A Solenidade da Natividade da Santíssima Mãe de Deus | Série: Conheça o seu Rito

A Igreja não tem o costume de celebrar o aniversário terrestre dos santos de Deus, mas sim de celebrar os seus aniversários celestes, que são, os dias de suas mortes que, para eles, é o início da vida eterna. Ela faz exceção, contudo, para os dois maiores santos na Igreja – a Puríssima Virgem Maria e são João Batista. Nós celebramos não somente os seus nascimentos celestes, mas também os seus nascimentos sobre a terra. Uma das maiores solenidades que nós celebramos no início do Ano Litúrgico é a solenidade da Natividade da Santíssima Mãe de Deus (Theotokos). Como é evidente nas palavras do tropário desta solenidade, é uma solenidade alegre e importante. É alegre porque é o nascimento da Mãe de Deus, a Rainha dos Céus e da terra. É importante porque coloca diante dos nossos olhos a grande verdade de nossa fé sobre a Maternidade Divina da Puríssima Virgem Maria, de quem “brilhou o Sol da justiça, o Cristo-Deus nosso”. A estrela da manhã ressuscitou, portanto, o ressuscitar do sol não está longe. O sublime nome dado à solenidade em nossos livros litúrgicos também indica a grande importância desta solenidade: “A Natividade de nossa Santíssima Rainha, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria”. Qual é o fundamento para a instituição desta solenidade? Qual é a sua história e a sua importância?

A Instituição desta Solenidade

O Evangelho recorda poucos incidentes na vida da Puríssima Virgem Maria. Diz nada sobre sua natividade, sua origem, sua infância ou juventude, ou sua santa Assunção aos céus. Qual é a fonte de nossa informação sobre todas estas coisas? Toda essa informação vem da Tradição da Igreja e dos escritos apócrifos. Os Apócrifos são aqueles escritos que relatam certos eventos da vida de Jesus Cristo ou de Sua Santíssima Mãe que não estão incluídos no Santo Evangelho. Embora a Igreja não reconheça os Apócrifos como autênticos escritos nem como fontes históricas fidedignas, mesmo assim, muito do que eles relatam pertence à autêntica Tradição e crença da Igreja primitiva. A fonte principal de informação sobre a vida da santa Mãe de Deus é o livro apócrifo escrito por volta dos anos 170-180 chamado o Protoevangelho de Tiago. Este livro apresenta o fundamento para a instituição de tais solenidades como a Concepção de Sant’Ana, a Natividade da Santíssima Mãe de Deus, a Apresentação no Templo, e as solenidades honrando Joaquim e Ana, os pais de Maria. Deste livro nós aprendemos sobre as circunstâncias em torno do nascimento da Virgem Maria, e os nomes de seus pais, Joaquim e Ana. O apócrifo Protoevangelho de Tiago nos tempos antigos foi tido em alta estima. Entre os muitos Padres que o citam ou explicam, estão são Epifânio, santo André de Creta, são Sofrônio, patriarca Germano I, são João Damasceno e patriarca Fócio. No Protoevangelho de Tiago nós aprendemos que a Puríssima Virgem Maria era descendente pelo lado paterno da casa real de Davi, e pelo lado materno da linha sacerdotal de Aarão. Seus pais viveram em Nazaré e eram bem-sucedidos. Eles também se distinguiram pela grande santidade de sua vida e pelo grande amor a Deus e ao próximo. Joaquim era acostumado a dividir os frutos de seu trabalho em três partes: uma parte ele dava a Deus como um sacrifício, a segunda parte ele distribuía entre os pobres, e a terceira parte ele guardava para si. A única grande tristeza deles era que não tinham filhos. Entre os judeus, a falta de filhos era vista não apenas como uma ausência da bênção de Deus, mas também como uma punição de Deus. Por causa de sua falta de filhos, Joaquim e Ana sofreram muito. Assim sendo, não é surpresa que eles deviam incessantemente implorar a Deus por um filho. Este era o principal objetivo de todas as suas orações, jejuns e esmolas. Finalmente, o Senhor Deus os abençoou na idade avançada com uma criança que foi destinada a se tornar a Mãe de Deus.

