São Basílio Magno e o Autoconhecimento

Basílio entende a conversão como uma mudança radical de vida e um rompimento de relações com o que não proporciona ao homem uma esperançosa segurança. Dessa maneira, ela é a recusa de tudo aquilo em que o homem busca a sua “pequena felicidade” e satisfação e, ao mesmo tempo, é um voltar-se para Deus. O elemento necessário de conversão é o rompimento de quaisquer laços com os pecados do mundo, os quais podem ter várias características e referir-se às diversas esferas da vida humana: às ideias, visões, pessoas e coisas.

São Basílio, convocando para a conversão, exorta a abandonar os caminhos que não conduzem à meta divisada e terminam sem saída. Ele exorta para retornarmos a Deus, que é a fonte da vida. Para realizá-lo, é indispensável encontrar-se consigo mesmo na verdade, isto é, conhecer-se de maneira correta e profunda. O cristão tem de confessar corajosamente os seus erros cometidos, buscando obstinadamente um apoio naquilo que não pode dar esse apoio. Porque uma verdadeira segurança para a pessoa não pode ser dada nem pela família, nem pelo povo, nem pelos costumes e tradições, uma vez que eles são efêmeros e mutáveis. O único verdadeiro apoio para o cristão é somente Deus. Tudo passa, só Ele é eterno. Por isso, Basílio, somando todos os esforços, exorta a deixar tudo, mesmo os entes mais próximos, e partir em busca da Verdade, da “rocha firme”, da qual flui “água viva” que sacia a sede de felicidade e desperta a esperança.

O autoconhecimento, de acordo com o ensinamento do Legislador (Basílio) é a volta da capacidade de uma visão interior daquilo que está profundamente abscôndito na pessoa, isto é, da descoberta da nostalgia interior, da fome de felicidade e do deleitamento espiritual. Ela também permite reconhecer o autoengano interior, ao qual a pessoa se submete, entregando-se à servidão das coisas criadas. Por isso, ela é um elemento muito essencial no processo da conversão. Em contraposição, o desconhecimento de si mesmo causa uma situação tal que uma pessoa pode viver às cegas, na escuridão e entregue às tentações e manipulações de Satanás, o qual considera o pecado como o melhor meio de tranquilizar a consciência, a falta de paz interior.

O autoconhecimento ajuda a tomar consciência do estado no qual está a pessoa num determinado momento e, ao mesmo tempo, a enorme necessidade de sair dessa situação. Permite também a reconhecer os engodos do demônio, o “pai da mentira” (Jo 8, 44) às quais a pessoa ingenuamente e confiadamente se submete. Por isso, Basílio exorta para entrarmos corajosamente dentro de nós, entrar no “cubículo” do nosso coração e lá ficar face a face conosco mesmos, e daí olhar a verdade nos olhos e tomar conhecimento de tudo o que, com a ajuda da luz da graça de Deus foi revelado à pessoa.

O autoconhecimento, segundo o Legislador, num certo sentido é um autodiagnostico que possibilita revelar uma doença interior que causa a ruína da personalidade e conduz à morte existencial. Segundo Basílio, é preciso ver o pecado como uma enfermidade da alma escondida profundamente, que cada um deve reconhecer em si mesmo. Manifestações dessa doença são visíveis em diversos âmbitos da vida humana. Uma pessoa, cuja alma está enferma, é incapaz de produzir bons frutos, isto é, é incapaz de amar, incapaz de perdoar. Por isso, o autoconhecimento deve abranger tanto o lado exterior da vida humana, como também o lado interior, isto é, o coração da pessoa.

Graças ao autoconhecimento, o cristão toma uma consciência mais clara da necessidade de Jesus-médico e, em consequência, da necessidade de uma cura interior, enquanto percebe que por si mesmo, por suas próprias forças, não é capaz de livrar-se da enfermidade da alma e do coração.

Basílio enfatiza que o autoconhecimento fundamental de si mesmo pode ser impedido pelo temor frente à verdade e que esse temor tem de ser combatido, visto que ele às vezes paralisa a capacidade de conhecer, escraviza o corpo e a mente e não permite a pessoa colocar para fora o que se passa no seu interior.

Segundo o Padre Capadócio, o autoconhecimento é um processo que necessita de tempo, mas é indispensável em todas as etapas da vida cristã – tanto numa etapa inicial como nas seguintes, mais desenvolvidas e aprofundadas. Essa constatação faz-nos ver a necessidade maior ainda de buscar a raiz dos pecados, a fim de reconhecer a causa da enfermidade interior e para que a pessoa possa realmente ser curada. Como vemos, o autoconhecimento não pode limitar-se somente a um aspecto exterior, superficial sobre si mesmo, porque nesse caso não levará à verdadeira conversão e transformação.

Basílio desejava muito que a cura interior, por meio de um profundo autoconhecimento, fosse visível também no exterior, nas relações com os outros e na forma de vida. A ausência de sinais exteriores atesta que a conversão foi incompleta e, portanto, o autoconhecimento foi superficial. Como vemos, a vida segundo a verdade requer esforços, o combate interior, vencer tudo aquilo que o impede, isto é, o medo, a superficialidade, a cegueira e o embuste das tentações. Graças ao verdadeiro autoconhecimento, o cristão pode entrar numa consciente cooperação com a graça de Deus e, daí então, se torna possível o processo que conduz à cura interior, à purificação e à transformação interior.

 

Fonte: БАРТУХ, C. Модель християнського життя у творах св. Василія Великого. Львів: Свічадо, 2007, p. 22-24.

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