Normalmente, distingue-se quatro principais propósitos e quatro maneiras correspondentes de sacrifício. O primeiro e o principal propósito de oferecer sacrifício é reconhecer o domínio supremo de Deus sobre Suas criaturas. Como resultado, oferece-se a Ele adoração. Todas as outras razões de oferecer sacrifício podem ser reduzidas a este único propósito. Assim como o objetivo do homem na terra é a glorificação de Deus, assim também, o propósito de sacrifício é a glorificação de Deus. Este tipo de sacrifício é chamado de sacrifício de louvor ou adoração (propósito latrêutico).
A segunda finalidade do sacrifício é expressar gratidão a Deus pelos benefícios que Ele tem concedido (propósito eucarístico). Este decorre a partir do primeiro, mas há uma pequena diferença no motivo. O primeiro motivo de sacrifício, o de adoração, é “altruísta”; sua finalidade é o próprio Deus. No segundo motivo, o de ação de graças, o homem oferece sacrifícios por causas pessoais, próprias razões, como por exemplo, ele agradece a Deus pelos benefícios que ele tem recebido dEle.
O terceiro motivo de sacrifício, é chamado de sacrifício de propiciação, é também pessoal (finalidade expiatória). A finalidade deste sacrifício é aplacar a ira de Deus, e fazer reparação, em um espírito de pesar, pelos pecados que o homem tem cometido. A história mostra que a maioria dos sacrifícios eram oferecidos para obter perdão pelos pecados e para apaziguar a ira de Deus. O pecado era considerado como a causa de todas as calamidades e desgraças: inundações, secas, peste, doenças e ataque inimigo. Deste modo, o homem oferecia sacrifícios de reconciliação e reparação a Deus.
O último propósito de sacrifício é pedir ajuda a Deus (fim impetratório). Este motivo nasce da crença do homem que tudo é sujeito à Providência de Deus, e que o homem é incapaz de fazer qualquer coisa sem Sua ajuda divina e benção. É por isso que os sacrifícios de petição são oferecidos antes de qualquer compromisso público ou privado.
Estes quatro objetos de sacrifício são cumpridos idealmente na Divina Liturgia que é o mais perfeito sacrifício de adoração, ação de graças, propiciação e petição.
Antes de tudo, a Divina Liturgia é o perfeito sacrifício de adoração. Na Divina Liturgia se glorifica e adora Deus, por meio de Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo. Não é apenas o povo que louva a Deus, mas é Cristo que reza com o povo e para o povo, desde que o povo esteja oferecendo Suas orações, méritos, sofrimento e morte a Deus. Nenhuma adoração humana, nem mesmo a dos santos, será igual a este ato de adoração realizado na Divina Liturgia.
O mesmo pode ser dito do sacrifício de ação de graças. Na Divina Liturgia não se faz oferta sozinho para agradecer a Deus porque é Cristo que faz com cada um. Qual é o mais perfeito caminho para expressar gratidão a Deus por Seus incontáveis benefícios do que ofertar o Sacrifício Incruento da Divina Liturgia? As pessoas são incapazes de agradecer a Deus por todos os benefícios que Ele as confere; então, na Divina Liturgia, oferece-se a Deus todos os méritos de Cristo a fim de pagar a divida de gratidão.
E o que se pode dizer sobre a Divina Liturgia como um sacrifício de reconciliação? Alguma vez existiu, ou existe agora, um sacrifício que poderia superar a Divina Liturgia em reconciliação da humanidade com Deus? A este respeito todos os sacrifícios tem sido menos que perfeito porque eles eram muito frágeis ao mérito do perdão de Deus e muito frágeis para remover o grande abismo que separa Deus da humanidade. A Divina Liturgia é um sacrifício de paz e reconciliação, um sacrifício que se tornou a fonte da graça de Deus, salvação e benção. Nunca mais é necessário ofertar o sangue de animais para fazer agrado à Divindade; no sacrifício da Santa Eucaristia se tem o mais perfeito e o mais efetivo meio de obter perdão dos pecados.
Finalmente, se o objeto de sacrifício é para obter ajuda de Deus, há um melhor ou mais efetivo meio de obtê-la do que por meio da Divina Liturgia? Na Divina Liturgia não se está sozinho, é Cristo que está com cada um, rezando a Deus. Os infinitos méritos de Cristo dão às orações infinitos valores.
Fonte: SOLOVIY, Meletius M. Divina Liturgia: historia – evolutio – commentarium. Romae: PP. Basiliani, 1964. (Analecta OSBM).
Pe. Meletius M. Soloviy, OSBM
(1918-1984) Doutor em Ciências Teológicas Orientais, Escritor, Historiador, Liturgista e Professor.
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