A Escola Filosófica de Cesareia na Capadócia

O influxo da Escola de Alexandria irradiou pelo Oriente, onde no século IV floresceram vários centros cristãos importantes. Durante a perseguição de Décio (202-203), Clemente de Alexandria se refugiou em Cesareia da Capadócia. Ali esteve também Orígenes durante a perseguição de Maximino Trácio (c. 235-237), chamado por seu grande admirador Firmiliano. Alexandre, bispo de Cesareia até 211, havia sido discípulo de São Panteno e de Clemente[1].

Mas as grandes figuras de Cesareia da Capadócia são os três Padres, que, juntamente com outro grande alexandrino, Santo Atanásio, levaram o peso da controvérsia ariana. O Concílio de Niceia havia definido a igualdade da natureza do Pai e do Filho, Deus consubstancial e coeterno, não criado, senão gerado pelo Pai. Pelo contrário, a heresia ariana sustentava que o Filho havia sido criado pelo Pai e que era distinto em essência e inferior a ele. Os Padres capadócios são muito diferentes por seu caráter, mas estritamente unidos por vínculos familiares e afetivos, e se completam mutuamente. Seu trabalho conjunto contribuiu poderosamente para o triunfo da ortodoxia no duro combate com o arianismo.

Diz-se que São Basílio é o braço que trabalha; São Gregório de Nazianzo, a boca que fala, e São Gregório de Nissa, a cabeça que pensa[2]. A expressão pode ser admitida se não tiver um significado excessivo. São Basílio é um homem de ação; São Gregório de Nazianzo, um grande orador; São Gregório de Nissa, um filósofo e místico. Os três admiram profundamente Orígenes, embora evitem seus exageros doutrinais. Em contraste com o otimismo dos ocidentais após o triunfo sobre o paganismo, nos orientais predomina um certo tom pessimista, que os faz buscar refúgio em sua própria interioridade. É possível que não deixaram de influir nessa atitude as turbulentas circunstâncias, que fizeram sentir seu peso em homens que, como os dois Gregórios, eram mais inclinados à vida retirada que ao tráfego das lutas doutrinais. Consideram a matéria como obra de Deus, dignificada pela encarnação do Verbo. Mas esta reabilitação da matéria não os livra de uma certa tendência a ponderar a fragilidade da vida humana e as misérias deste mundo, das quais tomam ocasião para se elevarem em aspirações místicas.

[1] SÃO JERÔNIMO, De vir. ill. 72; EUSÉBIO, Hist. Eccl. VI 20,I.

[2] TIXERONT, J., Précis de Patrologie (París 1927) p. 231.

Fonte: FRAILE, Guillermo. Historia de la filosofia: el judaísmo, el cristianismo, el islam y la filosofia. v. 2. Madrid: La Editorial Catolica, S.C., 1966, p. 147-148. (Biblioteca de Autores Cristianos)

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