Bem-aventurado Paulo Goidych, OSBM | Série sobre os Mártires Basilianos

O bem-aventurado mártir e confessor Paulo Goidych nasceu no dia 17 de julho de 1888, na Eslováquia, na aldeia de Rushki Pekliany. No Batismo recebeu o nome de Pedro. Seu pai Estefano Goidych era um sacerdote exemplar, dedicado ao seu rebanho e a sua família. A mãe, Anna Herberi, também descendia de família sacerdotal. Dois irmãos mais velhos do beato Paulo, Cornélio e Stefan, também se tornaram sacerdotes. Em 1890 a família Goidych mudou-se para outra paróquia na aldeia de Tsihelka Bardieva, onde o futuro pastor do rebanho de Cristo passou sua infância e juventude.

O ambiente familiar em que cresceu o pequeno Pedrinho era impregnado de profundo respeito às pessoas, de apreço à disciplina, à ordem, ao amor e bondade para com todos. Estas belas virtudes acompanharam-no e se desenvolveram no espinhoso caminho de sua vida.

Era uma pessoa alegre por natureza, de aparência agradável, bom atleta e músico talentoso… A família previa nele um proeminente médico. Entretanto, o seu coração foi tocado por algumas palavras ouvidas num retiro: “Eu nasci para me ocupar de assuntos mais elevados”, que despertaram nele o desejo de tornar-se um servo de Deus e ser discípulo de Cristo.

Em 1907, ele se inscreveu no curso de teologia no Seminário Eparquial de Prechov. Outros estudos continuou em Budapestw, onde se dedicou à vida ascética rigorosa. O seu senso de disciplina se manifestou no estrito cumprimento da ordem do dia. Ele sempre esteve no seu devido lugar, procurando cumprir a vontade de Deus. No tempo livre, o jovem teólogo costumava estar perto dos professores, mas o seu lugar preferido era ficar na presença de seu Mestre – Jesus presente no Sacrário. Concluiu seus estudos teológicos com aprovação máxima.

Em 1911, Pedro Goidych foi ordenado sacerdote juntamente com Cornelio, seu irmão mais velho. Optando pelo celibato, ele se comprometeu com Cristo para se dedicar totalmente às coisas do Senhor. Testemunhas no processo de sua canonização declararam que era uma pessoa de pureza angelical, modesto e humilde. Em 1914, o bispo Novak o nomeou seu secretário particular da cúria episcopal е administrador da cidade de Sabinov.

Em 1922, Pe. Pedro Goidych ingressou no mosteiro basiliano em Tchernetcha Hora, perto da cidade de Mukatchevo. Na carta aos pais ele escreveu: “Eu decidi deixar o mundo e ingressar no mosteiro, porque somente ali serão preenchidos os anseios do meu coração… Se eu ficar no mundo, serei como uma árvore que não produz e não traz proveito a ninguém.” No dia 23 de janeiro, depois de submeter-se a um período de prova, ele vestiu o hábito brasiliano e não deixou de usá-lo mesmo depois de ser sagrado bispo. No ritual de vestição recebeu o nome monástico de Paulo. Com seu zelo e humildade ele logo conquistou a simpatia de seus coirmãos mais novos do noviciado. E depois, já como bispo, ele costumava vir a Tchernetcha Hora, onde começou a sua vida monástica, para fazer seus retiros anuais. Gostava de passar suas férias nos mosteiros basilianos. Em 1924, emitiu os votos temporários e foi designado para o mosteiro de Újhorod, onde se dedicou ao Apostolado da Oração dos jovens, retiros e missões.

Em 1926, ele recebeu a missão de reformar o mosteiro em Malé Berezno. Graças ao seu zelo e dedicação, a igreja anexa ao convento logo se encheu de novos paroquianos. Neste mesmo ano a Sede Apostólica de Roma decidiu nomear o jovem religioso Administrador Apostólico da eparquia de Prechov. E neste mesmo ano ele fez a sua profissão solene no mosteiro basiliano de Krekhiv.

Em 1927, ele passou a administrar a Eparquia de Prechov. Neste ano, o Papa Pio XI o nomeou bispo e imediatamente o convocou a Roma, onde no dia 25 de março, na festa da Anunciação da Santíssima Mãe de Deus, na Basílica de São Clemente, onde repousam as relíquias de São Cirílo, apóstolo dos povos eslavos, Paulo Goidych foi sagrado bispo. Em 1943 foi nomeado eparca de Prechov pelo Papa Pio XII.

Na sua primeira carta pastoral para os padres ele expôs o seu programa pastoral: “Abri os vossos corações sacerdotais e recebei com amor o nosso povo abandonado. Ele merece um destino melhor. (Refere-se aos greco-católicos na Eslováquia). Atualmente, eles estão em perigo de perder não somente suas almas imortais mas também a própria identidade, vivendo  cercados de todo tipo de inimigos… Ensinai-os a não se envergonhar da sua identidade, da sua língua materna, e a orgulhar-se das suas origens.”

Em 1929, ele se opõe energicamente à política anti-minorias do governo eslovaco que passou a implantar o processo de assimilação cultural no país, proibindo nas escolas públicas e privadas o ensino em língua das minorias.

Mudanças catastróficas ocorreram depois da desintegração da Tchecoslováquia e da sua aliança com a  República Soviética de Stalin, formando um governo eslovaco independente, liderado por Josef Tiso. Os direitos de desenvolvimento nacional dos ucranianos na Eslováquia foram rejeitados como desnecessários e prejudiciais. Foi imposta a língua eslovaca em todas escolas do país.  À Eparquia greco-católica não era lícito emitir documentos em cirílico. Em 1940, em Mykhailívtsi, foi inaugurado um seminário eclesiástico de ensino exclusivamente greco-eslovaco e o Seminário de Presov teve que ser  liquidado. Também nesta situação, o Bispo Goidych mostrou grande firmeza de caráter. Ele não aceitou a liquidação do Seminário de Presov e manifestou publicamente seu apoio ao mesmo. A seu pedido, o Vaticano concedeu uma ajuda financeira notável para a continuação da existência do seminá­rio e preservação da espiritualidade nele cultivada.

Isto não аgradou às autoridades eslovacas. Em uma reunião em Presov, numa sala lotada, Josef Tiso cumprimentou todas autoridades eclesiásticas, somente o Bispo greco-católico Paulo Goidych não recebeu o aperto de sua mão. Quando todos ocuparam seus lugares, para ele não havia cadeira, teve que ficar em pé. Foi um ato de desprezo público diante de seus fiéis. Além disso, houve também acusações diretas e até mesmo ameaças com campo de concentração ao “inimigo do Estado Eslovaco” e ao “indigno da dignidade episcopal”. A imprensa também se posicionou contra o bispo. Mas Paulo Goidych se manteve firme e declarou: “Outras nacionalidades têm seus ministros, seus partidos políticos e seus representantes, somente a maioria dos meus fiéis não tem ninguém para defender os seus direitos nacionais e civis. Portanto, quando meus fieis, recorrem confiantes a mim, eu não posso rejeitar o seu clamor, embora tenha que sofrer por isso muitas contrariedades e grandes danos”.

A situação chegava a um impasse e o Bispo “procurando o bem da eparquia”, enviou a Roma o seu pedido de demissão. Mas a Santa Sede não aceitou sua renúncia. Pelo contrário, em 1940 ele foi promovido Eparca titular da Eparquia de Presov (antes ele era seu administrador). Depois da Segunda Guerra Mundial, 15 de janeiro de 1946, a Santa Sé conferiu-lhe a jurisdição sobre os fieis greco-católicos de toda Tchecoslováquia.

Paulo Goidych não podia ser acusado de cumplicidade com aliados de Hitler porque o seu relacionamento com o governo de Josef Tiso era conhecido por todos. Além disso, ele salvou centenas de pessoas inocentes dos campos de concentração. Na sua residência refugiaram-se muitos judeus. Ele ajudou muitos refugiados ucranianos. Seu lema episcopal era: “Deus é amor, vamos amá-lo”.

Porém, o regime comunista tinha a sua própria opinião a respeito do Bispo Goidych. Depois da liquidação da Igreja Greco-Católica na Galícia e Transcarpátia, chegou a vez de Presov.

