Bem-aventurado Josafat Kotsylovsky, OSBM | Série sobre os Mártires Basilianos

Na carta enviada a Pio XII, ele declarou:

Fiel até a última batida do meu coração.”

O bispo Josafát, nome de batismo Josef Kotsylovsky, nasceu no dia 3 de março de 1876, no povoado de Pakoschivka, perto da cidade de Si­anok, (atual Polônia). Seu pai, Pedro, era agricultor e cidadão ativo na política e na comunidade. Sua mãe, Catarina Kosari Kotsylovsky, deu a seus quatro filhos uma sólida formação religiosa e encaminhou dois deles para o sacerdócio.

Depois de terminar os estudos na escola pública, em 1895, ele se inscreveu na Faculdade de Jurisprudência de Lviv. Nos anos de 1896-1901, o jovem estudante procurou descobrir a sua vocação e meios para realizá-la.

Em 1898, interrompeu seus estudos e ingressou na escola de artilharia em Viena. Depois de se formar subtenente, ele continuou por alguns meses no exército, mas logo abandonou a carreira militar e decidiu, causando surpresa, abraçar o sacerdócio. Em seguida, superando algumas dificuldades pessoais, em 1901, ele ingressou no Colégio ucraniano (Colegium Rutenum) em Roma, onde se tornou um dos melhores seminaristas e exerceu os cargos de bibliotecário, prefeito dos seminaristas e redator do jornal “Anotações dos Seminaristas do Colégio Ruteno em Roma” (Записки питомців руської Колегії у Римі). Estudou filosofia e teologia no Ateneu Angelicum, onde obteve o doutorado em Filosofia (1903) e Teologia (1907). Em seguida, o jovem Josef voltou para Galícia (Ucrânia) e ali foi ordenado sacerdote no dia 9 de outubro de 1907. Logo depois passou a lecionar teologia dogmática no seminário de Stanislaviv (Ivano-Fran­kivsk).

Procurando aprofundar sua vida espiritual, no dia 2 de outubro de 1911, ingressou no noviciado dos padres basilianos, no mosteiro de Krekhiv, nas proximidades de Lviv. No dia da vestição do hábito basiliano, esco­lheu o nome de Josafat. No noviciado ele era exemplo de profunda humildade, disciplina е amor à oração. Depois de emitir os primeiros votos, deu aulas de teologia no mosteiro basiliano de Lavriv.

Em Lviv, dedicou-se à pregação de missões populares, exercícios espirituais para sacerdotes, reli­giosos e religiosas. Durante a Primeira Guerra Mundi­al foi nomeado Reitor do seminário de Kromyrej, na Morávia, onde havia 75 estudantes de teologia, prófu­gos de diversas dioceses da Galícia, fugitivos das tro­pas russas.

Em 1916 faleceu o Bispo de Przemyśl e o Papa Bento XV nomeou o Padre Josafat como Bispo da Eparquia de Przemyśl e Sambor. Foi ordenado bis­po pelo Metropolita Andrey Sheptytsky no dia 23 de setembro de 1917, na Catedral de São João Batista, na cidade de Przemyśl.

Imediatamente o Bispo Josafat se dedicou ao trabalho de renovação da vida espiritual da Eparquia duramente provada pela I Guerra Mundial. Neste período, muitos sacerdotes e leigos, simpatizantes de Moscou, foram presos pelo governo austríaco e mandados para o campo de concentração de Talerhof. O bispo Kotsylovsky usou de todos meios a seu alcance para tirá-los da prisão e graças a sua intercessão junto ao imperador Carlos IV, seu colega no tempo de serviço militar em Viena, foram libertados.

Em 1921 fundou o seminário de Przemyśl. Dedicou cuidado especial à formação dos sacerdotes. Ordenou mais de 400 padres. Escolheu para seu Auxiliar e Reitor do seminário o Padre Hryhorii Lakota, também beatificado pelo Papa João Paulo II.

