“A verdadeira felicidade é gozar o presente, sem uma dependência ansiosa do futuro, não nos divertir com esperanças ou medos, mas ficar satisfeitos com o que temos, o que é suficiente, para quem não quer nada. As maiores bênçãos da humanidade estão dentro de nós e ao nosso alcance. Um homem sábio está contente com sua sorte, seja o que for, sem desejar o que não tem.” – Sêneca
Trancado na prisão por Henry Bolingbroke (Henry IV) em Richard II de Shakespeare, Richard II faz um discurso assustador sobre seu destino sem esperança. Uma linha se destaca, ao captar perfeitamente, a realidade de quase todos os seres humanos – de fato, parece que ela foi extraída de De brevitate vitae, de Sêneca.
“Eu perdi tempo”, diz Richard II, “e agora o tempo me desperdiça.”
Achamos que é tempo de perder. Até dizemos: “Temos duas horas para matar” ou falamos de tempo morto entre projetos. A ironia! Porque o tempo é quem está nos matando. Cada minuto que passa não é apenas morto para nós, mas também nos aproxima de estarmos mortos. É o que Richard II realiza naquela cela da prisão. Só agora ele percebe que cada segundo que passa é uma batida do seu coração que ele não voltará, cada sino que marca a hora cai sobre ele como um golpe.
Sêneca escreve que pensamos que a vida é curta, quando na realidade a desperdiçamos. O momento presente – é a coisa mais valiosa que você possui. É a única coisa que você tem. Não desperdice. Aproveite. Viva isso. Abaixo estão algumas das técnicas de Sêneca sobre o tempo. Medite-as. Volte para elas frequentemente. Mas o mais importante, aplique-as.
Memento Mori: Lembre-se de que você vai morrer
“Este é o nosso grande erro: pensar que estamos ansiosos pela morte. A maior parte da morte já se foi. O que quer que o tempo tenha passado pertence à morte.” – Sêneca
No fundo, todos sabemos que não vamos viver para sempre. Mas quando esse pensamento de nossa própria morte surge à superfície, desencadeado por uma notícia ou pela morte de alguém próximo a nós, fazemos todo o possível para calar a boca. Não podemos compreender o fato de que deixaremos de existir e que, em última análise, o mundo continuará a avançar como antes de nascermos. O pensamento disso inspira tanto pânico e medo em nossos corações que a maioria de nós recorre a pequenas distrações. Nós assistimos séries e mais séries, tudo em um esforço para excluir o pensamento de nossa própria mortalidade. O que também é, paradoxalmente, mais desperdício dos preciosos minutos que nos restam.
Os estoicos, no entanto, praticavam o oposto. Em vez de fugir do pensamento de sua própria morte, eles a enfrentavam ativamente todos os dias. Em suas Meditações, Marco Aurélio escreveu: “Você poderia deixar a vida agora. Deixe isso determinar o que você faz, diz e pensa”. Isto era para ele um lembrete de que seu tempo estava acabando e que ele não deveria deixar de ser uma boa pessoa, ou fazer as coisas que precisava para fazer.
Valorize seu tempo mais do que suas posses
“As pessoas são frugais em guardar suas propriedades pessoais; mas assim que chega a hora de desperdiçar, eles desperdiçam mais a única coisa em que é certo ser mesquinho.” – Sêneca
O que é irônico nessa citação é que Sêneca foi um dos homens mais ricos de Roma durante sua vida. O que não é irônico é que, apesar de sua riqueza fabulosa, Sêneca parecia indiferente a isso. Em De brevitate vitae, ele escreveu: “Portanto, é inevitável que a vida não seja apenas muito curta, mas também muito infeliz para aqueles que adquirem com grande esforço o que devem manter com maior esforço”. E ele também fez questão de se privar periodicamente dos luxos que tinha disponível, para que sua paz de espírito nunca passasse a depender de possuí-los. Ao despir todas as aparências como sempre que podia, ele fez certo de que ele mais valorizado a única coisa que podia realmente perder e nunca mais voltaria, seu tempo. Porque Sêneca sabia que, se ele passasse seu tempo com as coisas que realmente importavam; como reflexão, vínculo com amigos e entes queridos, trabalho importante, o resto de sua vida se encaixaria.
