O culto à Santíssima Mãe de Deus nas Igrejas Orientais

A Igreja universal professa Maria, Mãe de Nosso Senhor, Jesus Cristo, como Mãe de Deus e sempre Virgem e lhe rende culto nas festas do ano litúrgico e nos ícones. Nas solenidades marianas, a Igreja recorda liturgicamente os principais acontecimentos da vida da Mãe de Deus: sua concepção em santa Ana[1], Natividade, Apresentação no Templo, Anunciação, Encontro e Assunção, divisando nela o modelo para o nosso crescimento na santidade.

O ícone“Sinal” representa Cristo no colo da Virgem, sinal preanunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 7, 14). O ícone “A Guia” (em grego Odiguítria) representa a Mãe de Deus com a mão apontando a Cristo – caminho, verdadee vida (cf. Jo 14, 6). O ícone “Ternura” representa o terno abraço entre a Mãe e o Filho. O ícone “Mãe de Deus do Perpétuo Socorro” representa a visão do Menino Deus da futura Paixão e põe ênfase na “compassividade” da Mãe de Deus nos padecimentos de seu Filho. O ícone “Orante” (em latim Oranta = a que ora) representa a Santíssima Mãe de Deus com as mãos levantadas em oração, como protetora do gênero humano perante o Pai celeste.

A Igreja dirige-se com desvelo à Mãe de Deus, a primeira mulher divinizada, com as palavras: “Santíssima Mãe de Deus, salvai-nos!”, entendendo que o que salva é a graça de Deus que está nela. Sua morte serena e suave, como o sono, morte na plenitude da graça resultou no seu despertar para o céu e recebeu o nome de “Dormição”. A Dormição da Mãe de Deus é apresentada no ícone da festa como “nascimento” para o céu: Cristo tem nos braços a alma de Maria envolta em faixas. Na festa da Dormição, a Igreja professa que a Mãe de Deus não sofreu na morte a corrupção corporal, mas “foi transportada, transferindo-se da terra para as mansões celestes”[2], foi levada de corpo e alma pelo Senhor à glória celeste[3]. A Mãe de Deus foi a primeira dentre o gênero humano que foi glorificada em seu corpo, o que é imagem também da nossa ressurreição. A Mãe de Deus, sendo Mãe da Vida, transportou-se à Vida e “na Dormição não deixou o mundo”[4]. Sua perene intercessão diante do Criador a Igreja celebra na festa da Proteção da Santíssima Mãe de Deus (Nossa Senhora do Patrocínio): “A Virgem está presente na Igreja e com os coros dos santos intercede invisivelmente por nós diante de Deus”[5].

O culto à Santíssima Mãe de Deus na tradição de Kyiv

O culto à Mãe de Deus tem profundas raízes na tradição de Kyiv. Já o príncipe Iaroslav Mudryi tinha confiado a Rush-Ucrânia sob a proteção da Santíssima Mãe de Deus. Em sua honra, foram construídas numerosas igrejas, e também foram pintados muitos ícones. Os mais célebres ícones do período do principado são ícones de estilo bizantino: o de Vyshorod (hoje de Volodymyr) e o de Belz (hoje de Czenstochowa). Na esteira dessa tradição, desenvolveu-se uma iconografia ucraniana autônoma. Nos ícones ucranianos, os traços do rosto da Mãe de Deus são delicados e suaves, o olhar vivo e carinhoso.

[1] O Papa Pio IX com a bula Ineffabilis Deus (“Inefável Deus”), (8 de dezembro de 1854), proclamou o dogma da Imaculada Conceição da Imaculada Virgem Maria: “A Santíssima Virgem Maria, por especial graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi, desde a sua concepção, livre de toda a mancha da culpa original” (DS 2803), e também CIC, 491.

[2] Meneia: Dormição da Santíssima Soberana nossa, Mãe de Deus e sempre Virgem Maria (15/28 de agosto), vésperas menores, estrofe no “A Vós eu clamo”.

[3] Catecismo da Igreja Católica, 966 e 974. O Papa Pio XII, com a bula Munificentissimus Deus (1 de novembro de 1950), proclamou o dogma: “A Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminando a vida terrena, foi assumida de corpo e alma à glória celeste”.

[4] Meneia: Dormição da Santíssima Soberana nossa, Mãe de Deus, e sempre Virgem Maria (15/28 de agosto), tropário.

[5] Meneia: Proteção da Santíssima Mãe de Deus (1/14 de outubro), contáquio.

Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 311-314.

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