Fiel discípulo de Cristo, o bispo Kotsylovsky passou por muitos sofrimentos e perseguições. Em 1936, sofreu a ocupação de Przemyśl e da parte oriental da Eparquia pelas tropas russas bolchevistas e durante três anos a ocupação da Alemanha nazista. No final de julho de 1944, as tropas soviéticas invadiram Przemyśl novamente. Eles logo começaram a perseguir os fieis da Igreja Greco-Católica que não aceitavam facilmente o novo regime que os soviéticos vieram implantar e não iriam aceitar jamais a separação de Roma.

Em se­tembro de 1945, o Bispo Josafat foi preso pela primeira vez e libertado em fevereiro de 1946. Seu estado de saúde ficou gravemente comprometido em consequência  dos maus tratos por que passou no cárcere.

Prevendo para a Igreja Católica da Ucrânia o começo de uma dolorosa Via Crucis, o Bispo Josafat, estando presente na conferência dos bispos poloneses em Tchenstokhova (1946), entregou a eles sua declaração de fidelidade ao Santo Padre Pio XII, escrita de próprio punho: “Em caso de minha prisão ou eventual deporta­ção, peço humildemente de transmitir ao Santo Padre que deposito a seus pés a minha declaração de fideli­dade e total lealdade até a última batida do meu cora­ção, implorando, com filial devoção, a sua bênção paternal”.  

E de fato a previsão do Bispo Josafat se concretizou. Logo que ele voltou da conferência de Tchenstokhova, veio a polícia polonesa, exigindo que ele deixasse imediatamente a sua sede episcopal, porém, Kotsylovsky respondeu: “Foi Roma que me nomeou Bispo e somente Roma poderá me tirar daqui.”

No dia 26 de junho de 1946, foi preso pela se­gunda vez pelos soldados poloneses e entregue aos soviéticos que o levaram para a parte oriental da Ucrânia, onde era barbaramente torturado, forçado à colaboração com o regime comunista. Em seguida, forçaram-no subir num caminhão e levaram primeiro a Lviv e depois a Kyiv. Aqui procuravam convencê-lo a passar para a ortodo­xia. Ele, porém, com firmeza e com indignação rejeitou todas as propostas de separar-se de Roma.

No cárcere, o bispo passou a sentir fortes dores pulmonares, mas mesmo assim foi levado para o campo de concentra­ção de Tchapaívka, na região de Kyiv.

Antes da festa do mártir São Josafat, ele  dedicou alguns dias para fazer um retiro, pressentindo o seu final iminente.

O bispo Kotsylovsky faleceu no campo de concentração no dia 17 de novembro de 1947, com a idade de 71 anos. Entregou sua vida, testemunhando fidelidade à Igreja Católica. Foi vítima da política de repressão e violência do regime bolchevista. O seu martírio é um eloquente testemunho de fidelidade da Igreja Greco-Católica Ucraniana à Sé Apostólica. A sua fé e o seu cálice de amarguras são para nós motivo de glória e caminho a seguir.

No dia 27 de junho de 2001, em Lviv, o bispo Josafat Kotsylovsky foi colocado nos altares pelo Papa João Paulo II juntamente com outros 27 mártires e confessores ucranianos.

A Igreja Católica celebra a memória do bem-aventurado mártir e confessor Bispo Josafat Kotsylovsky no dia 27 de junho juntamente com outros confessores e mártires, beatificados em 27 de junho 2001 pelo Santo Padre João Paulo II, em Lviv. Seus restos mortais são venerados na igreja Anunciação de Nossa Senhora na cidade de Stryi no altar lateral do Sagrado Coração de Jesus.

O mártir São Josafat Kotsylovsky pode ser comparado, merecidamente, a São Josafat Kuntsevitch, hieromártir e defensor da santa União da  Igreja Ucraniana com a Sé Apostólica. Na sua pessoa, a Igreja Greco-Católica Ucraniana ganhou mais um defensor e protetor da União das Igrejas.

Referências:

MATTEI, Giampaolo. L’Osservatore Romano. Ucrânia terra de mártires. Coluna dirigida por Mario Agnes.

НАЗАРКО І. Блаженний священномученик Йосафат Коциловський. Торонто: Видавництво і  Друкарня ОО Василіян, 1954, c. 51.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo