Uma das linguagens fontais da experiência religiosa é o símbolo. Assim como afirma José Severino Croatto em As linguagens da experiência religiosa, a experiência da realidade transcendente, ou seja, o mistério, é o núcleo do fato religioso, o símbolo é, na ordem da expressão, a linguagem originária e fundante da experiência religiosa, a primeira e a que alimenta todas as demais.
O símbolo expressa o indizível, o inefável. Ele transmite o mistério e transporta o indivíduo ao transcendente. Em outras palavras, o símbolo é uma mediação entre o homo religioso e o transcendental, o inalcançável. É uma expressão simbólica da experiência do sagrado, ou seja, uma mediação. O mistério é percebido por mediação, o homem que reveste um objeto ou alguém de sacralidade e comunica-se com o transcendente, o sagrado em sua forma absoluta, o divino.
O homem, sendo ele um animal simbólico, isto é, faz uso dos símbolos como função social de comunicação e vivencia, continuamente constrói símbolos como a linguagem e a arte para a expressão de suas experiências.
Mas, o que é símbolo? Símbolo, em sua etimologia, refere-se à união de duas coisas (do grego sum-ballo, ou sym-ballo), em outras palavras, é uma parte que remete a outra, que se relacionam. No âmbito fenomenológico, devemos permanecer no nível do sentido, não no das coisas em si mesmas. Por exemplo, uma pedra é uma pedra, tendo sua função e é parte de uma estrutura global dentro do universo, assim como o sol que possuem suas leis físicas, são o que são, tendo seu próprio sentido; mas, o ser humano pode, de certa forma, atravessar este primeiro sentido para ver nas coisas de sua experiência fenomênica um segundo sentido. Ele coloca um sentimento, uma emoção especial diante de uma realidade cotidiana, como o pôr-do-sol que lhe dá nostalgia.
O segundo sentido não está objetivado na coisa, mas é uma experiência humana e singular em cada humano. Acrescento um exemplo dada por José Severino Croatto: Duas pessoas estão observando um conjunto de nuvens; uma percebe a beleza, a transformação, a criação em movimento; a outra, não percebe nada. Acontece que a primeira pessoa capta naquele cenário o que ela mesma vive ou desejaria encontrar. A nuvem então é o objeto simbólico que desencadeia uma vivencia humana particular, ou seja, é subjetiva a cada pessoa. As coisas não são simbólicas em sí mesmas, e nem sempre chegam a sê-lo. São constituídas simbolicamente por algum tipo de experiência humana.
O objeto, após ser transignificado, perde seu sentido primário para o homem que o experiencia. Na experiência, o transcendente que o símbolo convoca não é objetivável nem definível em palavras, percebe-se como mistério, por isso, é necessário ao homem algo que faça esta mediação.
Para que o símbolo ganhe uma conotação religiosa é preciso haver uma vivência do sagrado em relação com tal ou qual elemento mundano. Nem toda pedra ou animal é sagrado. O animal ou pedra que se tornam sagrados não são necessariamente para todas as pessoas, é necessário mediar uma experiência do transcendente em relação a esse objeto. Assim como a vaca, que para os hindus indianos é sagrada, ganha outra visão e sentido no ocidente. Ou seja, o sentido do símbolo é subjetivo por que é cultural. Um judeu, pode reconhecer que a cruz é o sinal de um cristão, ou seja, é universal como signo, mas é apenas ao cristão que a cruz tem um sentido amplo de mediação com o transcendental, o símbolo.
Pelo símbolo, o homo religiosus solidariza-se com o cosmo, com os outros seres humanos e especialmente com o mistério. É pelo símbolo que se reconhece as pessoas iniciadas em uma comunidade, por exemplo a cruz. A cruz é signo para uma outra religião não cristã, mas ele sabe que o portador deste é um cristão, porém, para o cristão, a cruz é um símbolo do mistério redentor. O símbolo só é símbolo quando o indivíduo experimenta o mistério. Mesmo que o objeto ou coisa ganhe explicação cientifica para seus fenômenos, o símbolo em si permanece sintonizado no ser humano religioso por meio da mediação cósmica ou histórica. Temos que compreender que quando o símbolo é interpretado, é sua reserva de sentido que emerge em forma de relato, cuja função não é explicar, mas dizer a experiência vivida. Quando tudo está claro, já não há símbolo.
O símbolo deixa de ser símbolo quando é objetivado racionalmente de seu sentido por algo exterior à cosmovisão religiosa. Ele envelhece quando procura-se explicar a partir da experiência comum, do concreto e verificável, quando não há lugar para verdades metafísicas. O símbolo deixa de ser evocativo quando, na arte, a imagem já não evoca nada, apenas enfeita.
Para concluir, podemos dizer que o símbolo é a representação de uma ausência pois este remete ao transcendente, é a representação material de um afeto. Assim afirma o autor Croatto: “O símbolo “faz pensar”; o símbolo “diz sempre mais que diz”. Em outras palavras, o símbolo é a linguagem do profundo, da intuição, do enigma.
Autor: Elivelton de Almeida Jonko, estudante da turma 2º ano do Curso de Filosofia da FASBAM.