A História da Solenidade

A solenidade da Natividade da Mãe de Deus na Igreja Oriental é uma das solenidades marianas mais antigas; tão antiga que a data de seu aparecimento não pode ser determinada com precisão. São João Crisóstomo, são Proclo, santo Epifânio, santo Agostinho e são Romano, o Melodista, mencionam-na. Uma tradição na Palestina reconta que santa Helena (m. 330), mãe do imperador Constantino, construiu uma igreja em Jerusalém honrando a solenidade da Natividade da Santíssima Mãe de Deus. O Sacramentário do papa Gelásio (492-496) do século V também menciona esta solenidade. O patriarca Anatólio (449-458), Estêvão de Jerusalém (séc. VI), santo André de Creta, o patriarca Sérgio (séc. VII), são João Damasceno, o patriarca Germano (séc. VIII), e são José, o Estudita (séc. IX), compuseram as estrofes e os hinos em honra desta solenidade. A introdução oficial desta solenidade no Império Bizantino é atribuída ao imperador Maurício (582-602). Do Oriente, a solenidade da Natividade da Mãe de Deus encontrou seu caminho para o Ocidente, espalhando-se primeiro em Roma no século VII e então, nos séculos posteriores, por toda a Igreja Latina. O dia 8 de setembro foi escolhido como o dia desta solenidade porque neste dia nove meses são eram completados a partir do dia 9 de dezembro, o dia em que a Igreja celebra a concepção da Puríssima Virgem Maria no ventre de Ana. Este dia também foi escolhido porque ele marou o dia em que a Igreja, em Jerusalém, foi consagrada em sua honra. Esta solenidade é classificada como uma das doze grandes solenidades em nosso Ano Litúrgico. Ela tem um dia de pré-solenidade e um pós-solenidade que dura apenas quatro dias porque a solenidade da Exaltação da Santa Cruz é celebrada no dia 14 de setembro.

A Natividade da Santíssima Mãe de Deus – Um dia de Alegria Universal

O nascimento de Maria, que se tornou a Mãe de Deus, foi uma fonte singular de alegria para os seus pais – Joaquim e Ana, para os céus, para a terra, e para toda criação. A alegria espiritual ocasionada por esta solenidade da Natividade da Mãe de Deus foi salientada por vários Padres da Igreja. Santo André de Creta, em seu mais longo sermão sobre esta solenidade, exalta a Santíssima Mãe de Deus como a única em que todas as profecias e prefigurações do Antigo Testamento foram realizadas. Apropriadamente, ao exaltá-la com os títulos mais sublimes de louvor, ele convoca todos para compartilhar desta alegria – céus, terra, o mar e cada criatura; finalmente, ele conclui com as palavras: “pois hoje uma criança nasceu, de quem nós temos recebido salvação, Cristo Deus e Palavra, que, tendo vindo, permanece conosco para sempre”. São João Damasceno em um sermão para este dia, diz: “o dia da Natividade da Mãe de Deus é um dia de alegria universal pois, por meio da Mãe de Deus, todo o gênero humano foi renovado e toda a desolação da primeira mãe, Eva, foi transformada em alegria”. Os serviços divinos deste dia são preenchidos com alegres melodias, quase como se nós celebrássemos a Natividade de nosso Senhor ou Sua gloriosa Ressurreição. Os principais motivos subjacentes a esta alegria são o fim da falta de filho de são Joaquim e Sant’Ana, o início de nossa salvação, a maior dignidade da Divina Maternidade concedida à Maria, o papel e o significado únicos da Mãe de Deus na obra da redenção do gênero humano. Os primeiros a se alegrarem com a Natividade de Maria são os seus pais. Nas estrofes posteriores no serviço das Vésperas, a Igreja clama a eles: “Alegrem-se, Joaquim e Ana, alegrem-se, pois de uma mulher estéril nasceu a Causa de nossa alegria e salvação”. Os anjos e todos os fiéis também se alegram com a Natividade de Maria: “à tua honorável Natividade, Santíssima e Puríssima Virgem”, nós cantamos no serviço das Vésperas nas estrofes do Salmo 137, “a multidão de anjos nos céus e o gênero humano na terra estão cantando louvores, pois tornaste a Mãe do Criador de tudo, Jesus nosso Deus. Ao implorá-lo, não deixes de rezar por nós, em que colocamos depois de Deus a nossa esperança em ti, Mãe de Deus, sempre glorificada e Imaculada”. Todos os santos do Antigo e do Novo Testamento compartilham esta alegria: “Renova-te, Adão”, diz o luminário do serviço das Matinas, “alegre-se, Eva, rejubilem-se os profetas juntamente com os apóstolos e os justos, pois hoje a alegria universal dos anjos e dos homens surgiu dos justos Joaquim e Ana: a Mãe de Deus, Maria”. Finalmente, a Igreja convida os fiéis a prestarem a veneração devida à Mãe de Deus: “Venham, todos os fiéis, apressemo-nos à Virgem, pois ela nasceu, que mesmo antes de sua concepção estava destinada a ser a Mãe de nosso Deus. Ela é o vaso de virgindade, a haste florida de Aarão do tronco de Jessé, proclamada pelos profetas, e a filha de Joaquim e Ana. Ela nasceu, e por meio dela o mundo é renovado, e a Igreja é vestida de esplendor. Ela é o templo sagrado, onde Deus habita, um vaso virgem, uma câmara real, em que o admirável mistério da maravilhosa união das duas naturezas de Cristo é realizado. Prestando louvor a Ele, vamos louvar a Virgem Toda Pura”.

