Precisamos falar sobre quarentena e solidão

Os nossos dias têm sido repletos de notícias muito difíceis e de várias orientações para o nosso distanciamento social. Gostaria, pois, de convidá-los para uma prosa, sobre a convivência e a solidão. Vivemos um tempo complicado e mais do que nunca precisamos uns dos outros, seja em orações, conscientização e ajuda afetiva, espiritual e física se necessária, mas principalmente a vivência de certa distância entre nós. Pegue seu café ou chá para uma conversa entre irmãos e amigos que somos. Eu lhes pergunto: como podemos viver em tempos de quarentena as dimensões da solidão e do convívio?

A solidão é uma condição da existência do homem no mundo. Maltratada, pois erroneamente a entendemos apenas como abandono. Sim, precisamos estar também juntos, pois o convívio é algo essencial em nossa natureza. Um belo paradoxo! De um lado temos a solidão da pessoa como ser único no mundo, de outro não existimos se não for em comunidade. Um filósofo alemão do século XIX, chamado Arthur Schopenhauer, em uma de suas obras conta a história de que um número de porcos-espinhos se amontoaram buscando calor em um dia frio de inverno; mas, quando começaram a se machucar com seus espinhos, foram obrigados a se afastarem. No entanto, o frio fazia com que voltassem a esse movimento de aconchegar-se e se afastar uns dos outros. Depois de várias tentativas, perceberam que poderiam manter certa distância sem se dispersarem. Nós, do mesmo modo, sentimos o frio de nossas dificuldades diárias e buscamos a companhia do outro, buscamos afeto, carinho, atenção, contato físico, buscamos estar ao lado uns dos outros e encontramos o calor que nos ajuda esperar a passagem dessas baixas temperaturas no nosso cotidiano. Por esse motivo nada pode afastar o ser humano de sua espécie. Nesse momento em que nos fazemos distantes uns dos outros, podemos nos unir pela oração, pelas redes sociais que nos ajudam a matar um pouco a saudade, mas temos a oportunidade, principalmente, de estarmos com nossas famílias, com aqueles que nem sempre tivemos tempo para curtir, a nossa Igreja particular.

Que esse tempo de solidão nos aproxime de nós mesmos, pois nela temos a ocasião de crescimento, de voltar o nosso olhar a nós mesmos e podermos de forma mais serena e feliz receber o outro em nossa vida. A exemplo de nosso pai Santo Agostinho, que viveu em perfeita comunhão com seus amigos, que possamos cultivar a interioridade e a oração como dons que o Senhor nos concede para sentirmos e oferecermos calor espiritual a todos os nossos irmãos da família humana. Que todos vocês possam empenhar-se em momentos pessoais, como melhor maneira de descoberta dos nossos dons e também de nossas dificuldades, afim de poder compartilhá-las!

Autor: Daniel Ferreira dos Santos Junior é seminarista da Ordem de Santo Agostinho, psicólogo (CRP-SP 6/123020) e estudante de filosofia aqui na FASBAM.

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