arte assinada antes do Renascimento. Não existe. Eu não conheço nenhuma mãe tão egoísta a ponto de pôr sua assinatura no prato que preparou para a criança. Então por que eu como artista devo assinar a minha obra? É uma grande estupidez do Renascimento em diante, porque um pai que trabalha todos os meses para que sua filha estude, não assina no final do mês essa obra.

A criatividade não está ligada ao indivíduo, porque o indivíduo não pode ser criativo. Criativa é a memória, mas a memória é comunional, o amor é a memória. A memória, ou seja, o amor é que se torna criativo. Quando eu amo uma pessoa, quero lhe fazer algo, mesmo se não sou capaz: quero fazer-lhe e faço, e pode ficar até ridículo, mas para aquela outra pessoa diz tudo. É a primeira vez que coloco junto a inteligência e as mãos, e a cola que une essas duas coisas é o amor. Quando uma civilização chega ao ponto de já não pôr juntos o cérebro e as mãos, é o seu fim. Vejam as grandes civilizações do passado: quando cada família tem três escravos, quando num país todos os construtores são de outra localidade e quando todos os cozinheiros vêm de fora, aquela cultura acabou, chegou ao fim. Não há mais nada a fazer.

A pessoa é criativa. Mas a pessoa, segundo a teologia, é imagem de Deus. Como é o nosso Deus? As Pessoas divinas emergem das relações. Deus é Pai, emerge de uma relação, porque gera. Agora vejo ali a Sra. Wilma: eu disse “senhora”, porque é uma esposa. Se eu digo “esposa”, digo uma relação, porque existe um marido. Então, vejam, ela emerge de uma relação. E assim é a pessoa, porque emerge de uma relação. Por isso, a criatividade consiste em relações que colocam juntos o cérebro e as mãos, porque o amor passa pelas relações e não é possível criar de outra forma.

Pe. Špidlík, meu grande pai espiritual, com quem estive por trinta anos, me iniciou na leitura dos Padres da Igreja: li mais de sessenta volumes com ele. Ele me deu para ler Basílio Magno, Tratado sobre o Espírito Santo. E eu li e não entendi nada. E no café da manhã disse pra ele: “Oče [“pai” em esloveno], Basílio não é pra mim! É muito helenístico, difícil, não se entende! É um texto muito complexo!” E ele disse: “Não estávamos agora na missa?” “Sim.” “E não encontrou Basílio?” “Não.” “Mas pelo amor de Deus! Em qual missa você estava?! Em toda eucaristia nós nos encontramos com todo o Corpo de Cristo! Eu não te dei um texto! Eu te dei Basílio Magno! Você o encontrou nessa manhã e poderia perguntar-lhe: ‘O que você queria dizer neste texto?’ Mas você não entende isso! Então você é um racionalista, não um crente!” Para mim foi uma lição importantíssima! Ou seja, ele não me deu um texto, me deu um amigo. Tanto que, anos mais tarde, se tornou o meu melhor amigo. Toda vez que preciso colocar um santo em um mosaico, no reino dos céus, o primeiro é Basílio Magno, porque para mim é o maior Padre da Igreja. Mas só entendi isso quando comecei a viver com ele uma comunhão.

Eu me recordo de uma menina anoréxica, que havia feito um mar de psicoterapias, e sua mãe a trouxe até mim, há muitos anos. Falei com essa menina e, por fim, eu disse: “Escuta, você frequenta a missa?” “Sim.” “Fale com Edith Stein, Santa Edith Stein”. Ela disse: “Por quê?” “Porque era anoréxica e superou isso, e ela te explicará como faz.” Eu não  sou anoréxico. Gosto demais de presunto para ser anoréxico… Então eu disse: “Edith Stein te explicará!” Ela me olhava como se eu fosse um extraterrestre. Mas, veja, ela verdadeiramente se curou. Trata-se de criar relações, de encontrar relações dentro do Corpo de Cristo. E eu crio assim. Nunca crio nada sozinho. Nada! Nada!

Quando vim a Aparecida — serei muito concreto —, vim do jeito que Pe. Špidlík me ensinou: em um colóquio espiritual, ao esperar a pessoa que chega, você deve libertar-se de si mesmo. E como se faz isso? Suplicando a descida do Espírito Santo, que é o Senhor da caridade e, portanto, da liberdade. Eu não tenho nenhum interesse, nenhum desejo. Escuto. E, uma vez que não há nenhum interesse, depois da escuta, o primeiro pensamento que me nasce é do Espírito Santo, porque não há nenhum obstáculo. E assim aceito os trabalhos artísticos. Cheguei a Aparecida e escutei os padres que diziam o que gostariam. Eu não disse uma palavra, só escutava. E tudo aquilo que me nascia, eu registrava. E, vejam, quase sempre essa é a obra quando está concluída, porque eu não tenho nenhum interesse. Depois, tive grandes intuições, são ideias, são imagens. Vi quatro fachadas completas. Fui para Roma e disse para a equipe do Centro Aletti, onde tem grandes teólogos, expliquei o que eu pensei e escutei o que me diziam. Depois, chamei dois ou três biblistas, grandes amigos meus, e lhes disse o que eu havia pensado, e escutei o que me diziam — foram quatro horas de colóquio. Depois, fui no Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, onde leciono, e perguntei a três, quatro pessoas o que pensavam sobre o que eu disse. E finalmente, comecei a colocar aos poucos o preto no branco. Depois, chamei bons engenheiros, que entendiam de cola, de tijolo, de cimento, de resina, de tudo isso, para ter uma visão tecnológica. Também era preciso entender sobre a alfândega.

Tudo isso por quê? Porque a criatividade é algo enorme! Nós mandamos para cá cento e oitenta toneladas de material. A criatividade artística é uma grande obra organizativa. Então, se cria assim. Mas a criatividade é sempre pessoal. O problema é que o Ocidente não entende a pessoa, mas pensa sempre como indivíduo. Havia um núncio apostólico em Paris que me obrigou a assinar a obra, e eu só assinei por obediência. Mas nunca me veio em mente de fazer isso. Então agora, aqui, trabalho continuamente em diálogo. Escuto continuamente, até o artista mais jovem, que está somente há cinco anos comigo: se ele tem algo a me dizer eu o escuto atentamente. Porque, como diz Berdiaev, é a Igreja que é criativa. A criatividade significa elevar a vida a um nível que não é mais corruptível pela morte. De que serve criar algo que amanhã morre? Isso não é criatividade, é um fracasso. E somente a Igreja pode criar a realidade do homem novo que é chamado à ressurreição.

Como é a criação dos altares e ambões do Centro Aletti, em relação à forma, aos símbolos e à unidade com os projetos iconográficos? — Kátia Pezzin, arquiteta, Vitória (ES)

Pe. Marko Ivan Rupnik: Quando Moisés recebe a ordem de fazer a tenda da reunião, Deus não começa narrando como fazer o invólucro. Hoje ao criar as igrejas muitas vezes começamos com o invólucro e depois, quando tudo está feito, alguém diz: “Ah, é preciso colocar o altar!” “Mas, onde o colocaremos?” “Atrás do altar, vai alguma coisa?” “E vai o quê?” Depois chega uma senhora e diz: “Mas, é preciso também uma Nossa Senhora!” “Ah, e onde a colocamos?” Depois chega um coroinha e diz: “Mas é preciso também o sacrário!” “Ah, e onde o colocamos?” E assim fazemos as igrejas hoje. Me chamaram em tantas comissões e era sempre assim. Moisés recebe a ordem começando pela Arca da Aliança e, só na conclusão, o invólucro. É assim que eu penso que se deve construir as igrejas.

Fui membro do Santo Sínodo Ortodoxo Sérvio — membro externo, claro — para a construção da grande catedral em Belgrado, e para mim foi uma imensa graça. Eu me recordo de um encontro entre arquitetos, engenheiros, o patriarca da época, um homem pequeno, ancião, um grande monge, um asceta, não comia, não bebia, vivia sozinho. E então escutava todos esses grandes engenheiros, o dia todo, e não disse nenhuma palavra. À noite, às 18h, ele disse: “Posso dizer uma coisa?” Assim que levantou a mão, todos ficaram calados. E ele disse: “Eu os escutei durante o dia todo e louvava a Deus! Não sabia que o homem poderia conhecer tantas coisas! Quantas coisas vocês sabem! Arquitetos e engenheiros! Verdadeiramente coisas imensas! Porém, como se trata da catedral, se me permitem, me deem uma folha de papel.” Deram uma folha pra ele e ele começa a desenhar com um lápis. “A preparação para o batismo se faz assim. A reconciliação se faz assim. A liturgia eucarística se faz assim.” Explicou todos os passos, cada movimento, e disse: “Agora, vocês com toda a sabedoria que vocês têm, mudem todo o projeto que fizeram, porque para nós ele não serve. Para nós serve exatamente isso que desenhei. E o que vocês farão deve exprimir exatamente isso que desenhei aqui, porque isto é o Corpo de Cristo, Corpo de morte e Corpo de glória, e esta é a Igreja, Corpo de morte e Corpo de glória. Quero ver isso.” Um silêncio sepulcral. Mas, para mim, foi uma grande escola. É preciso fazer assim.

Então, veja, o coração da igreja é o altar. O altar em toda a nossa tradição era Cristo. Então, o barroco, na minha modesta opinião, é a arte menos cristã que tivemos, é uma grande traição — ainda mais grave do que o renascimento. O barroco nos arruinou até o altar, sobretudo pelas intervenções de Carlos Borromeu, porque nos confrontamos com a Reforma, fizemos a contrarreforma: a Reforma dizia que o altar é mesa e nós dissemos que é sacrifício, e nos desencontramos. E Carlos Borromeu colocou o altar na parede e colocou o sacrário em cima. Mas, até aquele tempo, não era assim. No século VIII, São Germano de Constantinopla descreve perfeitamente os lugares litúrgicos. E ele diz que o altar deve ser quadrado, porque deve mostrar de modo visível, a todos os quatro lados da Terra, que todos se alimentam igualmente do sacrifício que Deus Pai fez doando o Filho. E, vejam, no século VIII estava muito claro que o altar é lugar de se alimentar, portanto, mesa. Mas do que nos alimentamos ali? Do sacrifício do Filho. Então o altar também é lugar do sacrifício. Nós por quatro séculos discutimos com os protestantes: ou um ou outro. É muito claro.

Além disso, o altar deve ser uma rocha. A Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 10, versículo 4, diz que “a rocha espiritual é Cristo.” Então, deve ser de um pedaço só e deve ser um só na igreja. Essa coisa individualista, de ter vários altares um do lado do outro, que aconteceu depois do Concílio de Trento, só ocorreu na Igreja latina, em nenhuma outra tradição apostólica. Cristo é um. Cristo não é dividido. O altar é um. E caso se faça um altar diante da igreja para uma assembleia muito grande, já os antigos, no século VIII, compreenderam que era necessário fazer uma cópia em madeira ou em alvenaria daquele que estava na igreja, porque é um só. Não tem outro. Então, se o altar é Cristo, existem modos de dizer que é Cristo. Nós do Centro Aletti gostamos de usar a cruz — que não deve ser uma cruz dolorida, deprimente: nós usamos aquela cruz do Espírito Santo, como uma vela inflada. Também usamos as imagens eucarísticas de que Jesus fala no Evangelho, como o bastão com a serpente de Moisés ou os cinco pães e os dois peixes.

No rito bizantino da ordenação sacerdotal, é muito bonito quando o bispo toma a cabeça do ordenando e a coloca sobre o altar, com o ouvido posto junto ao altar, porque o principal trabalho do presbítero é escutar o Corpo de Cristo, que é a Igreja. Não mandar, mas escutar. É o Corpo de Cristo. E o Corpo de Cristo somos nós também. Por isso, dentro do contexto do altar, não de forma isolada, mas dentro das imagens crísticas, podemos pôr também os santos. Nunca somente um santo, mas a comunhão do Corpo. Isso é belíssimo! Já a cor do altar nunca deve ser escura, mas o mais clara possível — de preferência branca — porque Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 10, versículo 4, diz que a rocha é espiritual e a cor do Espírito é o branco. E por que é o branco? Porque, vejam, o Espírito Santo é a única Pessoa divina que nunca recebe nada, está sempre à serviço dos outros, em toda a Bíblia. Portanto, a cor é o branco, porque faz emergir todas as cores. É também a cor do Ressuscitado. Vocês sabem que o livro das cores é o livro do Apocalipse, e ali a cor do Ressuscitado é o branco. Formidável!

E o ambão é sempre um só, porque é sempre Cristo, mas pode ter três níveis. Por exemplo, no século IX, em Roma, na Basílica de São Clemente, temos o jardim do ambão. O nível onde se canta o salmo é voltado para o povo, porque é preciso reger a música. As leituras são lidas em direção à abside, ao altar, porque o altar é Cristo e a abside é o ventre de Deus Pai, de onde tudo vem e para onde tudo volta. Então toda a Escritura eu entendo em Cristo, porque fala de Cristo e Cristo manifesta o Pai. Estupendo! O Evangelho se anuncia do sul para o norte, do quente para o frio, do solar para o escuro. E vocês dirão: “E onde está o povo?” Não importa, estão em todo lugar, estão ao redor; não estão em um teatro, onde eu, o leitor, devo ser visto. Estou lendo a Palavra, estou dando voz à Palavra: o importante é escutar, não ver. Ainda, é importante que o ambão esteja mais perto do povo do que o altar, porque primeiro veio a Palavra, mas muitas gerações depois a encarnação. A Palavra já vivia entre o povo.

E o batistério? Agora o batistério está ao lado do altar, o que significa que não tem sentido batizar: se alguém já está no altar, não precisa ser batizado. O batismo é o sacramento da passagem, do isolamento à comunhão, da morte à vida, e por isso fica na entrada da igreja ou até mesmo fora. E quão grande precisa ser? Precisa fazer caber o batizante, o batizando, a mãe, o pai e dois padrinhos. E se os outros também querem ver? Mas querem ver o quê? É um parto. Nenhum mulher gosta de dar à luz diante de 500 pessoas. É algo íntimo. Ali ocorre o parto. A comunidade cristã reza e canta os salmos e, uma vez que ocorre o parto — no nosso rito antes de Trento era assim —, se leva a criança, com toda a assembleia cantando, até o altar e se a eleva, porque é Corpo de Cristo. Com os adultos, se colocava a cabeça sobre o altar. Belíssimo! Agora, hoje se batiza ali com uma bacia, com um pouco de água… Não funciona.

São tantas coisas belas! Podemos conversar até as quatro da manhã… Mas, agora vocês sabem como se cria: criamos sempre a partir da memória, nunca inventamos nada. Nós fazemos candelabros, cruzes, cálices, patenas: a fonte de tudo é a memória.

Geralmente se diz que a preocupação com a beleza é algo fútil e que a noção de belo pode ser somente uma construção cultural. Mas então como a preocupação estética com os símbolos pode ser compreendida? Ela é relevante? — Gabriela Zangiski, economista, Rio de Janeiro (RJ)

Pe. Marko Ivan Rupnik: Se me permitem eu faria uma pequena distinção entre a beleza e a estética. A estética é uma abordagem moderna, muito marcada pela filosofia, até mesmo pela psicologia e pela sociologia e, no fim, é muito subjetiva — nos nossos dias é extremamente subjetiva. Enquanto que, para os antigos cristãos, a beleza era de fundamental importância. Eu penso que uma das mais belas sínteses é aquela de Vladimir Soloviov, porque ele, ao abordar os famosos transcendentais — que o Ocidente sempre construiu colocando a beleza por último, o bem em segundo e a verdade acima de tudo —, disse: “Se a verdade não se manifesta como beleza, é uma ideologia.” E em nome de ideologias, muitas cabeças rolaram… A ideologia é feroz. O bem, se não se manifesta como belo, é a ditadura do bem, que é o mal supremo. Quando o bem se torna ditadura, todos sofrem: é desumano. Soloviov diz: “A beleza é a carne do verdadeiro e do bem.” A carne.

Gosto ainda mais de um passo avante que Pável Floriênski dá. Ele diz que a verdade, quando se revela, se revela como amor. Toda a obra de Cristo consiste em manifestar que Deus é amor. E, portanto, a verdade é pessoal e a pessoa se manifesta na relação. Se não há relação com outra pessoa, não nos manifestamos. Se você tem medo de mim, você não se manifesta. E se você tem algum interesse, a manifestação não será verdadeira. É necessário o amor, a amizade. Por isso, ele diz: “O amor realizado é a beleza”. E o que quer dizer? Que a beleza significa ver o mundo unido no amor. Quando eu vejo uma realidade e a chamo “bela”, a chamo “bela” porque a mim se abre um estrato ainda mais profundo. Não há apenas aquilo que vejo imediatamente, mas há algo mais profundo. E esse mais profundo que se faz sentir é algo que me fascina, me atrai, me envolve em uma relação e, aos poucos, nessa relação descubro o amor e, uma vez que é amor, permaneço livre. A beleza cria pessoas livres, porque as criam no amor realizado. E por isso na beleza não há nada de estético. Hoje se diz que algo é belo quando não há nada para se acrescentar. Mas os antigos cristãos diziam que belo é aquilo do qual não se pode tirar mais nada. É o essencial. Sem babados. Sem barroco. É precisamente o essencial.

Eu me recordo de uma cena, que me guiou a muita criatividade no mosaico e na pintura. Estava ao lado de minha irmã, devorada por um tumor feroz, e estávamos em silêncio. Eu ainda era muito jovem, não era padre. Ela estava calada. E com certa frequência nos voltávamos para uma imagem que eu lhe havia dado de presente, de um Cristo, e ela me disse: “Marko, obrigada por ficar em silêncio, porque qualquer coisa que você tivesse dito seria falsa.” Ali o que era importante é que eu estava ao lado dela, que de vez em quando lhe fazia um carinho, que de vez em quando colocava água em seus lábios e que de vez em quando olhássemos para a mesma pessoa. Alguns anos mais tarde, fui ouvir a confissão e dar a unção dos enfermos a uma senhora. Entrei no hospital, cheguei no quarto e havia uma senhora que certamente não tinha nem 30 quilos: somente osso. E, ao lado, o marido, que a amava imensamente. Eu os vi e fiz o sinal da cruz. E eu disse aos dois: “Eu vi Deus.” Era uma beleza digna do reino dos céus. Esse marido que todo santo dia estava ali, imensamente apaixonado por essa mulher que era somente osso. Isso para mim é a beleza. O resto é estética. Se a beleza não sabe incluir a morte, é uma fantasia. A mim interessa a beleza que consegue lidar com a doença, o pecado e a morte. Ali onde há o amor, onde há a páscoa.

Por isso, na nossa arte, procuro ir ao essencial. E garanto a vocês, muito humildemente, que o nosso desenho é a coisa mais difícil, porque é preciso desenhar com uma linha só e não voltar atrás, sem adereços: o essencial. A arte deve ser como a liturgia. Eu exponho o pão no altar. É inútil que faça um pão com a imagem do homem vitruviano de Leonardo da Vinci em cima dele. O que importa é que seja pão. Mas se o Espírito Santo não desce, permanece pão. Nada mais. E se desce o Espírito Santo, esse pão se torna verdadeiramente aquilo que é chamado a ser, o alimento para a vida filial, a carne da humanidade de Cristo. Isso é a beleza. Sem o Espírito Santo, a beleza não existe, porque não existe Aquele que nos torna partícipes de Cristo.

Na Academia de Belas Artes de Roma, fiz quatro semestres de estilismo de moda, e vinham grandes estilistas italianos — Gianfranco Ferré, por exemplo. Aprendi uma coisa muito importante: que uma grande busca do mundo contemporâneo é parecer. Mas isso nunca pode tornar belo. Belo é só o que é — e não o que pode parecer. Só a verdade se pode manifestar como bela. A cosmética é a manifestação de que alguém gostaria de ser outra coisa, mas não o é.

É importantíssimo isso na Igreja. Por isso, me recordo uma ocasião quando cheguei nos Estados Unidos em uma igreja: era muito estranha, a abside tinha três inclinações diferentes na parede. Eu disse: “Mas o que é isso aqui?” O arquiteto estava ao lado do bispo. Eu disse: “Mas não daria para fazer uma contraparede? Uma bela abside côncava?” “Por que côncava?” “Por que a forma de nosso Deus é côncava.” “Ah sim?!” “Sim!” “Deus Pai se doa, se esvazia e acolhe. O côncavo cria o foco onde quer que você esteja. Mas aqui infelizmente não dá para fazer, porque seria uma cosmética, já que atrás tem a parede verdadeira.” E o bispo disse: “Não, não fale assim! Essa obra é o orgulho desse arquiteto!” “Mas o que é?” “É a Santíssima Trindade.” “É?! Como assim?!” “Sim, porque são três inclinações diferentes.” Então o surpreendo e digo: “Qual é o Espírito Santo?” Ele disse: “É, é…” Eu disse: “Deixa pra lá. Me desculpe, quanto custou essa parede?” “Oitenta mil dólares.” Digo: “Tenho outra proposta. Fale para um coroinha ficar com a mão assim [indicando com os dedos o número três] a missa toda; se ele se cansar, mude de mão. E lhe dê dez dólares. Custa muito menos!” E o bispo disse: “Mas por quê?” “É a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.” Eu disse: “Veja, senhor arquiteto, desde que Cristo veio sobre a Terra até hoje, nunca ninguém na comunidade cristã reconheceu a Trindade com três inclinações diferentes na parede. Isso não é beleza. É cosmética. O senhor deverá escrever na parede: Pai, Filho e Espírito Santo. Mas ninguém verá que é assim.” Isso é cosmética. A beleza são os ossos e a carne a serviço do amor.

Uma pergunta acerca do discernimento vocacional. Jesus no Evangelho de Marcos utiliza a imagem da construção de uma torre e do envio de soldados para a guerra para falar da necessidade de um discernimento que parte da análise, do cálculo… Por outro lado, é comum se ouvir no discernimento vocacional que a resposta a Jesus é uma resposta ousada, de quem se lança sem ter tudo muito claro em seu caminho, como Abraão, por exemplo. Diante dessas duas realidades que num primeiro momento parecem antagônicas, como se deve proceder diante de um chamado vocacional? — Adson Muniz, seminarista, Tubarão (SC)

Pe. Marko Ivan Rupnik: Nós na época moderna produzimos um mito das vocações individuais. “Eu sinto que sou chamado para ser padre!” Mas quem é você? Vai com calma! Vai para casa, estude bem, se torne engenheiro, fique tranquilo… “Eu sinto que devo ser uma religiosa!” Mas fique tranquila! Quem lhe disse isso? A vocação é a Igreja que chama. A vocação quer dizer, como diz a Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 1, versículo 9, que “somos chamados à comunhão de seu Filho.” O “chamado” é o chamado à participar da humanidade de Cristo. Essa é a vocação. Somos chamados à comunhão do Filho com o Pai, somos chamados à filiação. De que te serve ser padre se você não é filho? Já temos padres assim o suficiente. Precisamos de padres que tenham a experiência de ser filhos. As religiosas, filhas. O mesmo vale para esposos e esposas.

A Igreja que chama não é uma instituição paraestatal: é uma instituição litúrgica, é um organismo relacional, e Deus chama através das relações. O que seria de mim se eu não tivesse na minha casa o pai que eu tive? Nenhum jesuíta que encontrei pode ser comparado com o meu pai e a pedagogia com que ele me tratou O que seria de mim se não tivesse encontrado Pe. Špidlík? Quem eu seria se não tivesse encontrado aqueles que vivem comigo no Centro Aletti? Cristo não chamou colocando um anúncio: “Procuro doze apóstolos!” Ele andou, viu dois sujeitos e disse: “Escutem, rapazes, deixem essa barca. Venham comigo.” É um chamado. É um caminho.