Em 28 de abril de 1950, o bispo Goidych foi preso quando se recusou a entregar as chaves da catedral de Presov para que ela não fosse entregue aos ortodoxos. Algumas semanas depois, o bispo Goidych foi transferido para a prisão, onde permaneceu até a morte. Em 1951 os bolchevistas instruíram um processo judicial de grande repercussão, inclusive com transmissão ao vivo pela rádio. Mas o bispo fazia a sua defesa com tanta serenidade e segurança que a transmissão logo foi tirada do ar. Ele foi condenado à prisão perpétua por crimes inventados e incriminações padronizadas tais como “traição de estado”, “traição militar” e “espionagem”.

Os comunistas temiam a popularidade do bispo mesmo depois de sua prisão. Ele era transferido de uma prisão a outra para que as pessoas não soubessem onde ele se encontrava e não se reunissem para rezar ao lado de fora da prisão. Também o mundo livre não esqueceu do prisioneiro. Em 17 de julho de 1958, o Papa Pio XII enviou ao bispo encarcerado sinceras felicitações por ocasião de seus 70 anos de vida.

Paulo Goidych era mantido nas piores prisões. Ele era obrigado a fazer os trabalhos mais humilhantes como lavar o assoalho na sala dos guardas. Faziam-lhe propostas insidiosas: propunham-lhe o governo da Igreja Ortodoxa na Tchecoslováquia, mas ele sempre recusou. Nos últimos meses de vida ele costumava dizer aos colegas de cela: “Eu sempre peço ao bom Deus, que me leve deste vale de lágrimas no mesmo dia em que nele fui colocado.” O seu desejo foi realizado no dia 17 de julho de 1960, data de seu aniversário. 10 longos anos ele foi martirizado nas prisões comunistas.

No cemitério da prisão de Leopoldov, foi colocada apenas uma pequena placa com o número 681. Três vezes os familiares tinham plantado uma cruz na sua sepultura, mas todas as vezes foi tirada pelos guardas. O local onde o bispo Goidych foi enterrado tronou-se lugar de peregrinação dos fieis greco-católicos. A situação mudou durante a “Primavera de Praga”. Em outubro de 1968 o corpo do bispo foi exumado e solenemente levado para a cripta da catedral  greco-católica de Presov. Quando o Papa João Paulo II visitou Presov, em 1995, foi também venerar as relíquias do bispo e mártir basiliano Paulo Goidych e rezou em seu túmulo.

No dia 04 de novembro de 2001, em frente da Basílica de São Pedro, em Roma, o Papa João Paulo II, diante de milhares de peregrinos, vindos de diversos países, beatificou solenemente oito novos beatos da Igreja Católica, entre eles estava o mártir Paulo Goidych. O dia 17 de julho, dia da sua morte, é também o dia em que a Igreja celebra a memória deste prisioneiro do amor, confessor da santa fé e um exemplo de fidelidade a Deus e à Igreja. Foi um grande apóstolo do Sagrado Coração de Jesus e da Virgem Maria.

LEGADO DO BISPO GOIDYCH:

“Estou convencido de que no final a verdade triunfará sobre as mentiras e o amor vai vencer o ódio. Eu não odeio meus inimigos. Eu gostaria de trazê-los todos mais perto de Cristo, não pela força ou fraude, mas por amor à verdade.”

“Nossas aflições presentes não vão nos quebrar nem nos separar da verdadeira Igreja e do amor de Cristo. Pelo contrário, a perseguição e os sofrimentos só irão fortalecer a nossa fé e trazer-nos mais perto de Cristo e de Sua Igreja.”

Referências:

Potas J. М., OSBM. Martyr Episcopus Presoviensis Peter Pavel Gojdic, OSBM. 1888—1960. Presov-Пряшів, 2004.

Zivotopis blahoslaveného biskupa-muceníka Pavla Petra Gojdica, OSBM // Moleben k blahoslavenému biskupovi-muceníkovi Pavlovi Petrovi Gojdicovi, OSBM. Zost. M. Durlák. Presov, 2001.

Пекар А. Василіянин-ісповідник. Життя єп. П. Ґойдича, ЧСВВ. НюЙорк, 1962.

Pekar A. Bishop Paul Gojdich, OSBM. Pittsburgh, 1980.

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