Nós podemos fazer um exercício breve ao olharmos para o nosso tempo em termos monetários. Quanto vale seu tempo para você? R$ 25,00 por hora? R$ 50,00 por hora? Agora, quantas dessas horas por dia você perde? Vamos dizer que desperdiçamos entre 4 e 6 horas por dia. A maioria pode ser em hábitos inadequados de estudo, momentos sem sentido nas mídias sociais, um vídeo do YouTube aqui e ali, e assim por diante. Se você acrescentar isso, até o final do ano, esse valor estará entre R$ 25.000,00 e R$ 100.000,00 por ano em dinheiro perdido, dependendo do número que você escolher.
Se um estranho o procurasse e pedisse emprestado dez mil reais, você quase certamente diria que não. O mesmo vale para alguém que pede emprestado seu carro ou celular. Quando se trata de ver fotos no Instagram por cinco minutos, dez vezes por dia? Achamos que está perfeitamente bem, podemos poupar tempo. Mas esquecemos, sob o reinado de nossos impulsos, que o tempo é a única coisa que nunca poderemos voltar. E a facilidade com que isso pode ser tirado de nós é precisamente o motivo pelo qual temos de protegê-lo com tanta força. É também por isso que precisamos nos dar “tempo para aprender algo bom e novo, e deixar de ser girado”, nas palavras de Marco Aurélio. Porque é apenas dedicando nosso tempo às coisas que realmente importam, fazendo o trabalho profundo, que possamos realmente melhorar e estar em paz.
Seja cruel com as coisas que não importam
“Quantos destruíram sua vida quando você não estava ciente do que estava perdendo, quanto foi desperdiçado em tristeza sem sentido, alegria tola, desejo ganancioso e diversão social – quão pouco foi deixado para você. Você vai perceber que está morrendo antes do seu tempo!” – Sêneca
Uma das coisas mais difíceis de fazer na vida é dizer “não”. A convites, solicitações, obrigações, às coisas que todo mundo está fazendo. Mais difícil ainda é dizer não a certas emoções demoradas: raiva, excitação, distração, obsessão, luxúria. Nenhum desses impulsos parece ser um grande problema por si só, mas, por um lado, eles se tornam um compromisso como qualquer outra coisa. Se você não tomar cuidado, essas são precisamente as imposições que sobrecarregarão e consumirão sua vida. Você já se perguntou como pode recuperar parte do seu tempo, como pode se sentir menos ocupado? Comece aprendendo o poder do “Não!” – como em “Não, obrigado” e “Não, não vou me envolver nisso” e “Não, não posso agora.” Isso pode machucar alguns sentimentos. Pode desligar as pessoas. Mas quanto mais você diz não às coisas que não importam, quanto mais você pode dizer sim às coisas que fazem. Isso permitirá que você viva e aproveite sua vida – a vida que você deseja.
Faça um exame de consciência de seu dia
“De todas as pessoas, apenas as que têm tempo livre para se dedicar à filosofia, apenas vivem verdadeiramente.” – Sêneca
O fio comum entre Sêneca e quase todos os outros grandes pensadores da história era o hábito de refletir e de examinar constantemente o caráter de alguém. A palavra-chave aqui é reflexão. Porque se não reservarmos tempo, mesmo que sejam apenas dez minutos por dia, para nos examinarmos da maneira mais honesta possível, estaremos condenados a continuar repetindo os mesmos erros repetidamente. Há muitas maneiras de fazer isso, mas a preferida por Sêneca era escrever no diário tarde da noite. Ele escreveu: “Quando a luz foi removida e minha esposa ficou em silêncio, ciente desse hábito que agora é meu, eu examino meu dia inteiro e volto para o que fiz e disse, sem esconder nada de mim mesmo, sem deixar passar nada”. Mas ele não foi o único que adotou essa prática.
