A dimensão social da liberdade cristã

A pessoa humana, considerando a sua dignidade, é o centro da vida social. Por isso o fundamento da moral social é o respeito a todo o ser humano e a prioridade da pessoa sobre a sociedade. Essa ênfase na pessoa humana não representa uma visão individualista da vida humana, porque o homem é chamado à liberdade na comunidade.

O mistério da pessoa desvela o sentido da liberdade cristã. Essa liberdade é liberdade de, do pecado e de tudo aquilo que escraviza a pessoa, que a torna dependente de fatores externos e internos, como também de estruturas sociais pecaminosas. Ao mesmo tempo, essa liberdade é liberdade para, para o serviço a Deus e ao próximo no amor: “Vos fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto que a liberdade não sirva de pretexto para a carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros” (Gl 5, 13).

Como “novo homem” em Cristo, o cristão demonstra essa liberdade nos âmbitos concretos de sua vida, sobretudo na vida social. Ele é chamado à cooperação com Cristo em todas as dimensões da vida humana. A conduta do “homem novo” na sociedade decorre do dom da nova vida em Cristo; por isso a perfeição e a maturidade da pessoa na vida moral é o resultado não só de esforços humanos, mas é também o fruto da união e cooperação com Cristo no Espírito Santo[1].

A liberdade está sempre vinculada à responsabilidade da pessoa humana perante as outras pessoas. Pela liberdade na comunidade, a pessoa se torna capaz de exercer as virtudes sociais e construir setores da vida cultural, para os quais são necessários os esforços de toda a comunidade: arte, ciência, economia.

A comunidade da Igreja traz dinamismo à vida da sociedade, apontando rumos ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento que superam os horizontes temporais da vida humana. O modelo mais perfeito da comunidade de pessoas é a Santíssima Trindade. Ao mesmo tempo, os cristãos têm consciência de que o pecado corrompe as relações interpessoais, gera conflitos sociais e prejudica a formação e o aperfeiçoamento da sociedade. Todo o pecado pessoal tem sempre consequências sociais. Isso conduz ao surgimento de estruturas pecaminosas, instituições sociais em que as pessoas são coagidas a obras pecaminosas. Para vencer as estruturas do pecado e a degradação social, os cristãos devem rejeitar as obras pecaminosas e testemunhar corajosamente o bem e a justiça.

A democracia e as virtudes sociais cristãs

A democracia como sistema social orientado para a salvaguarda da dignidade de toda a pessoa humana, dos direitos humanos, da sua preocupação pelo bem comum como princípios da vida política, pode ser considerada como um sistema condizente com a visão cristã. “A Igreja encara com simpatia o sistema da democracia enquanto assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante aos governados a possibilidade de escolher e controlar os próprios governantes, até mesmo de substitui-los pacificamente, enquanto tal se torne oportuno”[2].

A existência de estruturas democráticas externas ainda não garante o exercício da democracia. A verdadeira democracia deve refletir a diversidade de interesses que se manifestam na sociedade. Quando o sistema democrático se reduz à soma de egoísmos, a sociedade perde a sua mais alta essência moral: o homem nessa sociedade é visto antes de tudo como consumidor e como objeto de manipulação. Essa falsa democracia não é capaz de garantir o respeito à dignidade de cada pessoa humana e favorecer a solidariedade entre os homens. Lá, onde os mecanismos da democracia estão a serviço dos interesses dos mais poderosos, somente porque estes sabem influir de maneira mais efetiva nos mecanismos do poder, a democracia reduz-se apenas a uma palavra vazia[3].

Na base do sistema democrático está o respeito aos direitos da pessoa humana; os mais importantes deles são o direito à vida, à constituição de uma família, à educação, à escolaridade, à escolha do estado de vida, aos meios de uma existência digna. Garantia do exercício desses direitos é a liberdade religiosa, isto é, o direito à busca e ao reconhecimento do Deus verdadeiro[4].

Numa sociedade democrática, devem ser critérios morais da vida pública aquelas virtudes sociais, como a responsabilidade, a honestidade, a justiça, o respeito mútuo, a operosidade, a verdade, o senso do dever, a solidariedade, a preocupação pelo bem comum. A sociedade democrática, para a sua existência e seu desenvolvimento, necessita de valores morais, que ela é obrigada a defender.

[1] Cf. Concílio Vaticano II: Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo moderno Gaudium et spes (“Alegria e esperança”), 19.

[2] João Paulo II: Encíclica Centesimus annus (“O centésimo ano”), (1 de maio de 1991), 46.

[3] João Paulo II: Encíclica Evangelium vitae (“Evangelho da vida”), (25 de março de 1995), 70.

[4] Cf. Concílio Vaticano II: Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae (“Da dignidade humana”), 1.

Fonte: Cristo nossa Páscoa: Catecismo da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Tradução: Pe. Soter Schiller, OSBM. Curitiba: Serzegraf, 2014, n. 927-935.

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