O homem contemporâneo, prisioneiro das suas necessidades, sem motivações, carente de uma consciência moral e de capacidade política, é convidado para uma ética da responsabilidade pessoal, se a liberdade e a política se confundem no pensamento arendtiano, a questão ética é reforçada por meio dos pensamentos, onde as relações com os outros ganham significado, já que não implica regras de conduta pré-determinadas por valores imutáveis e que estão fora do indivíduo, no entanto, sua ética se dá no íntimo do sujeito na qual ele mesmo produz e avalia seus próprios princípios através da livre-escolha, ao qual seu contexto de inserção interfere nas suas afirmações e negações.
A filosofia de Hannah Arendt sofre influência de Immanuel Kant, assim a proposta de seu pensamento político é reconhecer que todo homem tem direito a ter direitos, onde o termo de humanidade assume uma dimensão ontológica, e nisso se dá a reconstrução dos direitos humanos na perspectiva duma ética universal, onde cada indivíduo por ser homem ou mulher já deve intrinsicamente ser garantido seus direitos por pertencer à humanidade. Pode ser ilógico ou inconcebível tal afirmação, no entanto, diante dos horrores como o totalitarismo vivido por Arendt, isso demonstra sua preocupação em desenvolver uma filosofia que procura resgatar a própria dimensão humana da humanidade.
Para ela construir e garantir um ambiente geral ou um espaço político internacional que respeite a humanidade de todos é um sonho a ser alcançado, já para outros uma utopia, diante da descartabilidade dos seres vivos e do utilitarismo sistemático prevalecendo a filosofia do homo faber que gera uma completa ausência de significado, onde o comércio é a alma da sociedade a filosofia desenvolvida por Hannah Arendt se torna muito atual e que nos faz repensar qual trilho o século XXI tem percorrido e quais serão as consequências de tais escolhas. Por isso, sua filosofia destaca a pluralidade da condição humana não como problema e sim como solução para diversos erros cometidos onde a compreensão do mundo e das atividades humanas se faz necessária, principalmente na capacidade de agir em conjunto diante da liberdade de participação e da ética ligada com a responsabilidade na defesa da dignidade humana.
Desta forma, a ação é a atividade humana que corresponde à condição da pluralidade, enquanto cada indivíduo é portador de uma singularidade única – iguais enquanto humanos, mas radicalmente distintos e irrepetíveis, essa sim é a chave para resolver inúmeros problemas entre povos e nações, no entanto, é certo dizer que Hannah Arendt defende uma mudança de mentalidade para que os homens tão iguais e diferentes ao mesmo tempo, possa a partir de uma identidade comum entre eles ser a possibilidade da convivência fraterna e solidária entre os indivíduos que tornam a humanidade tão bela e diversificada, pois a beleza da humanidade é a sua diversidade que ao mesmo tempo nos torna um mundo comum. A liberdade de espontaneidade é parte inseparável da condição humana, o homem só respeita a dignidade do outro se ele mesmo se reconhece como sujeito que merece e necessita valorizar no outro algo que é comum a todos os seres humanos e que pode ser utilizado para edificar toda a civilização, dando sentido a essa ética universal descrita e defendida na filosofia política de Hannah Arendt.
Por fim, concluímos que falar de política e liberdade no pensamento de Arendt é definir a mesma coisa, seu contexto foi de horror por ser judia e viver o totalitarismo e suas atrocidades, no entanto, sua ética universal se dá no íntimo de cada ser humano e a consequência disso são suas escolhas, ações e mudança de mentalidade que podem de alguma maneira, alterar o percurso da humanidade e resgatar a dignidade humana que quotidianamente sofrem atentados e que de certa maneira, agridem a própria condição do homem e a sua convivência enquanto sociedade organizada econômica e politicamente falando, sem dizer que o homem só se torna mais humano quando reconhece e respeita a dignidade do outro, passando por uma consciência ética já internalizada ou em processo de formação.
Autor: Amauri de Campos Junior, estudante do 3º ano do Curso de Filosofia.
Ótimo texto Amauri de Campos. Não conhecia sobre Hannah Arendt. Vou pesquisar para saber mais. Alguma referência que você possa me indicar?
Além da obra A Condição Humana, tem A Origem do Totalitarismo e Entre o Passado e o Futuro.