O mundo visível e invisível

O Símbolo da Fé nos mostra duas dimensões do mundo criado por Deus, a visível e a invisível. Sobre a unidade na criação, de todas as coisas visíveis e invisíveis nos fala São Máximo Confessor. Apoiando-se nas palavras do santo apóstolo Paulo que diz: “tudo” foi criado por Cristo e para Cristo (cf. Cl 1, 16-17); ele entende esse “tudo” como aquilo que é visível terreno e o invisível celeste, o visível humano e o invisível angélico. Cristo, encarnando-se, vinculou-se indissoluvelmente com as criaturas no “corpo e sangue” de sua natureza humana[1]. Toda a criatura, visível e invisível, existe não por força de sua própria natureza, e sim graças à ação do Filho de Deus.

Os anjos, entidades celestes incorpóreas (espíritos)[2], “têm a sua existência por vontade do Pai, iniciam a sua existência pela ação do Filho e se completam na existência pela presença do Espírito Santo”[3]. Como Mente suprema, Deus criou as mentes angélicas, tornou-as partícipes da inefável glória divina, formou o seu ser incorruptível. Os anjos são luzeiros que refletem a luz divina; eles receberam a vida eterna da Vida primeira. Contemplam a Glória e a Sabedoria eterna; por isso, como espelhos, são plenos de luz[4].

A existência do invisível mundo angélico testemunha sobre a riqueza e a diversidade do mundo criado por Deus. O visível e o invisível pertencem a todo o criado, que Deus vê como “bom”. Como pessoas, homens e anjos, têm a possibilidade de estabelecer relações pessoais e espirituais com Deus e entre eles mesmos: “Hoje as coisas do alto celebram com as coisas daqui da terra, e as coisas daqui confabulam com as coisas do alto”[5].

A Anáfora da Liturgia de São Basílio Magno menciona nove ordens angélicas: “Louvam-vos os anjos, arcanjos, tronos, dominações, principados, potências, virtudes e os querubins multiocelados. Em torno de vós estão os serafins”. As ordens angélicas são chamadas de “coros” pela sua comunhão com Deus e entre eles mesmos. Os anjos entoam incessante “louvor a Deus”, permanecem na luz da glória divina.

Na Sagrada Escritura, os anjos são representantes da presença de Deus no mundo, anunciando aos homens a vontade de Deus. Alguns deles a Sagrada Escritura menciona pelo nome: Miguel (cf. Ap 12, 7; cf. Jo 1, 9), Rafael (cf. Tb 12, 15), Gabriel (cf. Lc 1, 19.26). Os anjos ajudam as pessoas no seu crescimento espiritual (cf. Hb 1, 14). A Tradição da Igreja nos ensina que Deus confia a cada pessoa um anjo-da-guarda: “Colocastes os anjos como defensores”[6]. A unidade das criaturas visíveis e invisíveis – homens e anjos – manifesta-se na Divina Liturgia, onde o terreno representa o celeste, e os homens celebram junto com os anjos: “Representando misticamente os querubins, e cantando o hino de louvor à Santíssima e vivificante Trindade […]: Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus do universo! O céu e a terra proclamam a vossa glória. Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor”[7].

[1] Máximo Confessor: Pergunta a Talásio, 35.

[2] Devocionário “Vinde, adoremos”, orações cotidianas, domingo: Oração à Santíssima Trindade.

[3] Basílio Magno: Sobre o Espírito Santo. A Anfilóquio, bispo de Icônio, 16, 38.

[4] Cf. Octoico: Melodia 1, segunda-feira, matinas, cânon, tropários 7, 8.

[5] Eucológio: Rito da grande santificação da água na Epifania, segunda oração.

[6] Anáfora da Liturgia de São Basílio Magno.

[7] Cf. Divina Liturgia de nosso Santo Padre João Crisóstomo, Hino Querubínico, Anáfora.

Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 113-117.

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