A Essência da Divina Liturgia

Cristo instituiu a Divina Liturgia como um Sacrifício Incruento do Novo Testamento. É um sacrifício verdadeiro a Deus. Os dons de sacrifício são o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo sob as aparências de pão e vinho. Para entender melhor esta verdade significativa da fé, deve-se saber o que sacrifício significa em geral e como se aplica à Divina Liturgia.

Teólogos católicos dizem que o sacrifício envolve três condições essenciais: 1) um dom de sacrifício, como por exemplo, algo material e visível; 2) um ato de sacrifício pelo qual o dom é oferecido a Deus; e 3) a intenção de prestar homenagem suprema a Deus com o dom ofertado. Estas três condições devem estar presentes para constituir um verdadeiro sacrifício, e elas são encontradas em todos os sacrifícios de cada religião, tanto primitiva quanto civilizada.

A história das religiões mostra que o sacrifício era um fenômeno universal entre todas os povos, até mesmo entre as mais selvagens. Nenhum homem da ciência tem refutado este fato ou descoberto um povo com uma religião cujo ato supremo de culto não fosse um sacrifício. A universalidade e a ubiquidade de ofertar sacrifícios prova que a necessidade de os ofertar é natural para o homem. O homem em todos os lugares e sempre instintivamente tem adorado um Ser Supremo, e não importa o quão distorcida algumas ideias de Ser Supremo podem ter sido, ainda permanece verdadeiro que um Ser Supremo era adorado e que o maior ato realizado nessa adoração era a oferta de dons. O homem pela sua própria natureza chegou à noção de sacrifício. Pelo uso de sua razão, o homem conclui que Deus é a Primeira Causa, o Ser Supremo, o Supremo Juiz, o Supremo Bem. O homem então percebe, e naturalmente expressa, sua inferioridade e dependência prestando a devida homenagem. Não se pode crer em Deus, o Senhor e Mestre, e ainda negar a obrigação de prestar a Ele a devida homenagem. Deus e adoração são duas ideias inseparáveis. Uma sugere a outra. Sacrifício significa ato de adoração. Isso implica fé ativa em Deus. Por meio do sacrifício o homem expressa a sua fé em Deus, reconhece Sua supremacia; e dá a Ele a devida homenagem. Este ato de prestar homenagem a Deus é a mais importante e a condição mais essencial de sacrifício.

No Antigo Testamento o próprio Deus dá ao Povo Escolhido as regras fundamentais para oferecer sacrifício a Ele, protegendo-os assim de erros e aberrações dos sacrifícios pagãos em que até mesmo humanos, incluindo crianças, eram ofertados em holocaustos. Os sacrifícios do Antigo Testamento que eram oferecidos somente no templo, o centro da vida religiosa do Povo Escolhido, eram como precursores do sacrifício do Novo Testamento. O oferecimento dos sacrifícios consistia no sacerdote oficialmente tomar o dom apresentado a ele pelo povo, e o oferecer, para ser queimado ou destruído de alguma maneira. Dons como frutas e pão que não era destruídos ou queimados, tornavam-se propriedade do templo ou do sacerdote.

Aplicando a noção de sacrifício juntamente com suas características essenciais para a Divina Liturgia, percebe-se que a Divina Liturgia possui todos os elementos constituintes necessários para um sacrifício.

Antes de tudo, tem-se no sacrifício da Divina Liturgia um dom visível ou oferta física e material, que, neste caso, não são frutos da terra, um animal, ou algo similar, mas o próprio Jesus Cristo. Na Divina Liturgia, Seu Corpo e Sangue são ofertados por uma pessoa oficialmente autorizada chamada de sacerdote, que, no ato de sacrifício, toma o lugar de Jesus Cristo. Finalmente, o propósito de ofertar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo é oferecer adoração suprema a Deus. Comparando com os sacrifícios do Antigo Testamento em que eram somente símbolos simples da Divina Liturgia, encontra-se que o sacrifício do Novo Testamento é muito superior e que ele é um verdadeiro sacrifício tendo todos os elementos de sacrifício necessários. Ela é o maior e mais perfeito dos sacrifícios já oferecidos pelo homem. Ela é o maior ato de adoração em que um homem presta a maior homenagem e honra possível a Deus. A Divina Liturgia é, como mencionado, o serviço do próprio Deus, e não apenas um serviço prestado pelas pessoas a Deus. Ela é o sacrifício do Deus-Homem pelo Seu povo.

Fonte: SOLOVIY, Meletius M. Divina Liturgia: historia – evolutio – commentarium. Romae: PP. Basiliani, 1964. (Analecta OSBM).

Pe. Meletius M. Soloviy, OSBM
(1918-1984) Doutor em Ciências Teológicas Orientais, Escritor, Historiador, Liturgista e Professor.

Lorem ipsum..

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo