Filosofia e Educação na Antiguidade é o tema do novo número de Basilíade – Revista de Filosofia

Temos a grande satisfação de apresentar o vol. 2, n. 3, de Basilíade – Revista de Filosofia, correspondente ao período de janeiro–junho de 2020, cujo dossiê, organizado pelo Prof. Dr. Irineu Letenski, se intitula: Filosofia e Educação na Antiguidade.

Não será uma grande surpresa para o leitor descobrir – ao percorrer os artigos que ora apresentamos – que as reflexões aqui desenvolvidas giram quase todas elas em torno da educação na Grécia e, mais especificamente, nos períodos arcaico e clássico. Sabe-se, com efeito, que, ao falar de educação na Idade Antiga, vêm imediatamente à tona os nomes da Grécia e do Império Romano. É, pois, nestes dois polos que se acham, por assim dizer, o berço, as origens, ou o incunábulo, do qual se desenvolveu toda a história da educação ao longo da tradição ocidental. Neste sentido, a Grécia antiga se assinalou, como se sabe, pela sabedoria mitológica – mormente nas figuras de seus dois poetas máximos: Homero e Hesíodo –, pela sabedoria trágica e pelo pensamento racional, que se iniciou com os pré-socráticos. Quanto a Roma, além da mitologia e das letras clássicas, faz-se também ressaltar um saber de ordem jurídica e moral.

Ao se falar, pois, de educação na história do Ocidente, inevitavelmente se deve fazer referência, direta ou indiretamente, a todo o legado que a Grécia e o Império Romano deixaram em termos de poesia, de mitologia, de religião, de literatura e artes plásticas. Se, na Grécia, a educação se desenvolvia segundo uma hierarquia que, começando pelas disciplinas propedêuticas, culminava com a matemática e a indagação filosófica propriamente dita, em Roma se elaborou, com Marcos Terêncio Varrão (116–27 a.C.), aquilo que mais tarde se cristalizaria sob o nome de artes liberais.  Estas disciplinas eram assim chamadas em contraposição às denominadas artes serviles, ou dos escravos. Primeiramente fixadas por Marcos Varrão em nove artes (gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia, música, arquitetura e medicina), as artes liberais foram no século V reduzidas a sete pelo escritor norte-africano Marciano Capella, na obra intitulada: Núpcias de Mercúrio e da Filologia. A Idade Média deve, portanto, à cultura romana a estruturação e distribuição de sua grade curricular para o ensino nas escolas claustrais e episcopais. Quanto à Grécia, foi a filosofia platônica e, mais precisamente, neoplatônica que iria nortear todo o pensamento medieval até a entrada definitiva de Aristóteles no século XIII.

No dossiê em questão, os nossos pesquisadores deram ênfase, em seus artigos, a temas que tangem particularmente à educação na Grécia antiga. É, portanto, neste sentido que se desenvolve o primeiro artigo, de autoria de Sérgio Eduardo Fazanaro Vieira, intitulado, de maneira explícita: A educação na Antiguidade: a filosofia e o discurso filosófico como exercício para a psicagogia. O autor se baseia na concepção de Pierre Hadot, segundo a qual a filosofia está intimamente ligada às escolhas de um modo de vida, incluindo a experiência pessoal nas suas relações com a formação, a educação psicagógica e o constante exercício que conduz ao caminho da sabedoria.

O segundo artigo se intitula Areté e poesia: a educação em Esparta. O autor, José Benedito de Almeida Júnior, desenvolve uma reflexão sobre a reforma educacional realizada pelo legislador Licurgo em Esparta. Segundo o autor, Licurgo se viu na necessidade de criar uma nova constituição, denominada Grande Retra, para justamente restaurar os antigos valores dóricos e, assim, mitigar o crescente individualismo que vinha grassando na polis.

O terceiro artigo tem dois autores: Antônio Djalma Braga Júnior e Ivanildo Luiz Monteiro Rodrigues dos Santos. O texto, que tem como título: Sileno: educador de Dionísio, se propõe demonstrar o papel que teve a figura mitológica de Sileno na educação ou formação de seu companheiro, que é a divindade ou, como descreve Nietzsche, uma das pulsões básicas da natureza: Dionísio.

O quarto artigo, de autoria de Juliana Santana de Almeida, tem como título uma pergunta: É possível educar as emoções? A autora tem como referência principal a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e como objetivo sustentar a possibilidade de educar as emoções pelo exercício do ouvir e, consequentemente, de obedecer à razão.

O autor (Silas Borges Monteiro) e a autora (Anaise Ávila Severo) do quinto artigo, que se intitula, Para leitores extemporâneos: quando Heráclito encontra Nietzsche, partem da hipótese de que Heráclito poderia ser considerado leitor de Nietzsche, graças ao fato de ambos os filósofos terem várias afinidades em comum: a decisão estilística de Nietzsche em escolher seus leitores e a alta consideração em que o pensador do eterno retorno sempre colocou o filósofo de Éfeso.

O dossiê se fecha com um artigo da modalidade fluxo contínuo, sob o título: A arte de formar: características da visão pedagógica de Edith Stein. Seu autor, Edimar Fernando Moreira, se propõe identificar alguns elementos da visão pedagógica de Edith Stein e seus desdobramentos na sua própria formação de pensadora e educadora. O autor leva sobretudo em conta o conceito alemão de Bildung.

Desejamos, pois, aos autores deste terceiro número de Basilíade uma calorosa acolhida por parte dos leitores e a ambos uma ocasião para, baseados em novas perspectivas, apreciarem ainda mais o nascimento e o desenvolvimento da educação na Antiguidade.

Irineu Letenski
Editor Chefe

Rogério Miranda de Almeida
Editor Adjunto

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