A Igreja – modelo da comunidade humana

1. A unidade na diversidade (princípio do bem comum)

A Igreja, ícone da Santíssima Trindade, introduz a pessoa humana na experiência da comunhão com Deus e assim cresce como comunidade de pessoas congregadas no Espírito Santo. A experiência única de Igreja está nisso que o homem só pode ser ele mesmo, pessoa, em comunhão com outras pessoas. Como a unidade da Igreja de Cristo existe sempre na diversidade, assim a comunhão de pessoas na Igreja não nivela a individualidade única da pessoa; pelo contrário, é a garantia de seu desenvolvimento e da conservação de sua identidade. Por isso essa comunhão de pessoas é também o seu bem comum. Numa sociedade secularizada, desvinculada da Igreja, a pessoa se compreende como indivíduo autossuficiente, fechado para os outros; ou como membro da coletividade, desprovido de liberdade, como “instrumento”, peça das instituições sociais. No primeiro caso, o indivíduo coloca seus interesses acima dos interesses sociais; no segundo caso, o coletivo predomina sobre o indivíduo. Em consequência disso, corrompe-se o entendimento do bem comum: ou ele é negado ou se reduz a interesses de grupos. A Igreja, realizando a sua missão de transfiguração da sociedade, transmite-lhe a experiência de comunhão em princípios morais da vida cristã. O princípio do bem comum consiste sobretudo em a sociedade criar condições para o livre desenvolvimento da pessoa, a qual ao mesmo tempo age para o bem da sociedade.

2. A santidade (o desenvolvimento da sociedade civil)

A Igreja é o meio vivificante para a santificação da pessoa, sua perfeição pessoal. Na Igreja, o homem pode aperfeiçoar-se também na dimensão social. Um pessoa santa, que vive o amora Deus e ao próximo no Espírito Santo, guia-se pela lei de Deus e é modelo de cidadão respeitador da lei. A própria busca da santidade dispõe o cristão para o serviço ao próximo e à comunidade. Por isso o cristão deve ser membro ativo da sociedade civil. A sociedade civil caracteriza-se pela capacidade de seus membros para a auto-organização, sua abertura e atividade autônoma em vista do bem comum. Na sua dimensão social, a Igreja é modelo para a sociedade civil, enquanto educa o cristão para a cidadania, capaz de sentir as necessidades do próximo e de lhes responder de forma adequada.

3.A universalidade (o princípio da solidariedade)

A catolicidade-universalidade da Igreja está na sua missão de reunir os homens e povos inteiros dispersos pelo pecado, formar em cada pessoa o senso de responsabilidade, não só em relação a si mesmo, mas também em relação aos outros e, enfim, em relação a toda a humanidade[1]. Além do senso de responsabilidade pessoal e de participação nos assuntos de sua comunidade, a universalidade abre a pessoa para a comunhão com outros homens e outras sociedades, e lhe confere a experiência dessa comunhão. A universalidade comporta o espírito de mútua compreensão em que as diversas sociedades superam seus interesses grupais, adotam a cultura do diálogo e da mútua colaboração para vencer os possíveis atritos e conflitos. Da experiência da catolicidade-universalidade da Igreja procede o princípio da solidariedade, pelo qual a comunhão de pessoas se expressa na interdependência dos indivíduos, e a responsabilidade pela Igreja como dever de participação na vida social e cooperação com outras pessoas humanas, membros da sociedade.

4. O apostolado e a diaconia (princípio da subsidiariedade)

A Igreja, seguindo o nosso Salvador, exerce sua missão (apostolado) na sociedade por meio do serviço: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20, 28). A vocação mais alta da Igreja não está na dominação, mas no serviço. A Igreja não pretende exercer o poder, mas busca ajudar; não luta por influências nem busca êxitos materiais, mas quer servir aos pobres, enfermos e desvalidos. A compreensão da Igreja da atividade social como serviço se expressa no princípio da subsidiaridade[2]. De acordo com ele, os agrupamentos de cidadãos nos diversos níveis agem, cada um deles, dentro dos limites de sua competência. Isso possibilita em cada nível (local, regional e nacional) mobilizar o máximo de iniciativas e de energias criativas. Os órgãos superiores do governo nacional não devem intrometer-se nas comunidades locais autônomas, nem substituí-las. Essa intromissão, decorrente do desejo de dominação, restringe a iniciativa dos cidadãos e das suas comunidades. O princípio da subsidiariedade fundamenta-se no fato de que os grupos sociais de nível superior têm de ajudar quando os grupos inferiores não conseguem organizar-se. Tal ajuda ou subsídio, sendo eco social do serviço, traz às relações sociais a verdade, a justiça, a liberdade e o amor: as máximas “colunas” da vida social[3]. A falta de espírito de serviço destrói a subsidiariedade e leva ao excessivo controle por parte do Estado ou à decomposição social.

[1] Cf. Compêndio de doutrina social da Igreja, 192.

[2] Cf. Compêndio de doutrina social da Igreja, 186.

[3] João XXIII: Encíclica Pacem in terris (“Paz na terra”), (11 de abril de 1963), V.

Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 918-926.

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