O Sacramento do Novo Testamento

O conceito de Divina Liturgia estaria incompleto se fosse omitido ainda outro importante aspecto de sua natureza. Até a semana passada foi considerado a Divina Liturgia como um sacrifício, mas que o conteúdo da Divina Liturgia não está esgotado quando se olha deste ponto de vista, pois não é somente um sacrifício, mas também um sacramento do Novo Testamento.

Cristo desejou estabelecer a Divina Liturgia como um Sacrifício Incruento do Novo Testamento e também como um sacramento que era para ser uma fonte sem fim da graça de Deus, ajuda e consolação. O santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo não são apenas elementos de sacrifício, mas também de sustentação e alimentação da alma. Este alimento espiritual é dado ao cristão na Santa Comunhão onde os dons de sacrifício são distribuídos ao comungante. Desta maneira, Cristo une a Si mesmo com Seu escolhido, dá a Si mesmo inteiramente a ele e o permite participar de Sua vida divina.

A Santa Eucaristia, assim como os outros sacramentos, é um sinal externo da graça invisível; ela é a fonte e o depósito da graça de Deus que é a vida sobrenatural – a vida de Deus. Ela está acima de todos os outros sacramentos em todos os aspectos. Os outros sacramentos conferem graça sobre a alma, restaurando-a ou aumentando-a. O Batismo, por exemplo, confere a graça que faz ser filho de Deus e remove o pecado original. O sacramento da Penitência restaura a graça que foi perdida pela alma. Os sacramentos da Santa Ordem e Matrimônio concedem aqueles que os recebe a graça e ajuda para cumprir os deveres de suas respectivas condições. O sacramento da Unção dos Enfermos aumenta a graça e dá a força para a alma. Todos os sacramentos, portanto, são fontes e canais da vida sobrenatural que é a vida de Deus.

Na Santa Comunhão, contudo, se recebe não apenas graças particulares deste sacramento, mas também o Doador de todas as graças, o próprio Senhor Jesus Cristo. Na Santa Comunhão Ele vem para habitar e para unir a Si mesmo com o povo a fim de o fazer participante de Sua vida divina. A Santa Comunhão é um banquete espiritual em que o alimento espiritual é o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Isso atrai para uma união próxima e íntima com Deus, uma união dificilmente concebível.

A razão humana não pode medir a profundidade deste mistério divino; ela é impotente diante dele. A sabedoria de Deus, onipotência e amor não poderiam ter feito mais. É uma pequena maravilha que este sacramento foi considerado pelos judeus como “uma pedra no caminho.” Cristo, muito antes do estabelecimento da Santa Eucaristia, prometeu dar Seu Corpo e Sangue para o mundo, e o povo ouvindo sobre isso partiu de perto dEle murmurando que Suas palavras eram duras. (Jo 6:60;) Mas Cristo não se lembrou de Suas palavras. Pelo contrário, na Última Ceia Ele cumpriu essa promessa e deu aos Apóstolos Seu Corpo e Sangue com o explícito comando que eles deveriam fazer o mesmo em Sua memória renovando e repetindo este Banquete Divino.

Muito tempo atrás as pessoas sonhavam com a união a Deus, e expressavam este desejo por meio de sacrifício. Externamente esta união com a divindade era expressada pela consumação da vítima (o Cordeiro Pascal entre os judeus). O sacrifício da Divina Liturgia responde o desejo do coração humano pela união com a divindade. Na Santa Comunhão esta união é alcançada. A Santa Comunhão é a reconstituição da vinda de Cristo para o mundo, para o Deus-Humano, Jesus Cristo, nasce de novo nos corações dos homens na Santa Comunhão. Ele vem para a lama e repete e renova a missão que ele tinha cumprido na terra. Ele vem com Seus ensinamentos, iluminando as mentes dos homens e fazendo aqueles mesmos milagres que Ele uma vez fez enquanto estava nesse mundo. Ele cura doentes, abre os olhos dos cegos, fortalece o fraco, levanta os mortos para uma nova vida e envia o Espírito Santo com graças e auxílio. Em suma, na Santa Comunhão se recebe toda a graça necessária para a salvação.

Fonte: SOLOVIY, Meletius M. Divina Liturgia: historia – evolutio – commentarium. Romae: PP. Basiliani, 1964. (Analecta OSBM).

Pe. Meletius M. Soloviy, OSBM
(1918-1984) Doutor em Ciências Teológicas Orientais, Escritor , Historiador, Liturgista e Professor

Lorem ipsum..

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo