A seleção natural segundo Charles Darwin

Darwin, na obra A origem das espécies, elucida sobre a capacidade de força do homem sobre as variações domésticas, afirmando que ele não possui poder nenhum sobre qualquer variabilidade e transformações; mas, o que pode ser comum ao homem, é que ele pode apenas conservar e reunir as que se lhe apresentam. O naturalista inglês reflete que as transformações nos organismos podem resultar em duas coisas, a primeira é a transformação que se adapta às condições de vida da espécie, assim, tal transformação será favorável ao bom desempenho nas diferentes conformidades, e, de outro lado, temos a função nociva desta transformação, que corresponde ao desenvolvimento da extinção de algumas espécies, pois, “podemos estar certos, por outro lado, que qualquer variação, por menos nociva que seja ao indivíduo, acarreta forçosamente a extinção deste. Quanto ao resultado da segunda transformação, Darwin justifica essa extinção por causa da batalha pela vida, até mesmo de espécies iguais, já que nascem mais indivíduos do que aqueles que podem viver, isso torna difícil a possibilidade de sobrevivência e de reprodução.[1]

 Charles Darwin define a seleção natural ou a persistência do mais capaz “à preservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas”. Darwin assinala que as variações insignificantes, ou seja, aquelas que não são úteis ou nocivas ao indivíduo, não são prejudicadas pela seleção natural, e acabam permanecendo como elementos variáveis como é o caso de espécies polimorfas, que, a partir da variação fenotípica, conseguimos notar certas diferenças morfológicas ou fisiológicas de um indivíduo, como, por exemplo, o caso das cores mais variadas das conchas dos caramujos.[2]

 Em suas considerações, Darwin também traz uma ressalva crítica sobre os escritores que mal interpretam a expressão seleção natural. Conforme o naturalista, alguns teriam compreendido que a seleção natural traz a variabilidade, pois tem-se a visão de que ela abrange somente a conservação das variações por acaso produzidas, e quando são vantajosas ao indivíduo na condição de vida que se encontra. Outro erro é que outros pretenderam dar ao termo seleção um sentido de escolha consciente por parte dos animais, ou seja, eles mesmos pretendem se modificar, deixando de lado o caso das plantas, que, não sendo possuidoras de qualquer vontade, a seleção natural não lhe seria aplicada. Aqui, Darwin teve que lidar com a expressão em si, seleção, não a relacionando à um fator seletivo, mas como uma potência ativa ou divina, que produz a evolução. Assim, Darwin confia ao tempo o poder de tornar esse termo familiar, evitando críticas absurdas e inúteis.[3]

 Dando continuidade ao tema da seleção natural e para melhor compreendermos a aplicação da lei da seleção natural, tomemos o exemplo ressaltado por Darwin em A origem das espécies: suponhamos uma região submetida a qualquer rápida transformação física, como uma alteração climatérica, e, dessa forma, o número proporcional de seus indivíduos muda quase imediatamente e, provavelmente, ocasione a extinção de algumas espécies. Essas transformações podem ser ocasionadas por alguns fatores comuns à natureza, como as mudanças climáticas, desastres naturais, tais como inundações, terremotos e entre outros, ou até mesmo pela necessidade da espécie como alimentação e reprodução. Sobre isso, Darwin exemplifica com indivíduos que habitam uma ilha ou um país ladeado de barreiras intransponíveis. Darwin exemplifica:

Se se trata de uma ilha, ou de país ladeado de barreiras intransponíveis, nas quais, por consequência, novas formas melhor adaptadas às modificações do clima não podem penetrar facilmente, encontra-se então, na economia da natureza, qualquer lugar que fosse melhor preenchido se algum dos habitantes originais se modificassem de uma maneira ou de outra, pois que, se o país se achava franqueado, estes lugares seriam ocupados pelos emigrantes. Neste caso, ligeiras modificações, favoráveis em qualquer grau que seja aos indivíduos de uma espécie, adaptando-as melhor a novas condições de meio ambiente, tenderiam a se perpetuar, e a seleção natural teria assim materiais disponíveis para começar a sua tarefa de aperfeiçoamento[4].

 Essas alterações de vida dos indivíduos tendem a aumentar a faculdade de transformação. Ora, diante do caso citado acima, e de acordo com Darwin, “tendo mudado as condições de vida, o terreno torna-se então favorável à seleção natural, porque oferece mais probabilidades para a produção de variações[5] vantajosas, sem as quais a seleção natural nada consegue”. Podemos dizer também, que a seleção natural procura, a cada segundo e em qualquer lugar do mundo, as variações mais sutis, repelindo as que são nocivas, e conservando aquelas que são úteis à espécie. Por isso, Darwin dirá metaforicamente, que a seleção natural “trabalha em silêncio, insensivelmente, por toda parte e sempre, desde que se apresente a ocasião para melhorar os seres organizados relativamente às suas condições de vida orgânicas e inorgânicas”.

Autor: João Luiz Santana Zago, estudante do 3º ano do Curso de Filosofia da FASBAM.

Referência bibliográfica

DARWIN, C. A origem das espécies. Trad. Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, [19-?].

[1] DARWIN, C. A origem das espécies. Trad. Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, [19-?], p. 84.

[2] DARWIN, C. A origem das espécies. Trad. Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, [19-?], p. 84.

[3] DARWIN, C. A origem das espécies. Trad. Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, [19-?], p. 85.

[4] DARWIN, C. A origem das espécies. Trad. Eduardo Fonseca. São Paulo: Hemus, [19-?], p. 85.

[5] Quando Darwin fala sobre variações, ou faz o uso desta palavra, ele não quer significar uma variedade de coisas diferentes, mas sim as simples diferenças individuais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo