A filosofia do pré-socrático Anaxágoras

A filosofia grega, baluarte da construção da cultura ocidental, desde tempos remotos, datados de anos antes de Cristo, desenvolvera um sistema de pensamento que perpassou os séculos, mediante uma indagação tida como fundamental para a noção da vida em nosso planeta, qual seja, a origem e fim de todas as coisas. Visando, pois, na tentativa de explicar as transformações do mundo ante as mortes e os nascimentos, a construção e a destruição das coisas, é que uma gama de filósofos anteriores a Sócrates (470-399 a. C.) se debruçara a buscar elucidar, cada um a seu modo, o princípio governador de todo o universo, que está presente na origem da natureza, princípio este natural, imortal, imperecível e eterno, substância esta que recebera o nome de physis (do grego “fazer nascer”), tornando-se assim, o centro de toda discussão sobre o tema à época.

Neste interim, cada filósofo encontrou suas razões para determinar o princípio imutável e eterno que está no cerne da natureza e de suas transformações, que a organiza e governa, podendo ser a água ou o úmido para Tales de Mileto; o ilimitado (ápeiron), em qualidades infinitas para Anaximandro; o ar ou o frio para Anaxímenes; os números numa ordem proporcional aos elementos para Pitágoras; o fogo para Heráclito; os quatro elementos – água, fogo, ar, terra – para Empédocles; os átomos para Leucipo e Demócrito.

Outrora, o filósofo que poderia ter usado pela primeira vez o termo physis foi Anaxágoras de Clazômenas (500-428 a. C.), natural da costa Jônia, situado na Ásia Menor, que ao longo de uma vida repleta de discussões, resume em sua obra Sobre a Natureza a tônica de toda a sua filosofia naturalista, bem como sua contribuição para a física, para a matemática, para a astronomia e para a meteorologia. Segundo Anaxágoras, o universo é formado por infinitas partículas (homoeomerias), que podem ser divididas infinitamente, existindo, a seu turno, um princípio superior denominado Nous, inteligência universal, ilimitada e autônoma que governa toda a natureza. Para Anaxágoras, estas partículas são todas iguais, mas, agrupam-se umas com as outras e destes agrupamentos surgem as diferentes formas. A título de ilustração, podemos inferir quando comemos um pão, onde ao ser digerido pelo organismo, se desintegra e se divide em todo o corpo.

Mediante esta concepção, as partículas desde o princípio formavam uma massa amorfa, que mediante o impulso, o movimento de Nous, fez a massa se desintegrar, se expandir e evoluir, formando assim os outros elementos e diferentes aglomerados. Insta esclarecer que o Nous está em todas as coisas, afim de movimentar, separar as partículas, vista que este agiu no princípio e continua agindo, separando e agregando todas as coisas, participando de modo decisivo de todo o destino do mundo. Por trilhar este mecanismo, o referido princípio conhece, ordena e conhece todas as coisas. Conforme assevera Simplício num fragmento referente à Anaxágoras, “o espírito (Nous), que sempre é, também agora deveras é onde são também as outras (coisas) todas, no muito circundante nas (coisas) que lá se aglomeram e nas que de lá estão separadas.”[1] Em breves palavras, o princípio orientador de todo o governo de mundo, o Nous, está presente nas coisas que se separam e se aglomeram novamente.

Portanto, o estudo da filosofia de Anaxágoras nos faz refletir o quanto de esforço houve por parte deste filósofo na busca uma explicação plausível para o desenvolvimento do mundo, nas suas constantes alterações, pela observação dos nascimentos e sua mortes, das construções e destruições das coisas, ao passo que nos permite vislumbrar o pensamento contido à época, nos motivando a continuar criticando as razões que nos são apresentadas sobre a origem e fim de todas as coisas, questão essa que sempre acompanhará o ser humano enquanto ser pensante.

Autor: Fr. Bruno Coelho Gonçalves, SAC, estudante da turma do segundo ano do Curso de Filosofia da FASBAM.

[1] ANAXÁGORAS de Clazômenas. Os pré-socráticos. In: OS PENSADORES. v. I. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.223.

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