“Deus se fez homem, para que o homem se torne Deus”

“Deus se fez homem, para que o homem se torne Deus”[1]

Deus está presente no mundo desde a sua criação, por meio de sua graça: “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28). Deus revelava a si mesmo progressivamente, até à “plenitude” dos tempos: “Quando chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho” (Gl 4, 4). O Filho de Deus – “Verbo do Pai” – revela o Pai ao mundo: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14, 9); “Eu estou no Pai e o Pai em mim” (Jo 14, 11). ele é Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1, 1).

A encarnação do Filho de Deus, segundo o plano divino, deu-se na “plenitude do tempo” (cf. Gl 4, 4). O nascimento do Filho de Deus tornou-se o centro da história da humanidade, revelando como “Deus amou o mundo” (cf. Jo 3, 16). A união de Deus com a criatura na encarnação é verdadeiro “esvaziamento” (em grego, kénosis): “Ele [Cristo] tinha a condição divina […], esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fl 2, 6-7). Cristo assumiu a ‘condição de servo’ sem a mancha do pecado, “engrandecendo o humano, sem diminuir o divino”[2]. Na união do divino com o humano, “o Verbo tornou-se acessível; o Invisível se fez visível; o Intocável é possível tocar; o Intemporal entrou no tempo, o Filho de Deus se tornou filho humano!”[3].

São Gregório de Nissa afirma que “o esvaziamento de Deus é manifestação de seu poder, e nesse esvaziamento não há nenhum prejuízo, mesmo no tocante à sua natureza”[4] No “esvaziamento” de Deus, ‘o Verbo se fez carne’ e aproximou-se de nós, assumindo nosso corpo e nosso sangue”[5]; no Jordão, o Filho de Deus sem pecado recebeu o batismo como um pecador; sob Pôncio Pilatos foi condenado junto com os malfeitores; pela sua crucificação ele desceu às profundezas do sofrimento humano e da morte, para que no “sheol”, isto é, na “morada dos mortos”, encontrasse o primeiro Adão (o homem)[6].

Deus toma a nossa semelhança humana, torna-se igual a um homem, para nos tornar semelhantes a si mesmo (cf. Fl 2, 7). No seu esvaziamento, o Filho de Deus desceu ao Sheol e, encontrando lá Adão; concedeu ao homem o perdão dos pecados, a participação na natureza divina e a vida eterna. “O Verbo se fez homem, a fim de que nós alcançássemos a divinização”[7]. O homem “em Adão”, por sugestão da serpente, em vão ambicionava “tornar-se como Deus” por esforços próprios (cf. Gn 3, 5). “Outrora Adão foi iludido, pois quis tornar-se Deus e não se tornou. Foi Deus que se tornou homem, para tornar Adão deus”[8]. O homem “em Cristo”, pela semelhança a Deus, pode realmente “tornar-se como Deus”: “foram-nos dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina” (2Pd 1, 4).

[1] Cf. Atanásio de Alexandria: Sermão sobre o Verbo Encarnado, 54.

[2] Cf. Leão Magno: Epístola 28. A Flaviano, bispo de Constantinopla, 3.

[3] Gregório de Nazianzo: Sermão 38, Epifania ou Natal do Salvador, 2; 13.

[4] Gregório de Nissa: Grande sermão catequético, 24.

[5] Cirilo de Alexandria: Anatematismos, 5.

[6] “O esvaziamento de Deus é manifestação de sua força, para a qual no esvaziamento não há nenhum obstáculo, nem ao que se refere à sua natureza “ (Gregório de Nissa, Grande discurso catequético, 24).

[7] Atanásio de Alexandria: Sermão sobre o Verbo encarnado, 54.

[8] Triódio da Grande Quaresma: Quinta semana da quaresma, sábado, vésperas, estrofe no “A vós eu clamo”.

Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 178-181.

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