Assim, trata-se de discernir onde eu posso mais radicalmente me expor ao amor e mais radicalmente morrer a mim mesmo. Essa é a questão. Porque a vocação quer dizer que eu vivo a comunhão com Cristo em uma concretude existencial. Então, esse discernimento é difícil fazer sozinho. É preciso ter um pai ou uma mãe espiritual — se se pode ter —, uma pessoa livre que te ajude a ler a história. Eu me recordo de jovens nos exercícios espirituais: “Eu gostaria de discernir se devo me casar.” Eu digo: “Mas como se chama sua noiva?” “Não tenho.” “Mas, então o que faremos?!” Ou: “Gostaria de me tornar dominicano.” “Mas quem são os dominicanos?” “Eles se vestem de branco, eu gosto.” “Então, se torne cozinheiro! Também o cozinheiro se veste de branco!” Isso são absurdos.

É preciso caminhar. Depois, é preciso ser provados. Hoje estamos fixados sobre a formação. Mas, como humilde artista, lhes faço uma questão — que é de Ivanov. A formação requer uma forma formadora. E qual é essa forma formadora? É o padre que faz assim [de mãos postas com expressão de piedade]? Bem! Então vamos fazer assim. Mas isso não quer dizer vocação. Os antigos usavam outra palavra: provação. É isso. Cristo os tomou consigo. É importante ter alguém que te acompanhe através das provas que você vive. E, nas provas, você se deparará com encontros, pessoas, relações, e aquele que te acompanha te ajudará a ler, descobrindo onde é mais provável a morte a si mesmo e a ressurreição de uma pessoa nova, que não sonha em realizar a si mesma, e sim quer ser a manifestação de um amor que passa através de sua humanidade. Afinal, nós somos chamados à comunhão do Filho. A vocação quer dizer manifestar o outro e não a si mesmo.

Fui noviço sob o duro comunismo iugoslavo e o mestre de noviços era o único jesuíta esloveno que não estava na prisão e se sentia muito mal por isso: se sentia indigno, pois todos os outros sofreram e ele não. Então, era um mestre muito realista. Um realismo total. Um dia o mestre me chama e diz: “Escute, Marko, amanhã depois do almoço vamos encontrar uma família.” Ele tinha esse modo de nos iniciar nas coisas pastorais. Sob o comunismo celebrávamos as missas nas casas. Eu pensei que iríamos celebrar uma missa. Chegamos em um edifício, batemos na porta. Abre-se a porta, era um dia ensolarado, mas o apartamento estava totalmente escuro. Uma jovem senhora, muito bela, com uma menina, nos abriu a porta. Logo vi que a senhora era cega. Entramos e o padre disse: “Veja, Marko, esta senhora perdeu o marido por um tumor no fígado em três meses. Agora está sozinha, mas deve trabalhar, ou não sobrevive. Essa menina precisa ir para a creche, mas ela não pode levá-la. Você poderia levá-la?” “Mamma mia!” Eu era o quarto filho na nossa família: eu tinha três irmãs, não tive um irmão menor do que eu. Digo: “Como vou fazer isso?” Eu pensei que fosse por uma semana. Mas era por um ano! Então eu disse: “Está bem.”

No dia seguinte, às 5h30 da manhã, pego essa menina, entro com ela no ônibus, um ônibus cheio de operários. E eu com essa menina pequena, que começava a chorar. “Nossa Senhora!”, digo, “O que faço agora?!” Então, todas as senhoras se irrompiam para me ajudarem a acalmar essa menina, porque pensavam que eu era um viúvo precoce. Por um ano, todos os dias, levava essa menina cedinho e depois, à tarde, às 14h, a pegava. Toda semana o mestre me chamava. Dizia: “Marko, o que você sente quando leva essa menina? Quais pensamentos te vêm? Quais inspirações? Quando você vê essa jovem e bela senhora, sua mãe, o que você sente? O que você pensa?” Continuamente ele me perguntava. Eu procurava explicar e ele dizia: “Não, Marko, você não está entendendo. O que Deus, o que Jesus Cristo está dizendo a você através dessa menina? O que Ele te diz através dessa senhora?” Um grande mestre! Sempre nos colocava na vida e depois nos acompanhava. Eu penso que a vocação é possível somente se alguém te acompanha e então, o discernimento se torna real, senão tudo se torna algo artificial. “O que eu farei?” O sentido da Igreja é manifestar Cristo e não que eu faça alguma coisa.

Agradecimentos a Junia Neves, membro do grupo de estudos, que realizou a transcrição da conversa.

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