O Eterno Retorno na Filosofia de Friedrich Nietzsche

A vida é uma das maiores incógnitas da humanidade, muitas vezes, as pessoas se deparam com lugares e experiências que parecem já ter sido vividas, então, como alguém se sentiria vivendo a sua vida em forma de looping? O axioma do eterno retorno é um dos mais intrigantes e misteriosos da filosofia de Friedrich Nietzsche, ele é mencionado pela primeira vez na primeira versão do seu quarto livro, que possui o título: A Gaia ciência (MARTON, 2016).

De acordo com Nietzsche, esse pensamento veio do nada, enquanto ele parara sobre uma grande rocha piramidal em uma caminhada num lado na Suíça. O eterno retorno é deferido como uma verdade alegre, ou seja, aquela que seria bem acolhida por alguém que ama a vida ao máximo. Essa ideia, realmente não é figurada em qualquer uma das obras publicadas de Nietzsche. Porém, em sua obra “A vontade de poder”, existe uma seção inteira, dedicada apenas ao eterno retorno. A partir disso, é evidente que Nietzsche começou a levar a sério a possibilidade de que essa doutrina fosse realmente verdadeira. O mesmo inclusive ponderou se matricular em uma Universidade para se graduar em física, com o intuito de investigar essa ideia de acordo com as leis da física

É importante ressaltar, não obstante, que o autor jamais insiste em sua verdade de forma literal em seus escritos publicados. Por outro lado, ele apresenta o Eterno retorno, como uma espécie de experiência de pensamentos, para testar a sua atitude perante a vida. O argumento básico para o eterno retorno é bastante simples, para Nietzsche, se a quantidade de matéria ou energia no universo é finita, então há um número finito de formas em que as coisas no espaço podem ser arranjadas (ALMEIDA, 2005).

Esse é um dos pensamentos mais conflituosos de Nietzsche, e que irá ser concebida como uma das ideias filosóficas mais populares do século XX. Muito embora, evidentemente, o Eterno retorno ter sido proposto ainda ao final do século XIX. É importante enfatizar que a doutrina do eterno retorno é um “processo seletivo”, ou seja, um mecanismo de atribuição de valor. Essa ideia é uma forma de operar uma seleção, uma triagem dos instantes de vida que merecem ser vividos. Ou seja, uma separação dos instantes de vida de êxito, dos momentos de vida fracassados.

Destarte, qualquer um desses “estados” irá constituir o equilíbrio do universo, dessa maneira, seria o caso em que o universo deixaria de mudar, ou ainda, tal mudança seria constante. O tempo é infinito, tanto para frente quanto para trás. Portanto, caso o universo fosse entrar no Estado de equilíbrio, o teria feito. Uma vez que, em uma quantidade infinita de tempo, todas as possibilidades já haveriam ocorrido, desde que claramente ainda não atingiu o seu estado de estabilidade, o universo jamais irá alcançá-lo (NIETZSCHE, 2001).

Portanto, de acordo com Nietzsche, o universo é dinâmico, infinitamente passando por uma sucessão de arranjos diferentes. Todavia, uma vez que exista um finito, embora o número de arranjo seja consideravelmente vasto, eles devem se repetir uma série de vezes, separados por vastas eras de tempo. Ademais, eles já devem ter surgido um número infinito de vezes no passado, e irão fazer novamente um número infinito de vezes no futuro.

A ideia de Nietzsche, é que cada pessoa, irá viver a sua vida novamente, de forma análoga a como está vivendo, em decorrência da finitude da energia do universo, em consonância a sua dinâmica e periodicidade. Variações desse argumento já haviam sido apresentadas por autores antes de Nietzsche, como o político radical francês Auguste Blanc.

É importante salientar que em nenhuma passagem Nietzsche afirma que essa doutrina do Eterno retorno é uma verdade literal, em vez disso, ele aborda que as pessoas devem considerar como uma possibilidade. O autor também pondera como as pessoas iriam reagir caso isso fosse verídico. Ele assume que a primeira reação seria um total desespero coletivo, pois a condição humana é trágica, a vida contém muito sofrimento, e o pensamento de que viver tudo isso de uma forma cíclica, parece ser algo terrível.

Por outro lado, o autor também pondera outras reações, supondo que alguém conseguisse acolher essa notícia e abraçá-la como algo que se deseja. De acordo com o autor, isso seria e expressão máxima de uma atitude de afirmação de vida, ou seja, querer essa vida com toda a dor, frustração e tédio outra vez. Esse pensamento se conecta com uma das passagens do quarto livro de “A Gaia ciência”, que é o de ser um “sim senhor”, um afirmador de vida e de amor fático – o amor ao destino – essa é também a forma como a ideia é apresentada.

O ser humano ser capaz de abraçar o Eterno retorno, seria então a expressão máxima do seu amor pela vida, e o seu desejo de permanecer fiel à terra. Talvez essa seria a resposta do Ubermensch – O super-homem de Nietzsche, que é antecipado como “O maior tipo de ser humano”. O interessante é que religiões com o cristianismo, que veem esse mundo como inferior a outro, e esta vida como uma mera preparação para uma vida melhor no paraíso.

O Eterno retorno de Nietzsche, portanto, oferece uma noção distinta de imortalidade. Há uma separação da vida fracassada e medíocre, frente a uma vida intensa e grandiosa.  Nietzsche aborda que na vida há o que vale a pena ser vivido e o que merece perecer. É inexorável como essa doutrina faz com que o ser humano pondere sobre o que ele está fazendo e como está passando a sua vida.

A Lei de Lavoisier, aborda que nada se cria, nada se perde e tudo se transforma na natureza, e isso é similar ao que a teoria do eterno retorno defende, pois a vida seria cíclica, assim como o seu sofrimento e também as duas virtudes. Como já mencionado, o eterno retorno pode ser visto como algo ruim, ou uma prisão para os seres humanos. Ou ainda como uma forma de crescimento e novas visões sobre como os momentos da vida devem ser vividos ao máximo. A sua relação conflituosa com as religiões também torna essa doutrina uma das mais populares de Nietzsche.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Rogério Miranda de. Nietzsche e Freud: eterno retorno e compulsão à repetição. São Paulo: Loyola, 2005. v. 1.
MARTON, Scarlett. O eterno retorno do mesmo, “a concepção básica de Zaratustra”. Cadernos Nietzsche. 37. 11-46. DOI: 10.1590/2316-82422015v3702sm, 2016.
NIETZSCHE, F. W. A gaia ciência. São Paulo: Companhias das Letras, 2001.
FORNAZARI, Sandro K. O esplendor do ser: a composição da filosofia da diferença em Gilles Deleuze (1952-68). São Paulo: Universidade de São Paulo, tese de doutorado, 2005.

Autor: Ermes Rodrigues de Almeida Neto, seminarista da Ordem de Santo Agostinho e estudante do 3º ano do Curso de Filosofia da FASBAM.

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