Como se formou a iconóstase

Uma especial particularidade de cada templo do rito oriental é a iconóstase. A Igreja latina não conhece iconóstases. A palavra grega “eikon” significa imagem, ícone, e “stasis” significa o lugar onde está alguma coisa. Portanto, iconóstase é uma parede, ornada de ícones. Os santos ícones na iconóstase formam uma unidade artística, lógica e harmônica. A grande veneração dos santos ícones na Igreja Oriental veio a criar a iconóstase. Vejamos como aconteceu a sua evolução, formação e simbologia.

Evolução da iconóstase

A iconóstase, no aspecto que nós a vemos hoje, não é relativamente antiga, pois remonta apenas aos séculos XVI-XVII. No entanto, ela começou a se formar já nos primeiros séculos da era cristã. Até o século IV, entre a recinto dos fiéis e a abside, ou “santuário”, não havia nenhuma separação. Naqueles tempos, os fiéis podiam ir até ao altar receber a Santa Comunhão. Esta divisória ou grade surgiu somente no tempo do imperador Constantino (+ 337). O historiador Eusébio (+- 340), descrevendo um templo em Tiro, que foi construído pelo imperador Constantino, diz: “Para que o ábside não fosse acessível para todos, Constantino fechou-o com uma grade, adornada com entalhes artísticos”. Fez isso porque os fiéis chegavam muito perto do altar e os sacerdotes tinham pouco espaço para a celebração. Às vezes, servia como divisória uma cortina, como era no templo do Antigo Testamento.

Qual era o aspecto dessa divisória? Ela era feita de coluninhas bem entalhadas, parecidas com as colunadas nos balcões ou em forma de um gradil, de um anteparo de madeira, que permitia ver através dela, ou transparente, em ambos os casos ornada de belos entalhes.

Essa divisória era comum, tanto no Oriente como no Ocidente. Na Igreja latina ela permaneceu inalterada até os dias de hoje, e no Oriente ela evoluiu para a iconóstase. Como isso aconteceu?

A evolução da iconóstase durou longos anos. Sua origem foi justamente a mencionada divisória. Sob o imperador Justiniano (+ 565), ela sofreu uma significativa mudança. Ele ordenou que na igreja de Santa Sofia em Constantinopla colocar na divisória doze colunas, mas bastante mais altas que a divisória. Sobre essas colunas, para efeito estético, foi estendido uma viga-painel. Esse foi propriamente o início da iconóstase. Para que esse painel tivesse boa aparência e favorecesse uma atitude de oração, então do lado dos fiéis ele foi sendo ornado de cruzes e diversas imagens sacras.

O imperador Basílio Macedônio (867) ordenou que na igreja que ele tinha construído em honra de Nosso Salvador fosse representado no painel uma imagem de Jesus Cristo. Logo depois, em vez de pintar imagens no próprio painel, começaram a fixar íncones já prontos sobre tábuas separadas. Após o primeiro ícone veio um segundo, depois um terceiro, e assim por diante, dessa maneira a iconóstase foi evoluindo.

Naqueles tempos, quando a Rus-Ucrânia por iniciativa de São Valdomiro recebeu de Bizâncio a fé cristã, ainda não havia iconóstases na forma atual. As iconóstases gregas por princípio costumam ser baixas e normalmente têm apenas uma fileira de ícones. Iconóstases altas, com várias fileiras de ícones, se desenvolveram na Rússia, e de lá se difundiram em todas as nações eslavas. O bispo Macário (+ 1497) tinha construído na catedral de Santa Sofia em Novgorod (Rússia), portas régias duas vezes mais altas e mais largas, de como era usual na época. Junto com as portas régias, a própria iconóstase foi elevada mais alto.

Como é a iconóstase hoje?

A forma da iconóstase com o decorrer do tempo sofreu várias mudanças e só aos poucos foi fixando o seu esquema costumeiro. Originalmente, na iconóstase havia apenas uma fileira de ícones. Depois foi acrescentada uma segunda, daí uma terceira, uma quarta, quinta e, finalmente, uma sexta e sétima fileira. Uma iconóstase completa pode ter até 50 ícones. Numa igreja em Lviv (Ucrânia) havia uma iconóstase do século XVI, que tinha sete camadas e setenta ícones.

Como são distribuídos os ícones na iconóstase? A primeira fileira, na parte inferior, tem geralmente quatro ícones, que são chamados de “vicários”. Nessa fileira, do lado direito das portas régias fica o ícone de Jesus Cristo Mestre, e do lado esquerdo o ícone da Santíssima Virgem Maria. Ao lado do ícone de Cristo, normalmente fica o ícone do padroeiro da igreja, e do lado da Santíssima Mãe de Deus fica a imagem de São Nicolau.

Acima desses quatro ícones principais, numa segunda fileira, ficam os ícones menores das doze festas do Senhor e da Mãe de Deus que se celebram no ano, e acima da porta régia é o lugar da imagem da Santa Ceia. Na terceira fileira, os ícones dos doze apóstolos e, entre eles, o Cristo Pantocrátor sentado no trono, simbolizando o objeto de sua pregação. A quarta fileira é constituída pelos ícones dos profetas e, no meio, o ícone da Santíssima Mãe de Deus com o Menino Jesus em seus braços, simbolizando o tema de suas profecias. Na quinta fileira, vêm os ícones dos Patriarcas do Antigo Testamento e, no meio deles, Deus Pai, com o Filho e o Espírito Santo. No lugar mais alto, o ícone do Cristo Crucificado e, junto a ele, a Santíssima Virgem Maria e o santo evangelista João.

No centro da iconóstase está uma porta que conduz ao altar e que é chamada de “porta régia”. A Igreja grega nunca chamou essa porta de “régia” e não as chama assim até hoje. Os gregos a chamam de “porta santa”. A denominação “porta régia” se refere não ao Rei celeste, e sim ao rei terrestre. Em Bizâncio antigamente a principal porta de entrada para o interior do templo era chamada de “porta régia”, porque ela era aberta somente para os reis e imperadores, para que esses pudessem entrar na igreja. Na Rus-Ucrânia, a “porta régia” foi assim chamada não mais tarde que a partir do metropolita Cipriano (+1406). No regimento litúrgico, ela é até hoje é chamada de “porta santa”. Na porta santa vemos um ícone da Anunciação de Nossa Senhora, com a qual teve início a nossa salvação, e também os quatro evangelistas, mensageiros do Evangelho de Cristo.

Além da “porta santa”, a iconóstase tem ainda duas portas laterais, que são chamadas respectivamente “porta norte” e “porta sul”, ou “portas diaconais”. Nessas portas laterais estão ícones de anjos ou dos santos diáconos Estêvão e Lourenço.

Simbologia da iconóstase

A iconóstase nos oferece ilustrada nos ícones toda a história da nossa salvação. Estão nela representados o Antigo e o Novo Testamento. Nela é representada a história da salvação do gênero humano. Nela é apresentada o ensinamento do santo Evangelho.

A iconóstase pode também ser chamada de livro aberto da revelação divina, que pode ser lido por qualquer pessoa, seja ela letrada ou analfabeta, culta ou não culta. Por isso, a iconóstase tem um grande significado para todo o cristão. Ela é um símbolo da fé dos santos Padres, dos nossos antepassados. Ela deve fortalecer também a nossa fé.

A iconóstase é o símbolo do amor a Deus e ao próximo. Nela contemplamos o amor de Deus para conosco. Ela nos ensina a venerar e amar a Imaculada Virgem maria, que nos gerou o nosso Salvador, Jesus Cristo. Nela vemos o O sacrifício é a linguagem do amor. E a iconóstase é o símbolo do sacrifício do Filho de Deus, que morreu por nós na cruz. O servo de Deus, metropolita Andrey Sheptytskyy, OSBM, fala o seguinte sobre o sentido da iconóstase: “A parte que está atrás da iconóstase, onde está o altar e onde é celebrada a Santa Missa, é a imagem do céu. E a parte onde está o povo, é a imagem da Igreja na terra. A iconóstase é como que a porta para o Reino de Deus eterno. Em uma palavra, na iconóstase está reunido tudo aquilo que Jesus Cristo dá na Santa Igreja para os cristãos, tudo aquilo que Ele fez por eles. Tudo está representado nas pinturas, tudo aquilo que a Igreja ensina para os homens e todo o caminho que conduz os homens ao céu” (Carta pastoral sobre a Igreja, 14.I.1901).

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