A Liturgia dos Dons Pressantificados como uma das maiores obras-primas da piedade oriental e da criatividade litúrgica

A alegria que acompanha a celebração das Divinas Liturgias de São Basílio Magno e de São João Crisóstomo foi considerada pela Igreja Primitiva como não adequada para a período penitencial da Grande Quaresma. Por esta razão, o Concílio de Laodiceia (363) proibiu o a celebração das Divinas Liturgias durante a Grande Quaresma, exceto no sábado, domingo, Solenidade da Anunciação e Quinta-feira da Paixão.
 
Os cristãos daquela época tinham o hábito de receber a Sagrada Comunhão quase que diariamente e então foram privados das forças derivadas da Sagrada Comunhão por cerca de uma semana o que os deixava muito entristecidos.
 
A Igreja, desejando que seus filhos continuassem seu hábito piedoso de receber diariamente a Sagrada Comunhão, permitiu o recebimento, mas dos Santos Dons que haviam sido consagrados em uma Liturgia precedente. Assim, a Liturgia dos Dons Pressantificados foi formada e celebrada nas noites de segunda-feira a sexta-feira durante a Grande Quaresma; não há consagração da prósfora e do vinho na Liturgia dos Dons Pressantificados, mas aqueles que desejam se comungar, recebem os Santos Dons que foram consagrados na Divina Liturgia anterior. Os cristãos não comiam nada o dia todo.
 
Esta liturgia recebeu sua forma atual de São Gregório Magno, no século VI. Tornou-se um cânone no Concílio Quinissexto em 692. Lê-se no cânone: Em todos os dias do sagrado jejum da Grande Quaresma, exceto no sábado, e no Dia do Senhor (isto é, no domingo) e no dia santo da Anunciação, a Liturgia dos Dons Pressantificados deve ser servida (Cânone 52, Concílio Quinissexto, 692).
 
Com o passar dos anos, no entanto, os cristãos infelizmente perderam seu zelo original e ignoraram os benefícios da Sagrada Comunhão, e assim eles não a recebiam todos os dias ou mesmo todos os domingos. Eles a recebiam com longos intervalos. Portanto, a Liturgia dos Dons Pressantificados perdeu seu significado original e principal. Hoje, é celebrada apenas durante a Grande Quaresma, geralmente nas catedrais ou grandes paróquias, às quartas e sextas-feiras; na quinta-feira, na quinta semana da Grande Quaresma; e na segunda, terça e quarta-feira na Semana da Paixão.
 
A Liturgia dos Dons Pressantificados consiste em Vésperas, com orações especiais juntamente com uma porção da Divina Liturgia, omitindo sua parte mais importante, a consagração dos Santos Dons; e a Terceira, Sexta e Nona Horas (com os Salmos Típicos) são usadas de uma maneira particular no começo.
 
Os Santos Dons, consagrados na Divina Liturgia aos sábados e domingos, são preservados no tabernáculo do Santo Altar. O sacerdote coloca os Dons no disco com a oração e incensando depois da Grande Ladainha, durante o cantar dos salmos (katysma). Ele os leva em procissão solene ao redor do Altar e à Mesa da Oblação.
 
O salmo da tarde, Senhor, eu vos clamo, é então cantado com os hinos especiais do dia. Isto é seguido com a entrada da noite, o hino Luz do Mundo, e duas leituras bíblicas: do Gênesis e dos Provérbios. As leituras da Bíblia são pontuadas pelo sacerdote abençoando os fiéis com o turíbulo e uma vela acesa proclamando “A luz de Cristo ilumina a todos!” . Esta bênção simboliza a luz da ressurreição de Cristo, que ilumina as Escrituras do Antigo Testamento e toda a vida da humanidade. Esta é a própria Luz com a qual os cristãos são iluminados na vida da Igreja através do Santo Batismo.
 
A oração de Santo Efraim é lida depois do cântico do salmo da tarde: Que a minha oração suba a Vós como incenso. A grande ectenia é cantada, e os Dons Pressantificados são trazidos solenemente e à mesa do altar. É quando o seguinte hino de entrada especial é cantado:
 
Agora os poderes celestes servem invisivelmente conosco.
Pois, o Rei da Glória entra.
Pois, o sacrifício místico é oferecido, cumprido.
Aproximemo-nos com fé e amor para participarmos da vida eterna.
Aleluia, Aleluia, Aleluia.
 
A oração de Santo Efraim é lida novamente, acompanhada de uma ectenia e uma oração especial antes da Santa Comunhão. “Pai Nosso que estais nos céus…” é cantado e os fiéis recebem a Sagrada Comunhão para cantar: “Provai e vede como o Senhor é bom! Aleluia”.
 
Os fiéis “partem em paz” com ações de graças a Deus por Sua vinda. A oração especial de despedida pede a Deus o êxito da Quaresma e celebra dignamente a grande festa da Páscoa – a ressurreição de Jesus Cristo nosso Senhor.
 

Deus eterno e onipotente, que tudo criastes com sabedoria e que, por vossa inefável bondade e providência, nos concedestes chegar a estes preciosos dias, para a purificação de nossas almas e de nossos corpos, para o domínio dos vícios e a esperança da ressurreição; Vós, que aos quarenta dias entregastes a Moisés as tábuas da lei por vós gravadas; dai-nos, ó Bondoso, combater o bom combate, terminar o período do jejum, conservar a integridade da fé, vencer o pecado e tornai-nos dignos de nos aproximar, sem condenação, da santa Ressurreição. 

 
O recebimento da Comunhão geralmente é realizado após um dia de oração e jejum, com a total abstinência de comida e bebida pelo menos desde as primeiras horas da manhã do dia – não é uma tarefa fácil.
 
A Liturgia dos Dons Pressantificados é uma das grandes obras-primas da piedade oriental e da criatividade litúrgica. Revela a doutrina cristã central e a experiência em sua forma e conteúdo; ou seja, que nossa vida deve ter oração e jejum, a fim de estarmos em comunhão com Cristo. Ela nos diz que toda a nossa vida, e não apenas em períodos rápidos, é completada com a presença do Cristo Vitorioso que ressuscitou dos mortos. É testemunha do fato de que Cristo virá no final dos séculos para julgar os vivos e os mortos, e estabelecer o Reino de Deus “do qual não haverá fim”. Nos diz que devemos estar prontos para a Sua chegada e sermos vistos observando e servindo; para sermos dignos de “entrar na alegria do Senhor”.
 
A Liturgia dos Dons Pressantificados é uma das mais belas e significativas liturgias da Igreja Cristã Oriental.
 
Adaptado de: clique aqui.

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