A Aliança Educacional firmada entre a PUC-Campinas e a FASBAM em 2018 rendeu mais um fruto. Trata-se, pois, da publicação da obra: Filosofia, Teologia e Psicanálise, pela Editora Splendet PUC-Campinas, organizada pelos professores Dr. Rogério Miranda de Almeida e Dr. Irineu Letenski.
Além de capítulos escritos pelos próprios organizadores, a obra também conta com capítulos escritos pelos professores do Curso de Filosofia da FASBAM e convidados: Dr. Alessandro Cavassin Alves, Dr. Aluísio Miranda von Zuben, Dra. Ana Beatriz Dias Pinto, Dr. Fabiano de Mello Vieira, Dr. José Aguiar Nobre, Dr. Gilson Maicá de Oliveira, Ma. Teresinha Teixeira Colleone e Dr. Valmir Uhren.
Confira a apresentação da obra:
As relações que essencialmente permeiam a filosofia, a teologia e a psicanálise vêm cada vez mais ocupando a mente e os escritos dos estudiosos que se ocupam destas três esferas do conhecimento. Se, ao longo da Idade Média, e mormente durante os séculos XII, XIII e XIV, um dos principais objetos de análise das ciências do espírito era o das relações entre fé e razão, fé e ciência; se, ao longo da Idade Moderna, o acento das discussões se deslocou para o primado da razão, da liberdade e da autonomia das ciências, a partir do final do século XIX e do início do século XX uma nova constelação de problemas passou a caracterizar o universo do saber com o surgimento de novos desafios lançados pela filosofia de Nietzsche, pela literatura francesa – Verlaine, Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire –, pelas produções da arte moderna, do teatro do absurdo, assim como pelo desenvolvimento da sociologia, da antropologia, das chamadas “filosofias da existência” e da psicanálise. Assistimos, pois, não somente a uma crescente autonomia e especialização das diversas manifestações do conhecimento e da cultura, mas também ao acirramento da pluralidade e mesmo da fragmentação do saber.
Todavia, algo parece permanecer em meio à diversidade e à pluralidade das produções culturais: trata-se do questionamento em torno das relações que estas diferentes produções, descobertas e revalorações mantiveram e continuam a manter entre si. Considerem-se, por exemplo, os novos rumos que, desde o início do século XX, tomaram a sociologia, a antropologia e a etnologia. Esta última, cuja expressão máxima se deu na figura de Claude Lévi-Strauss, não somente influenciou, mas também sofreu a influência da filosofia, da linguística, da psicanálise, da religião e da arte. De igual modo, o desenvolvimento e a reinterpretação pelos quais passou a psicanálise nos escritos e na prática analítica de Jacques Lacan levaram a um aprofundamento das relações que esta ciência entretém com toda a tradição filosófica, teológica e cultural do Ocidente. Efetivamente, se Freud já encetara um diálogo com a religião e a cultura, e se – com todas as ressalvas que se possam levantar – ele já manifestara o seu tributo a alguns filósofos que o precederam – Empédocles, Platão, Kant, Schopenhauer e, de maneira polêmica, Nietzsche –, Lacan veio explicitar, aprofundar e ampliar ainda mais os pontos de contato, a convergência e coincidência de intuições e de perspectivas que existem entre a psicanálise, as Escrituras, as ciências e a tradição filosófico-teológica ocidental.
Neste sentido, os conceitos de geração e corrupção, alma e corpo, tempo e eternidade, bem e mal, destino e liberdade, que já se achavam em germe na filosofia pré-socrática e na sabedoria trágica, e que serão em seguida retomados e reinterpretados por Sócrates, Platão, Aristóteles e pela filosofia helenística, sofreram uma nova valoração a partir do medioplatonismo, do neoplatonismo e, assim, foram-se enriquecendo, através do pensamento cristão, graças aos temas da criação, da revelação, da providência, da predestinação, da graça, da encarnação, da redenção e da vida após a morte. No século XII e, principalmente, no século XIII – com o apogeu da Escolástica – assistimos, conforme já dissemos, ao acirramento dos debates em torno das relações entre fé e razão, fé e ciência, filosofia e teologia. Nos tempos modernos – vale a pensa repetir – esses debates são retomados sob novas formas e novas modalidades, com uma ênfase dada ao primado da razão e ao espírito de sistema. Na filosofia contemporânea, ganham especificidade e autonomia as ciências empíricas e as ciências do espírito, com uma ênfase particular dada à fenomenologia, ao personalismo, às ciências socias, às ciências políticas, à psicanálise e às chamadas “filosofias da existência”.
Foi, pois, considerando o desenvolvimento e os vínculos essenciais que mantêm entre si as diferentes áreas do saber que nós, professores da FASBAM – Faculdade São Basílio Magno, aceitamos o desafio de abordar e explorar, a partir da perspectiva própria de cada um dos autores, alguns temas relacionados com as três ciências que deram o título à presente obra: Filosofia, Teologia e Psicanálise.
Neste intuito, o primeiro capítulo, de autoria do Rogério Miranda de Almeida, se debruça sobre uma das principais problemáticas da psicanálise e da filosofia: A questão da angústia: Uma leitura a partir de Freud, Nietzsche e Kierkegaard. O segundo capítulo, de Irineu Letenski, se intitula Deus – o Nous – o Homem: Uma leitura a partir de Gregório de Nissa; ele tem como foco a antropologia filosófica nissena e, mais especificamente, a doutrina da participação. O terceiro capítulo tem como autor Alessandro Cavassin Alves e examina a questão das relações entre a religião, a sociologia e a psicanálise, donde o título de seu estudo: Freud e Durkheim: Religião, sociedade e indivíduo. O quarto capítulo, O mercado das ilusões: Revisitando “O futuro de uma ilusão” na pós-modernidade, de autoria de Fabiano de Mello Vieira, analisa a problemática do consumo, do gozo e das ilusões que suscitam os tempos pós-modernos. Do quinto capítulo é autor Aluísio Miranda von Zuben, cujas reflexões, que percorrem a tradição filosófica, têm por título: Introdução ao problema metafísico do princípio de individuação: Uma abordagem a partir de Aristóteles, Porfírio, Tomás de Aquino, Duns Scotus e Leibniz. O sexto capítulo, da autoria de Valmir Uhren, retoma a abordagem psicanalítica e desenvolve uma análise em torno de um tema estético, qual seja: A patografia e a arte em Vincent van Gogh: Duas perspectivas para entender a existência humana. Ana Beatriz Dias Pinto é responsável pelo sétimo capítulo, de caráter filosófico e teológico, e cujo título é: A (in)comunicação e a identidade teocomunicativa humana no personalismo de Emmanuel Mounier. O oitavo capítulo, que desenvolve um estudo em torno de temas cristológicos, é da autoria de José Aguiar Nobre e se intitula: Encarnação e salvação: Reflexões bíblico-sistemático-cristológicas. Gilson Maicá de Oliveira é o autor do nono capítulo que, a partir de uma perspectiva lógico-filosófica, examina a questão: Categorias, conjuntos e fundamentos da matemática. O décimo e último capítulo, cuja autora é Teresinha Teixeira Colleone, se intitula: Linguagem: Uma viagem filosófica. Como o próprio título já indica, trata-se de um convite para um itinerário, cujas balizas é a própria linguagem e cuja meta é, como em todo filosofar, uma contínua retomada e uma eterna recriação…
Rogério Miranda de Almeida
Irineu Letenski
Excelente!