A estrutura iconográfica de uma igreja oriental

Os emissários do príncipe Volodymyr de Kyiv, após terem visitado a catedral de Santa Sofia em Constantinopla, assim descreveram a magnificente beleza daquele templo: “E fomos conduzidos para o lugar onde eles adoram o seu Deus, e não sabíamos se estávamos no céu ou na terra. Porque não há na terra um cenário, uma beleza tão impressionante, que nem mesmo sabemos descrever. Sabemos apenas que certamente (seu) Deus permanece entre os homens e seus ofícios são mais belos que os de todas outras terras. Nem mesmo podemos esquecer aquele esplendor, porque todo o homem que prova primeiro do doce, depois não quer mais provar do amargo”[1].

O homem de hoje, ao entrar numa igreja, toma consciência de que na beleza da pintura religiosa ele percebe a encarnação do eterno no temporal, do celeste no terrestre. Segundo as palavras de São Máximo Confessor, o templo cristão é ícone, isto é, imagem de todo o universo, visível e invisível[2].

A igreja inteira é revestida de afrescos ou mosaicos que representam eventos da história da salvação. Na abóboda da cúpula central vem a imagem do Cristo Todo-Poderoso (em grego Pantokrátor). O lugar que ela ocupa, no centro da igreja, significa que ele é o Senhor do céu e da terra e, ao mesmo tempo, é a Cabeça da Igreja, que é seu Corpo. Na mão esquerda normalmente ele segura uma esfera, símbolo do universo, e com a mão direita, abençoa. Na cúpula estão também representados anjos e, nas quatro abóbadas que unem a cúpula central com a nave, estão representados os quatro evangelistas, que anunciaram a Boa Nova de Cristo ao mundo inteiro.

Nas paredes da nave dos fiéis são representados eventos e personagens da história da salvação. Nas paredes norte e sul são pintados ícones das festas de Cristo e da Mãe de Deus ou da Paixão de Cristo, ou ainda da vida de santos. Abaixo deles, são representados mártires, confessores, veneráveis e anárgiros. Os santos representados indicam que a Igreja terrestre e a Igreja celeste unem-se numa só oração litúrgica: os santos, que já combateram o bom combate, junto com os fiéis no templo estão diante da face do Altíssimo.

Na parede oriental da igreja, no recinto da abside, estão dispostos o ícone do padroeiro e o ícone da “Comunhão dos apóstolos”: Cristo oferece o pão, seu Corpo, para um dos lados, e para o outro lado, o cálice de seu Sangue. Os apóstolos recebem piedosamente a santa Comunhão. O ícone da Eucaristia é um ícone litúrgico da Igreja; a Igreja nasce da Eucaristia e cresce alimentando-se da Ceia do Senhor com os apóstolos e todos os santos. Dos dois lados da abside são representadas as pessoas de hierarcas, sobretudo dos criadores de Liturgias: os santos Basílio Magno e João Crisóstomo. Na parede ocidental do templo é representada a Dormição da Santíssima Mãe de Deus ou o Último Juízo. Esses ícones, junto à saída da igreja, recordam o final de nossa vida que deverá ser segundo o modelo da feliz dormição da Santíssima Mãe de Deus, quando tudo será entregue nas mãos de Deus, devendo nós estar preparados para responder pela nossa vida diante de Deus. No pórtico da igreja está o ícone da crucificação de Cristo. Com toda essa iconografia religiosa, o templo é verdadeiramente uma “assembleia”, local de reunião da Igreja inteira.

[1]Saga dos Tempos Vetustos” (“Povist Vremenykh Lit”), anos 6495 (987)-6521(1013): narrativa sobre a escolha da fé.

[2] Máximo Confessor: Mistagogia, 2.

Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 610-614.

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