A tradição dos santos Padres destaca que a principal meta da vida espiritual do cristão é a participação viva e ativa na vida divina. Denomina-se essa participação como “divinização” (em grego theosis). A divinização acontece pela cooperação entre o homem e Deus, e é a transfiguração do homem no Espírito Santo. A graça da transfiguração é dada àqueles que perfizeram o caminho da purificação e vivem uma vida de virtudes.
A divinização tornou-se possível graças à encarnação do Filho de Deus. Santo Atanásio de Alexandria afirma; “O Filho de Deus tornou-se homem para que o homem se tornasse deus”[1]. Santo Irineu de Lião diz: “Ele (Jesus Cristo) tornou-se filho do homem a fim de que o homem se tornasse filho de Deus”[2]. Ele também assevera: “O Verbo de Deus, Nosso Senhor, Jesus Cristo, pelo seu infinito amor tornou-se aquilo que nós somos para fazer de nós Aquilo que ele é”[3]. O mártir Hipólito Romano enfatiza a dinâmica da divinização: “Tu que vives na terra e tens conhecimento do Reino dos Céus, que te tornarás interlocutor de Deus e co-herdeiro de Cristo, não deves ousar permanecer na escravidão das concupiscências, paixões e enfermidades: pois te tornaste deus. Todos os sofrimentos que padeces, sendo homem, Deus te envia porque és homem; quando seguires a Deus, ele te dará aqueles dons que por natureza lhe pertencem, porquanto te tornaste divinizado, regenerado para a imortalidade”[4].
Para os santos Padres, o principal meio para a divinização é o combate espiritual. A primeira etapa do combate é a purificação das paixões e dos pensamentos concupiscentes pelo poder e graça do Espírito Santo[5]. A segunda etapa é a iluminação da pessoa por meio da atividade da mente e da contemplação. A terceira etapa é a busca da divinização[6].
O processo místico e dinâmico da divinização se dá no Corpo de Cristo que é a Igreja. Na medida em que o cristão vive a vida sacramental na Igreja, tanto ele é membro vivo do Corpo de Cristo divinizado. Pela divinização, a vida divina torna-se nossa vida, a nossa vida divinizada. Ser o espaço e o meio da divinização constitui a peculiar missão da Igreja. Essa missão se manifesta no anúncio da Palavra de Deus, nos santos Sacramentos, na vida litúrgica e na vida moral e ascética.
A divinização é encontro entre Deus e o homem na fé. Ela é impossível sem a abertura da pessoa para a graça divina e para o empenho espiritual. Somente pelo cumprimento dos mandamentos de Deus e pela purificação do coração, em cooperação com a graça divina, a pessoa se eleva a graus cada vez mais altos de perfeição. A purificação interior, a vida de virtudes, vida de santidade são as principais condições para a divinização, para a união com Aquele que é Fonte de Santidade, Pureza e Perfeição.
O amor divino, que é o ápice da vida virtuosa, é também a força para a divinização do homem. Deus se torna homem por amor ao homem, e o homem cresce no processo da divinização por meio do amor a Deus. Na divinização, a mente do homem é iluminada, tomada pela luz divina. O homem torna-se partícipe do amor divino[7], é transfigurado em todo o seu ser: o homem torna-se deus segundo a graça.
[1] Cf. Atanásio de Alexandria: Discurso sobre a encarnação do Verbo, 54.
[2] Irineu de Lião: Contra as heresias, III, 10, 2.
[3] Irineu de Lião: Contra as heresias, Introdução.
[4] Hipólito Romano: Condenação de todas as heresias, 10, 34.
[5] Cf. Macário o Grande: Homilia 17, 21.
[6] Cf. Macário o Grande: Homilia 7.
[7] Cf. Máximo Confessor: Sobre a Caridade, I, 27.
Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 850-855.