A grandeza de Gregório de Nissa está no seu pensamento especulativo, e diante dos padres Capadócios teve um papel importante no desenvolvimento de uma teologia do homem, em que sua inovação e originalidade se dá por meio da antropologia – superando, de certa forma, Basílio de Cesaréia e Gregório de Nazianzeno. Nenhum outro padre do século IV se destacou tanto na filosofia como o Nisseno, que utilizou da sabedoria pagã para sistematizar sua doutrina e a partir dela demonstrar que a revelação cristã e a filosofia podem se complementar e unidas desvendar os inúmeros enigmas existenciais.
No princípio Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança”, a partir daí, a criação não foi mais a mesma e muitas indagações começaram a se desenvolver sobre a concepção do homem, que é e qual o sentido de sua existência, para aonde vai e o que vem após a morte ao qual é o grande quebra-cabeça que a ciência ainda não conseguiu explicar de uma forma plausível.
O homem é criatura e ao mesmo tempo é o elo que liga o mundo sensível ao mundo espiritual, fazendo a ligação entre a bondade do criador e a natureza criada, e esse elo é expresso pela razão, característica essa que faz do ser humano um ser diferente dos demais. Assim, o homem se distingue dos outros por ter alma racional e imaterial; o corpo e a alma são criados ao mesmo tempo, respeitando a dignidade e valorizando a individualidade, Deus criou o homem livre, se o homem é o elo entre o mundo inteligível e palpável, é certo dizer que a alma é a centelha de Deus, que como semente foi misturada ao ser humano e com a morte um dia retornará ao seu Criador.
A característica de ser imagem de Deus é representada pela parte racional do homem, e a linguagem é coisa específica do homem porque o mesmo é uma realidade corpórea, desta maneira, a linguagem serve para lançar pontes entre os homens. Os atributos divinos que o ser racional possui é a incorruptibilidade da substância, a possibilidade de fazer o bem, o livre arbítrio e a autonomia da virtude, pois o ser humano é como um espelho que muda de acordo com suas escolhas.
A principal característica de Gregório de Nissa foi de conciliar a cultura filosófica e a revelação cristã, procurando demonstrar a complementariedade entre a forma grega de explicar o mundo e seus enigmas quanto à sabedoria cristã que ao longo dos primeiros séculos almejou dar respostas contundentes sobre o universo, a criação e a relação do homem com seu Criador. Deste modo, a expressão humana caracterizada pela razão encontra a perfeição no Bem Supremo, assim se pode intuir sua existência e a relação intrínseca entre a criatura e o Ser Primordial.
Segundo Gregório de Nissa, não há um dualismo platônico na criação do homem, afastando a separação do corpo e alma, ou seja, no ato da criação o homem recebe o corpo e a alma que se tornam uma coisa só, claro que a alma humana tende a buscar a Deus. Assim, a grandeza do homem está na semelhança com o Criador, por isso, todo ser humano é merecedor de dignidade e respeito.
Quando Gregório de Nissa fala de uma concepção antropológica do homem, ele defende um olhar global, onde a reconstrução do indivíduo – imagem e semelhança do Criador que se dá por um caráter concreto, ou seja, olhando para Cristo como a personificação do Logos que serve de modelo para toda criatura racional que quer encontrar o sentido último de sua existência. A morte que é a grande limitação humana, para o Nisseno é a purificação da alma que desfigurada pelo pecado retorna à natureza e condição originária.
Autor: Amauri de Campos Junior, estudante do 2º ano do Curso de Bacharelado em Filosofia.