O canto litúrgico é uma expressão de culto. O canto litúrgico é o louvor orante, pelo qual a Igreja se une com os coros angélicos para render glórias à Santíssima Trindade. A fonte de louvor divino é a contemplação da Santíssima Trindade; por isso ele é verdadeira “música teológica” de alto nível. No canto litúrgico, o homem toma parte no canto “imaterial”[1] dos coros dos anjos, “representando misticamente os querubins”.
Para “sonorizar” o canto dos anjos, o homem necessita da graça e da força do Espírito Santo. Por isso o homem que ora pode ser comparado a um “instrumento” do Espírito Santo[2]: como um instrumento emite um som quando é soprado, assim também o homem reza em sons, porque recebe o “sopro” do Espírito Santo. Decorre disso a dualidade da oração cantada: não só a pessoa reza no nível de um som perceptível ao ouvido humano – nela também ora o Espírito Santo por meio do Filho ao Pai (cf. Rm 8, 26). O canto litúrgico da Igreja é um ícone terreno do canto celeste dos coros dos anjos.
Ao som do canto litúrgico é lida a Sagrada Escritura, como também as composições poéticas dos Padres da Igreja e os textos dos Concílios. Compositores inspirados de cantos litúrgicos, como, por exemplo, Romão, o Doce Cantor, ou João Damasceno, fundamentando-se na Sagrada Escritura e na doutrina dos santos Padres, compuseram hinos litúrgicos, os quais, dependendo de sua forma, receberam os nomes de “tropário”, “contáquio”, “ikos”, “estrofes”, “irmós” etc. Graças a esse canto litúrgico, a comunidade eclesial reunida reza usando textos bíblicos e alimenta sua cultura religiosa com o pensamento dos santos Padres. A vivência orante de Deus por uma comunidade eclesial tornou-se fonte de sua própria tradição, expressa no genuíno canto litúrgico. As melodias litúrgicas mais renomadas da nossa Igreja são a de Kyiv e a de Halytch.
O cantor, atendo-se humildemente aos cânones da Igreja quanto ao canto litúrgico, torna-se, por meio do canto, verdadeiro instrumento do Espírito Santo, motivando o povo para a oração comunitária. O canto litúrgico não é “concerto de música sacra”, durante o qual as pessoas se dividem em “executores” e “ouvintes”; mas ele deve unir todos na oração comum. Por isso o canto, do qual participa o povo de Deus presente na celebração, é sempre um acontecimento irrepetível de uma cooperação e união de pessoas livres que rezam “com uma só boca e um só coração”.
[1] Cf. Devocionário “Vinde, adoremos”, Acátisto à Mãe de Deus, ikos 1.
[2] Cf. Triódio Pascal, Domingo de Pentecostes, vésperas, estrofe.
Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 621-624.