Apesar de ter o peso de um império nos ombros, Marco Aurélio ainda conseguiu reservar um tempo para refletir tranquilamente e escrever em seu diário, que ainda hoje é lido e orienta as pessoas. Nele, ele se preparava para o dia à sua frente e refletia sobre isso à noite. Tudo em um esforço para se tornar melhor, mais estoico e mais resistente a cada dia que passasse.
Um benefício adicional do registro no diário é que você pode usá-lo para o que quiser. Se você deseja melhorar o gerenciamento do seu tempo, por exemplo, pode começar a manter um registro do que faz todos os dias no final do dia. Preste atenção, particularmente, nos momentos em que você está mais propenso a perder tempo ou se emocionar e nos momentos em que você deixa de cumprir as promessas que fez a si mesmo. Dessa forma, você aprenderá com seus erros, saberá exatamente onde precisa melhorar e será muito mais fácil traçar seu caminho em direção à pessoa que você deseja ser.
Faça isso agora
“Se apossar da tarefa de hoje, e você não precisará depender tanto da de amanhã. Enquanto adiamos, a vida acelera.” – Sêneca, Cartas Morais, 1.2
Há preguiça e depois procrastinação. Os preguiçosos nunca fazem o que deveriam fazer, por várias razões. É muito difícil, leva muito tempo, eles não têm vontade. Aqueles propensos à procrastinação meramente adiam as coisas. Eles dizem a si mesmos: “Oh, eu definitivamente vou fazer isso, mas não neste momento.” “Eu tenho tempo no final da semana.” Isso é a maioria de nós. Nos preocupamos em fazer as coisas importantes. Muitas vezes nos preocupamos tanto que isso nos come na forma de ansiedade. Exceto o que não queremos fazê-lo agora (o que apenas aumenta a ansiedade, é claro), então racionalizamos nossa procrastinação e inventamos cenários perfeitos em nossa cabeça sobre o que nossos futuros seres definitivamente o farão.
Sêneca disse que devemos sempre lembrar “o hábito da sorte de se comportar da maneira que ela quiser”. Esperar não apenas aumenta a chance de não o fazermos com a tendência de caprichos da vida a intervir, mas podemos não ter a mesma sorte de ter um amanhã para adiar. Como escreveu Sêneca em De brevitate vitae, “Adiar as coisas é o maior desperdício de vida: arrebata a cada dia que chega e nos nega o presente prometendo o futuro. O maior obstáculo à vida é a expectativa, que depende do amanhã e perde hoje… Todo o futuro está na incerteza: viva imediatamente”. Se você quiser aproveitar ao máximo o seu tempo, limite a frase “eu vou falar disso mais tarde” no seu léxico. FAÇA ISSO AGORA.
Para que é o tempo livre?
“Lazer sem estudo é morte – uma tumba para a pessoa viva.” – Sêneca
Você merece férias. Você trabalha duro. Você sacrifica. Você se esforça. Está na hora de uma pausa. Pegue a estrada, faça o check-in no hotel e vá para a praia – mas coloque um livro debaixo do braço (e não uma leitura na praia). Garanta que você relaxe como um poeta – não ociosamente, mas ativamente, observando o mundo ao seu redor, absorvendo tudo, entendendo melhor seu lugar no universo. Tire um dia de folga do trabalho de vez em quando, mas não um dia de folga do aprendizado.
Talvez seu objetivo seja ganhar dinheiro suficiente para que você possa se aposentar mais cedo. Bom para você! Mas o objetivo da aposentadoria não é viver uma vida de indolência ou ficar sem tempo, por mais fácil que seja. Pelo contrário, é permitir a busca de seu chamado real agora que uma grande distração está fora do caminho. Ficar sentado o dia todo e não fazer nada? Para assistir uma quantidade infinita de televisão ou simplesmente viajar de um lugar para outro, para que você possa cruzar os locais de uma lista de desejos? Isso não é vida. Também não é liberdade.
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