A Filosofia e a Comunicação: um olhar para a estrutura das convergências em Mídia

Nas últimas décadas, a informação e a comunicação têm se integrado à vida das pessoas de maneira extremamente rápida, assumindo diversas formas com o passar dos anos, ou melhor, dos dias. É possível notar mudanças significativas no cotidiano das pessoas, o que implica diretamente no modo de viver, seja de indivíduos, comunidades, ou em âmbito global. Estamos hoje não somente na era da informação, mas das conexões, algo perceptível pela nossa constante interação com elas. A troca de informações em tempo real é uma realidade.

O mercado, em plena atividade, gera conhecimento, produtos, tecnologias diversas e informação em massa, necessitando disseminar todo esse conteúdo às pessoas, utilizando-se de conexões. Outro fator preponderante para este cenário é a entrada massiva das novas mídias na realidade mundial, sobretudo por meio da internet.

A cibercultura já é uma realidade factual, vivenciada por nós há alguns anos. A estrutura cultural está permeada pela tecnologia e, especialmente, pela vasta informação e comunicação. Houve um câmbio entre antigas mídias, ou denominadas mídias tradicionais, e as novas, que dia a dia entram nos lares, tomando espaço daquelas que já estavam estabelecidas. Há, portanto, uma convergência instaurada, onde os conteúdos consumidos nas mídias vêm sendo substituídos.

Papel das mídias e o pensamento de Henry Jenkins

As mídias transformaram não apenas a vida dos indivíduos de uma sociedade, mas também multinacionais e indústrias que tiveram de se adaptar às novas tecnologias, acarretando uma série de mudanças culturais: a cibercultura. A produção de informação em tempo real é um grande diferencial. Já não é algo detido apenas por uma empresa de comunicação de nível internacional; cada pessoa, em seus lares e com acesso a um smartphone, pode produzir informação e disponibilizar qualquer tipo de conteúdo por meio da internet e plataformas de comunicação. Isso é um dos fatores da cultura de convergência.

Em seu livro “A Cultura da Convergência”, Henry Jenkins entende como convergência o fluxo de conteúdo distribuído em uma vasta gama de plataformas midiáticas. Ali ocorre o comportamento de se navegar em “movimentos migratórios” por essas diversas plataformas como forma de buscar entretenimento.

Tais possibilidades contribuem significativamente para mudanças no contexto social e cultural da humanidade pelo incremento das tecnologias, especialmente porque novas práticas e hábitos de consumo de informação transformaram a convergência cultural instaurada.

Um exemplo que ilustra esse escopo é a migração das pessoas para o streaming. Anteriormente, ouvia-se música no rádio, mas era necessário se contentar com os horários e a programação dessas plataformas. Hoje, as pessoas escolhem e montam suas próprias playlists musicais, abandonando as emissoras de rádio em favor das plataformas que lhes asseguram essa autonomia.


O papel das convergências na vida em sociedade

Essa clara convergência – e ao mesmo tempo um choque de papéis entre as plataformas – demonstra que diferentes meios são capazes de “invadir” o campo de outros, no intuito de atingirem mais receptores.

Um segundo exemplo está presente na área da comunicação atual, principalmente no que se refere aos esforços por curtidas, visualizações e engajamento do público, o que eleva a concorrência entre as plataformas de comunicação. Com a pandemia de Covid-19 e a interrupção do mercado de entretenimento (shows, baladas e eventos), diversos artistas passaram a transmitir seus trabalhos por meio das plataformas presentes na internet, como YouTube e Instagram.

Isso gerou um choque para as grandes empresas televisivas, que estavam perdendo audiência para essas plataformas digitais. Sendo assim, elas aderiram a esses projetos de transmissão, as conhecidas lives. Devido à pandemia, um grande número de pessoas, inclusive de maior idade, começou a usar esse tipo de entretenimento, migrando da televisão para as redes sociais.

Portanto, temos um exemplo claro de convergência midiática: no horário nobre das emissoras televisivas, a perda de tantos telespectadores foi impactante, levando-as a recriar suas formas de entretenimento, inclusive transmitindo as lives da internet em seus horários nobres.


A inteligência coletiva enquanto fenômeno

Quanto à estrutura das convergências em mídia, podemos empregá-la ao conceito de convergência cultural abordado por Henry Jenkins, uma vez que compreende três fenômenos tecnológicos e sociais recentes na comunicação: inteligência coletiva, cultura participativa e convergência midiática, componentes da cibercultura enquanto fenômenos midiáticos.

A inteligência coletiva é compreendida a partir da junção dos saberes fragmentados, ou seja, um conhecimento constituído a partir de várias inteligências e distintas habilidades que podem compor um processo criativo. Pela cultura participativa, o indivíduo deixa de ser apenas um participante passivo para produzir conteúdo, transformando as relações midiáticas dentro do ciberespaço (internet), pois hoje podemos escolher o que queremos consumir, não nos comportamos de modo passivo, não somos mais dependentes. Já a convergência midiática é um conceito que se refere ao processo pelo qual diferentes formas de mídia e plataformas de comunicação se fundem e interagem, resultando em novas formas de produzir, distribuir e consumir conteúdo.

Por fim, podemos afirmar que, com base nos argumentos e explicações apresentados, que os meios de comunicação estão convergindo para uma só plataforma: a internet. Desde o rádio até os meios televisivos, todos já possuem plataformas na internet onde as pessoas podem acompanhar o conteúdo por eles produzido na web.

As novas tecnologias digitais são uma realidade presente em nosso meio e a cada dia surgem outras novas que substituem as antigas. Desse modo, a reinvenção, tanto por parte das grandes empresas de comunicação quanto dos indivíduos, é um caminho a ser observado sempre com grande atenção, visto o impacto da mídia no universo comunicativo da sociedade atual.

A Filosofia pode nos ajudar a refletir sobre essa transformação. O filósofo alemão Martin Heidegger, em sua obra “A Questão da Técnica”, nos convida a pensar sobre a essência da tecnologia e seu impacto na existência humana. Heidegger argumenta que a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas uma forma de revelar o mundo e nossa relação com ele. Assim, as novas mídias e a convergência tecnológica não são apenas mudanças superficiais, mas profundas transformações na maneira como percebemos e interagimos com a realidade.

A tecnologia molda nosso ser-no-mundo, influenciando nossos pensamentos, ações e formas de ser. Portanto, compreender a convergência midiática exige uma reflexão profunda sobre como essas tecnologias estão moldando nossa essência e nosso modo de existir no mundo.

Autoria: Ana Beatriz Dias Pinto, professora de Comunicação na FASBAM.

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