A Solenidade dos Três Hierarcas | Série: Conheça o seu Rito

“A Igreja está celebrando hoje a distinguível solenidade dos Três Mestres, pois eles fortaleceram a Igreja pelos seus dogmas divinos”

(Sessional do Serviço das Matinas da Solenidade).

No dia 30 de janeiro, nós celebramos a memória de três grandes e muito excepcionais bispos, mestres, pregadores e Padres da Igreja Oriental: são Basílio Magno, são Gregório, o Teólogo, e são João Crisóstomo. Entre o nosso povo esta solenidade é conhecida como a solenidade dos “Três Santos”. Estes três hierarcas (bispos) foram gigantes da fé, da coragem, da santidade e da erudição. Eles nos entregaram a pura fé do Concílio de Niceia; eles expuseram os dogmas da Santíssima Trindade, da divindade de Cristo e da Santa Eucaristia. Por causa dos seus grandes méritos, em sua liturgia, nossa Igreja Oriental os chama de isoapóstolos, instrumentos do Espírito Santo, colunas da Igreja e mestres universais do mundo todo. Todos os três viveram no século IV – a era de ouro da fé cristã. São Basílio e são Gregório são filhos da Capadócia, na Ásia Menor, amigos íntimos de aproximadamente mesma idade. São João Crisóstomo, um antioqueno, era mais jovem do que os outros dois em 20 anos. O zelo apostólico pela santa fé e salvação das almas os uniram.

Características Proeminentes dos Três Hierarcas

  1. São Basílio Magno (329-379)

Os pais e avós de são Basílio Magno eram distintos patrícios, influenciadores e destemidos defensores da santa fé. As habilidades singulares de Basílio e incomum consciência despertou seu insaciável desejo de erudição e seus amplos meios financeiros, deram-lhe acesso às mais finas escolas de erudição e aos professores mais renomados de seu tempo. O historiador britânico, F. Farrar, descreve são Basílio desta maneira: “Suas características e comportamento, sua aparência esguia, seu semblante pálido, seus olhos atentos, e costumes solenes – testemunham o seu nascimento – sua origem nobre. A excelência natural de seu caráter deixava seus inimigos tímidos. Ele era um líder nato que por meio da humildade cristão superou, com dificuldade, sua consciência natural de sua própria superioridade”[1].

O venerável metropolita Andrey Sheptytskyy, OSBM, em sua introdução para as Obras Ascéticas de Nosso Padre Basílio Magno, descreve são Basílio assim: “Basílio era um homem que adquiriu uma educação bem equilibrada em todos os ramos da erudição contemporânea; ele era um orador excelente, um especialista incomparável em Sagradas Escrituras, um eminente dogmático e polemista em sua batalha contra os arianos”.

São Basílio, por natureza, era um asceta e um teólogo. Como arcebispo de Cesareia, ele brilhou como um defensor heroico da santa fé, um organizador eficiente, excelente orador, escritor distinto, reformador dos serviços litúrgicos, zeloso protetor dos órfãos e dos pobres, e um proeminente legislador da vida monástica comunitária. Por causa de seus méritos, a santa Igreja lhe concedeu o título de “Magno”. Nossa Igreja recorda a sua memória no dia 1º de janeiro, dia de sua morte.

  1. São Gregório, o Teólogo (c. 326-390)

São Gregório foi nomeado por seu pai, que era um bispo em Nazianzo, na Capadócia. Antes mesmo dele nascer, sua piedosa mãe, Nona, fez uma promessa de oferece-lo para o serviço de Deus. Depois dele ter crescido em maturidade, ela lhe presenteou com a Sagrada Escritura, dizendo: “Como prometi antes mesmo do vosso nascimento, agora vos ofereço a Deus; eu vos imploro, pois, para cumprir o meu desejo. Nascestes como um resultado das minhas orações. Por isso, agora rezo para que sejais perfeito. Confio em vós, meu filho, este precioso tesouro. Usai-o durante toda a vossa vida, e no futuro recebereis ainda mais bênçãos”.

São Gregório, assim como são Basílio, recebeu uma completa educação nas melhores escolas de erudição. Em sua jornada para estudar em Atenas, seu barco foi pego em uma tempestade feroz no mar. Naquela época, ele ainda não havia sido batizado, e temendo que morresse sem o santo batismo, ele fez uma promessa de que se ele saísse da tempestade com segurança, ele se consagraria ao serviço de Deus. Em Atenas, ele conheceu são Basílio e eles se tornaram amigos fieis e assim permaneceram durante todas as suas vidas. São Gregório fala brevemente sobre a vida deles em Atenas: “Nós conhecemos apenas dois caminhos – uma para a Igreja, outro para a escola para estudar”.

Seu pai o ordenou ao presbiterado, e mais tarde são Basílio o apontou como bispo de Sásima. São Gregório foi arcebispo de Constantinopla por muitos anos. Ele se distinguiu como um profundo pregador; seus sermões são pérolas e obras-primas de sua sacra eloquência. São Gregório tinha grande devoção pela Santíssima Trindade, considerando este dogma como fundamento da religião cristã. Por causa de seu profundo conhecimento de teologia, ele recebeu o título de “o Teólogo”. Em Bizâncio, ele era chamado de Demóstenes cristão.

  1. São João Crisóstomo(347-407)

São João Crisóstomo nasceu em Antioquia e trabalhou lá por muitos anos como um zeloso sacerdote e um incansável evangelista. A pregação era uma parte inseparável de sua vida e alma. “Eu não posso permitir passar um dia”, ele disse para sua comunidade, “sem vos oferecer o alimento dos tesouros da Sagrada Escritura”. Embora ele fosse frágil, mesmo assim ele considerava adquirir força cada vez que ele ascendia ao ambão para pregar. Ele próprio falava disso: “Pregar me faz saudável. Tão logo eu abro minha boca, toda fadiga me deixa”. Ele cativava grandes multidões de pessoas por seus sermões. A maioria de suas homilias eram orientadas pela Escritura, e nestas homilias ele belamente explicava muitas partes do Antigo e do Novo Testamento. Por seus ardentes e comoventes sermões, ele recebeu o título de “Crisóstomo = Boca Dourada”. São João Crisóstomo, como presbítero e bispo, era completamente dedicado à sua Igreja e aos seus fieis. Ele era um grande amigo e protetor dos pobres, viúvas e órfãos. Por causa de seus talentos ilustres, ele foi elevado para o trono arquiepiscopal na cidade de Constantinopla.

São João Crisóstomo era um zeloso e completamente dedicado pastor, um magnífico orador, e um grande mestre da fé e moral. Ele deixou mais de 800 sermões, um livro sobre o sacerdócio, e inúmeras cartas. Na Rus’-Ucrânia, durante o período do Estado de Kyiv, outros sermões não eram tão amplamente conhecidos e lidos como os dele. Muitas traduções e seleções de seus irmãos apareceram durante o período pré-mongol, sob nomes como: “Zlatoust” (o boca dourada), “Zlatostruy” (canal dourado), “Izmaragd” (esmeralda, em grego), “Marharyt” (pérola, em grego). A coleção do príncipe Sviatoslav (1033) contém seleções das obras de João Crisóstomo, Basílio Magno, Gregório, o Teólogo, Atanásio, o Grande, Gregório de Nissa e outros. Nós celebramos a memória de são João Crisóstomo duas vezes ao ano, no dia 13 de novembro, o dia de sua morte, e no dia 27 de janeiro, o translado de suas relíquias.

