A questão do “justo-meio” segundo Aristóteles

É sempre louvável e curioso enxergar o quanto a Filosofia Antiga desenvolveu-se culturalmente, atingiu seu ápice na formação do homem e, por fim, influenciou e revelou as cognoscíveis e apuradas investigações sobre a natureza, sobre o comportamento humano e partir daqui, percorre a cada instante uma imensa satisfação e uma sublime característica moderável de uma construção sólida e monolítica, a qual sua acuidade se encontra em decorrência dos panos retirados do universo.[1] Não podemos apenas destacar os gregos pelo seu esforço nem tão pouco pela rica cultura, mais podemos ver mais que exemplo, podemos compreender o quão os gregos – refiro-me aos filósofos e mitólogos – transformaram o mundo, seja o modo de pensar, seja a formação dos homens, seja ainda, em tudo aquilo que foi desprezado, esquecido, ou, olhando a partir de um senso crítico cego.

É historicamente indiscutível que foi da parte da cultura grega antiga e consequentemente que seus fundamentos perceptíveis e sua profícua interseção logo brotou de maneira viva a tomarmos um ponto de vista mais valioso. O estilo e a visão sobre a areté, vai além da própria superioridade do homem, mas antes uma teoria e prática aplicável simplesmente em seu sentido espontâneo e evidente. Aristóteles foi um daqueles grandes pensadores que fez parte deste corpo grego antigo, foi um dos mais eminentes e honrando dos filósofos, um verdadeiro pensador e exímio biólogo. A utilidade e seu rico tesouro de preceitos da conduta humana são o fundamento da ética, antes de tudo, o próprio Aristóteles é um pensador prudente e expõe uma teleologia segura, límpida e desejada. Dessa maneira, o homem, antes possa observar e enxergar como ele está agindo para tal fim.

O conceito de ética na filosofia de Aristóteles, é no primeiro momento vasto, pois, ele dedica uma grande obra que segue uma via organizada e compreensível, entretanto, sua concepção não visa apenas uma finalidade, mas antes o caminho, o processo para se terminar, útil e bom. Fato é, o propósito da vida humana é conseguir a felicidade, chegando a essa felicidade, o homem busca afeiçoar-se no viver e no fazer o bem. A felicidade é o fim último de todas as ações e de nossa existência, assim sendo, somente os seres humanos buscam a felicidade. Por isso, o homem deve não apenas abraçar a ideia de felicidade, mas deve olhar os meios para alcançar e principalmente, encontrar o justo-meio, ou seja, o homem tende a desviar-se facilmente do caminho do justo-meio – o homem pode se tornar uma pessoa má onde não alcança a maturidade moral e ética, pois, com estes vícios, chega a ser intemperante, covarde e imprudência,  –, neste aspecto, nem tudo nos dá felicidade ou nos permite alcançá-la, porém, o movimento que ocorre permite-nos saber de tais coisas são boas ou não boas.

Aristóteles sabe quão grande fascínio a ética é importante na vida humana e, por isto, mesmo trabalhando em conceitos que venham marcar a ética, o homem precisa saber colocar as coisas no equilíbrio. Para Aristóteles, o homem é um animal político[2], como também todos tem por natureza o desejo de conhecer[3]. Tendo o homem o desejo de conhecer e, ao mesmo tempo, um animal político, Aristóteles infere há duas espécies de virtude, ou seja, intelectual e moral, a primeira, geralmente, cresce e desenvolve-se graças à instrução, sendo assim, requer experiência e tempo para se obter; enquanto a virtude da moral é obtida em resultado do hábito, de onde é formado o seu nome por uma pequena modificação da palavra hábito. Por tudo isso, evidencia-se também que nenhuma das virtudes morais, segundo Aristóteles, “surge em nós por natureza; com efeito, nada do que existe naturalmente pode formar um hábito contrário à sua natureza”.[4] Depois, elas não são por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes geram, pois, deduzimos que somos compatíveis por natureza a recebê-las e nos tornamos perfeitos pelo hábito.[5]

O processo de perfeição pelo hábito incide vias completamente conhecíveis, interessar-se fazer com que os homens pelos atos que venha praticar nas relações com os outros homens, os tornam justos ou injustos, pelo simples fato de que, aquilo que fazemos em presença do perigo e pelo hábito do medo ou da ousadia, todos nós nos tornamos valentes, ou na pior das hipóteses, verdadeiros covardes.[6] Entretanto, a deficiência comum caminha para aquilo que é excessivo de algo, seja de exercício, seja de alguma via da inatividade, em suma, o exagero destrói a força, como da mesma forma, o alimento ou a bebida que ultrapassam determinados limites, seja para mais – gula – ou, como para menos, extinguem assim a saúde.[7]