O Culto aos Santos Joaquim e Ana

O dia após a solenidade da Natividade da Santíssima Mãe de Deus, a Igreja honra a memória dos “Santos e Justos Ancestrais de Cristo, Joaquim e Ana”. A Igreja os presta especial veneração aos pais de Maria e ancestrais de Jesus Cristo. Consequentemente, no nosso serviço eles são chamados “Ancestrais de Deus”. Na oração de despedida dos serviços eclesiásticos, nós diariamente pedimos sua intercessão orante. Durante os serviços em sua honra, a Igreja se alegra com a sua solenidade, louvando a sua relação com a nossa salvação, e os exaltando como os mais abençoados dos pais. “Vinde hoje, admiradores da solenidade”, nós cantamos nas estrofes do serviço das Vésperas do dia 9 de setembro, “alegremo-nos cantando, e vamos zelosamente honrar a memória de Joaquim e Ana, honroso casal, pois para nós eles deram à luz à Mãe de Deus, a Virgem mais pura… Abençoado casal, vós superais todos os pais, pois vós destes à luz à mais bela de todas as criaturas! Verdadeiramente, vós sois bendito, Joaquim, sendo o pai de tal Virgem! E bendito é o vosso ventre, Ana, pois vós trouxestes a Mãe de nossa vida. Bendito é quem a curou, pois ela, por sua vez, pode alimentá-lo, o Nutridor de toda criatura. Embora, nós imploramos a vós, benditos, rezem a Ele para a salvação de nossas almas”. A veneração dos justos Joaquim e Ana começou a se enraizar rapidamente após a instituição da solenidade da Natividade da Mãe de Deus. No século VI, igrejas começaram a ser erigidas em honra de Sant’Ana. O imperador Justiniano I (527-565) no ano 550, dedicou uma igreja em Constantinopla em sua honra. Neste mesmo século, uma igreja foi erigida em sua honra em Jerusalém, o lugar de seu nascimento. Essas duas igrejas tinham uma grande influência sobre a propagação do culto aos pais da Bem-aventurada Virgem Maria, mas especialmente de Sant’Ana. A Igreja Oriental começou a celebrar a sua memória no dia 9 de setembro no final do século VI. Antigos hinos gregos também existem em honra de Joaquim e Ana, e nos escritos dos Padres, especialmente aqueles de santo Epifânio e são João Damasceno, nós encontramos palavras de louvor em honra de Sant’Ana. Sob a influência do Oriente, o culto de Sant’Ana se desenvolveu no século VIII também no Ocidente, particularmente em Roma, e não foi até o século XIV que essa devoção se espalhou por toda a Europa. A Igreja Latina celebra a memória de Sant’Ana no dia 26 de julho, e a memória de são Joaquim em 16 de agosto. No nosso Calendário Eclesiástico, além da comemoração dos santos Joaquim e Ana no dia 9 de setembro, nós temos mais dois dias de solenidade em honra de Sant’Ana: o dia 9 de dezembro, o dia em que ela concebeu a Puríssima Virgem Maria, e o dia 25 de julho, o dia de sua morte. A iconografia cristã também expressou grande devoção aos pais da Bem-aventurada Mãe de Deus. Frequentemente um ícone representa Sant’Ana com Maria criança sobre os seus joelhos, ou ambos os pais retratados trazendo a pequena Maria ao templo para a consagrar ao serviço de Deus. Fonte: Pe. Yulian Yakiv Katriy, OSBM, Conheça o seu rito.

Pe. Yulian Yakiv Katriy, OSBM

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