A Instituição desta Solenidade

A solenidade dos Três Hierarcas é uma das mais recentes solenidades da Igreja Grega. Uma grande disputa na segunda metade do século XI impulsionou a instituição desta solenidade. Esta controvérsia cresceu entre os cristãos sobre qual destes três santos contribuiu mais para a Igreja. Alguns pensavam que são Basílio era o maior, outros são Gregório, o Teólogo, e outros, são João Crisóstomo. Aqueles que advogavam a favor de são Basílio eram chamados de basilianos, aqueles de são Gregório – gregorianos, e aqueles de são João Crisóstomo – joanitas. A disputa foi estabelecida por três bispos. Cada um separadamente, e mais tarde três bispos juntos, apareceu a João, bispo da cidade de Euceta (um subúrbio de Constantinopla), que era conhecido por sua sabedoria, erudição e virtude, e disse: “Nós, como podeis ver, sois um diante de Deus e não há nada entre nós, diferentemente inspirado pelo Espírito Santo, ensinado que fosse necessário para a salvação do homem. Embora não haja primeiro nem segundo entre nós, mas como chamais um então os outros são chamados. Surgiu, então, e ordenou aqueles que estão arguindo sobre nós, não os dividir, pois assim como na vida, assim também após a morte, nosso objetivo é trazer pessoas de todos os cantos da terra para a paz e a unidade. Instituída, então, a celebração de nossa memória no mesmo dia, assim como nós três estamos na mesma posição diante de Deus, e nós devemos ajudar aqueles que alcançam a salvação, assim quem deve celebrar a nossa memória”.

Em 1076, o bispo João fez como os três bispos ordenaram. Contudo, pelo fato da santa Igreja já ter celebrado a memória de cada um separadamente, ele designou o dia 30 de janeiro como o dia para sua solenidade comum. Em adição a isso, ele fez um sermão em honra deles, e compôs tropários, cânones e estrofes. Nossas crônicas no final de 1076 mencionam a instituição da solenidade na Grécia.

Os Três Hierarcas no Serviço da Solenidade

O serviço da solenidade belamente louva e glorifica os Três Hierarcas pelo fervente amor a Deus e ao próximo, fé inabalável, importância para a santa Igreja, ilustres virtudes, sabedoria e intercessão. “Basílio – intelecto divino”, nós cantamos nas estrofes posteriores do serviço das pequenas Vésperas, “Gregório – a divina voz, João – a mais linda lâmpada. Possam eles ser glorificados, estes três distintos representantes e ministros da Trindade”. Nas estrofes posteriores da serviço das Vésperas Solenes, nós cantamos: “Instrumentos do Espírito Santo, e trombetas do divino trovão, luzeiros de pregação, dourados, portadores da luz, resplandecentes lâmpadas de Deus: bem-aventurado Basílio, sensato Gregório e venerável João, implorai a Cristo nosso Deus para que salve aqueles que vos honram”.

Nas estrofes das Vésperas, Matinas, e nos cânones nós encontramos expressões elogiosas e sublimes e comparações com as quais a Igreja expressa sua admiração, respeito, louvor e veneração aos Três Hierarcas. Aqui estão algumas das expressões: “homens de Deus”, “vasos eleitos”, “pilares e suporte da Igreja”, “defensores da Trindade, fortalezas de piedade”, “divinos e sábios mestres”, “instrumentos do Espírito Santo, verdadeiras trombetas, oradores da palavra”, “anjos terrestres, homens celestes”, “distintos vasos do Espírito, sólidos defensores da fé, pilares da Igreja, apoio dos fieis, consolação de todos os pecadores”, “correntes oceânicas, fontes transbordantes, água-viva que jorra, joias límpidas, luzeiros da terra, timoneiros eclesiásticos, árvores ricas em frutos, tesouros de graça, bocas de Cristo”.

Tendo diante de seus olhos sua grandiosidade, méritos e importância diante de Deus, a santa Igreja convoca os fieis a dar o digno louvor aos Três Hierarcas: “Tendo vindo juntamente com sons dignos de louvores, amantes das solenidades, vamos louvar os santificadores de Cristo e a glória dos Padres, os pilares de fé, mestres e defensores dos fieis. Vamos saudar cada um deles por sua vez: Ave, luminário da Igreja, pilar imutável, sábio Basílio! Ave, celeste mestre e grande hierarca, Gregório, o Teólogo! Ave, João da voz dourada, esplêndido pregador de piedade. Padres espiritualmente ricos, nunca cessais de rogar a Cristo em favor daqueles que com fé e amor observam vossa sagrada e sublime solenidade”.

[1] FARRAR, F. Vida dos Padres, v. II.

Fonte: KATRIY, Yulian Yakiv. Conheça o seu rito: o ano litúrgico da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Roma: PP. Basiliani, 1982.

Pe. Yulian Yakiv Katriy, OSBM
(1912 - 2000) Doutor em Filosofia e autor de diversos livros.

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