Sob o olhar do Peripatético o justo-meio encontra-se entre dois vícios, um por abuso e outro por falta. O justo-meio apresenta a terceira via para que, os homens possam alcançar tais objetivos sem adentrar no abuso ou na própria falta. Aristóteles é muito enfático em dizer que a virtude sempre irá encontrar e escolher o justo-meio, não apenas por ser uma terceira via, mas simplesmente porque ela é de fato, a via mais confiável e verdadeira.[8] Há de se deixar claro, que o homem não adere quando nasce ao justo-meio, ou seja, existe, porém, não significa que seja inato, neste sentido, sempre será direcionado a nós mesmos. Ora, a virtude por estar unida, deve antes de tudo, ver aquilo que faz mal e aquilo que faz bem ao homem.

Em síntese, o extremo é considerado algo errôneo e por outro menos; destarte, acertar no justo-meio será enormemente complexo, devemos considerar as coisas para as quais nós próprios somos facilmente arrastados, porque um percorre numa direção e outro em outra; e isso se pode reconhecer facilmente pelo prazer ou pela dor que sentimos.[9] Devemos deixar claro, que será preciso uma grande força para ir na direção do extremo contrário, segundo Aristóteles, somente assim atingiremos ao estado mediador afastando-nos o mais que pudermos do erro.[10] Em todas as coisas é digno de ser enaltecido, mas que às vezes precisamos inclinar-nos para o exagero e outras vezes para a falha. Efetivamente, essa é a maneira mais fácil e louvável de atingir o justo-meio e o que é certo.[11]

Autor: Fr. Phaulo Rycardo Souza Guilhon, SAC. Aluno do 3º ano de Filosofia na FASBAM (2022).

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Trad: Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. A

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro II. Trad: Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. B

ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Atena Editora, 1955.

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

[1] O termo usado “panos retirados do universo” significa que todos os fundamentos que os filósofos e mitólogos construíram a partir de suas investigações. Retirar os panos do universo trata-se apenas de uma metáfora onde os pensadores gregos mudaram o mundo, e quando falamos de mudança, de tudo aquilo que consideramos “novo”, enquanto, na verdade, aquilo que chamamos de novo já foi revelado, já foi apresentado com mais fundamento, donde tal pensador contribuiu para o prosseguimento ou um complementariedade universal, ora, segundo Jaeger, sem a concepção grega da cultura não teria existido a “Antiguidade” como unidade histórica nem o mundo da cultura ocidental.(Cf. JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 7). Podemos ainda salientar com toda reverência e honra, dizer que os gregos não apenas foram dominantes, mais que eles desenvolveram tudo e falaram sobre tudo, todavia, não quero conduzir ao meu caro leitor uma exclusão de outros povos, mas antes, destacar aqui a importância e colossal cultura grega e sua nova emanação no mundo.

[2] O homem tem a capacidade de viver em cidades, donde pode realizar suas tendências para o seu próprio bem. O homem é um ser social, a qual na mesma, contém, regras, leis, hierarquias etc. (Cf. ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Atena Editora, 1955. p. 14).   

[3] Cf. ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Trad: Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 211. A

[4] Aristóteles busca uma investigação, onde dá continuidade as suas observações sobre o livro I da mesma obra. Logo depois, o escopo do livro II, visa uma práxis em que o homem possa observar e principalmente enxergar como ele está agindo. Em resumo, Aristóteles não visa apenas o conhecimento em sua totalidade, mas busca praticá-las, isto é, as virtudes. Ele não quer que o estudo seja algo frívolo e inútil, mas algo bom e agradável a todos os homens. Aristóteles vai partir da prática e não uma mera teoria que logo depois ficará esquecida e abandonada. (Cf. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro II. Trad: Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 1. 15. B).

[5] Usarei a sigla, E. N, para corresponder a obra Ética a Nicômaco de Aristóteles (Cf. E. N. 1. 25)

[6] Cf. E. N. 1. 15

[7] Cf. E. N. 2. 15

[8] Cf. E. N. 6. 1107a – 5

[9] Cf. E. N. 9. 30 – 1109 b

[10] Cf. E. N. 9. 5

[11] Cf. E. N. 9. 25

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo