Numa carta pastoral expedida no fim do Concílio Vaticano II (1965), os bispos ucranianos, juntamente com o arcebispo-maior cardeal Yosyf Slipyy, definiram o Ano Litúrgico como: “um ciclo litúrgico da Igreja Universal ou particular, que consiste de domingos, dias de semana, as solenidades do Senhor, da Mãe de Deus, dos santos e os períodos de jejum e os tempos proibidos”. Nós chamamos o Ano Litúrgico de Ano Eclesiástico ou Ano da Igreja, porque ele contém o Calendário da Igreja, que em alguns aspectos é similar e em outros difere do calendário civil. Na Igreja Oriental o Ano Eclesiástico difere do calendário civil em que ele não inicia no Ano Novo com o dia 1º janeiro como acontece no ano civil, mas inicia com o 1º de setembro, que é chamado de
Início da Indicção. Isso significa que todo o ciclo do nosso Ano Eclesiástico inicia com o primeiro dia de setembro e termina com o dia trinta e um do mês de agosto seguinte.
Qual é o significado de Indicção?
A palavra indicção vem da palavra latina
indictio, que literalmente significa: instituição, proclamação, petição, anúncio. A indicção era um decreto dos imperadores romanos usado para determinar o imposto territorial por todo o Império Romano. Tais decretos começaram a aparecer durante o reinado de Diocleciano (284-305) no ano de 297 d.C. Primeiramente, eles eram emitidos a cada cinco anos, então depois a cada quinze anos. Gradualmente a palavra indicção veio para denotar não somente a proclamação imperial, mas também um ciclo de quinze anos assim como o primeiro dia deste ciclo. Originalmente, a indicção era utilizada exclusivamente para fins fiscais e tributários. Mas lentamente ela começou a ser usada em determinação a varias datas da vida civil. Este ano fiscal não coincide com o ano astronômico que, desde a reforma de Júlio César no ano 46 para a vinda de Cristo, começou com o primeiro dia de janeiro. O primeiro dia da indicção era originalmente o vigésimo terceiro dia de setembro porque era o dia em que César Augusto nasceu, mas sob Constantino, o Grande (306-337) ele foi o primeiro dia de setembro.
O Início da Indicção – O Novo Ano Litúrgico
Os Padres do I Concílio Ecumênico de Niceia no ano de 325 adotaram o primeiro dia de setembro como a abertura do Novo Ano Eclesiástico e este dia tem sido observado na Igreja Oriental até os dias de hoje. A Igreja Latina abre seu Ano Litúrgico no primeiro dia do Advento, isto é, no início da preparação para o Natal. A indicção de que nós estamos falando – pois havia outras indicções – é chamada a indicção bizantina (ou constantinopolitana ou também constantiniana) que, exceto para o Egito, tornou-se obrigatória por todo o Império Romano. Justiniano I (527-590) adotou a indicção para estabelecer as datas de documentos, e esta prática não foi abandonada até o ano 1097.
O Início da Indicção – Uma Solenidade da Igreja
Mais tarde, quando o primeiro dia de setembro foi designado como o início do Ano Eclesiástico, ou como ele é chamado no calendário da Igreja, o início do “Novo Ano”, ele assumiu um caráter religioso e se tornou uma solenidade da Igreja, isto é, um dia que tem seu próprio e especial serviço litúrgico. Neste dia a nossa Igreja comemora o dia em que Cristo entrou na sinagoga em Nazaré e leu dos pergaminhos as palavras do profeta Isaías: “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu… para proclamar um ano de graça do Senhor”
[1]. Nenhuma evidência confiável existe para indicar quando o início da Indicção se tornou uma solenidade da Igreja; nós sabemos, contudo, que ela já existia no século VIII.
O Caráter e o Conteúdo do Ano Litúrgico
O Ano Litúrgico é tão organizado que seu lugar central é ocupado por nosso Divino Salvador; em torno dele estão reunidos todos os anjos e santos. Na
Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium –
Sobre A Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II nós lemos: “a santa mãe Igreja considera seu dever celebrar, em determinados dias do ano, a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou domingo, celebra a da Ressurreição do Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das solenidades, unida à memória da sua Paixão. Distribui todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor”
[2]. A Puríssima Virgem Maria, que recebeu o lugar mais proeminente lugar depois de Cristo na obra da redenção, também fica mais próxima a Cristo no Ano Litúrgico. Isto é evidente em várias solenidades em honra a Mãe de Deus. A
Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium declara que: “na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser”
[3]. Em torno das pessoas de nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Santíssima Mãe nós vemos o grande coro da Igreja Triunfante nos céus, que é, todos os santos do Antigo e Novo Testamentos: “A Igreja”, diz a
Sacrosanctum Concilium, “inseriu também no ciclo anual a memória dos mártires e outros santos, os quais, tendo pela graça multiforme de Deus atingido a perfeição e alcançado a salvação eterna, cantam hoje a Deus no céu o louvor perfeito e intercedem por nós”
[4]. A santa Igreja, como uma boa Mãe, também comemora durante o Ano Litúrgico seus filhos que já partiram para a eternidade, e que estão no purgatório. Por esta razão, ela designou certos dias especiais, chamado
Dia de Finados em que ela oferece orações e serviços memoriais especiais para os fiéis falecidos. Finalmente, a Igreja Militante, também dedica períodos especiais no Ano Eclesiástico em que os vivos são convidados a se envolver em obras espirituais, oração, jejum e penitência em ordem para desenvolver sua vida espiritual mais plenamente. “Finalmente”, diz a
Sacrosanctum Concilium, “em várias épocas do ano e seguindo o uso tradicional, a Igreja completa a formação dos fiéis servindo-se de piedosas práticas corporais e espirituais, da instrução, da oração e das obras de penitência e misericórdia”
[5]. Em resumo, nosso Ano Litúrgico é um hino poderoso de honra e glória a Deus, em que a Igreja tripla toma parte – a Igreja Triunfante nos céus, a Igreja Padecente no purgatório, e a Igreja Militante na terra. Como um arco-íris colorido, nosso Ano Litúrgico une a terra aos céus, e ilumina, purifica, santifica e nos eleva a Deus.
[1] Lc 4,18-19.
[2] Sacrosanctum Concilium, 102.
[3] SC, 103.
[4] SC, 104.
[5] SC, 105. Fonte: KATRIY, Yulian Yakiv.
Conheça o seu rito: o ano litúrgico da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Roma: PP. Basiliani, 1982.
Pe. Yulian Yakiv Katriy, OSBM
(1912 - 2000) Doutor em Filosofia e autor de diversos livros.
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