Areté grega: educação e o ideal do homem guerreiro

No mundo grego antigo, os homens tiveram estilos de vidas que podemos concluir que, a educação tinha por objetivo enaltecer os homens a serem cada vez maiores e superiores a todos os outros seres. Neste sentido, a educação é o meio de fortificação a qual o homem encontra e se realiza em seus projetos. A palavra areté pode definir a educação, pois, etimologicamente falando, a areté é uma força da alma e, com essa força, o homem alcança a superioridade em seu sentido homérico da palavra. A educação deve estar ligada a razão, a coerência, a eficácia, dentre outros elementos que venham crescer e desenvolver nossas atividades mentais. Por fim, a educação deve ser nobre, não deve excluir mais incluir. Deve levar ao homem não uma formação frívola que logo sucumbe, mas uma via mirífica e profícua.

Os métodos que caracterizaram a cultura grega tendem sempre uma educação eficaz e virtuosa, ora, a própria virtude ou em seu termo original grego areté, designa a excelência humana, como também a elevação de todos os seres. Os mitólogos gregos, Homero e Hesíodo, destacavam que a educação a partir da visão da areté é era fundamental, porém, as suas visões não alinhavam na mesma. Homero, tinha uma exaltação pela habilidade do homem, um ser forte e valente, um verdadeiro guerreiro, enquanto Hesíodo partia da perspectiva de um homem simples, tem sua base no trabalho digno do homem, ou seja, o homem deve conseguir seu pão com o suor do seu rosto e, não nos atos ambiciosos exigidos pela aristocracia. Jaeger deixa clara, que a areté em Hesíodo se repousa na habilidade pessoal, no seu êxito e bem-estar, tal como ela apresenta seus dois pilares a justiça e o trabalho sobre o qual a areté se assenta.  A formação grega estava inteiramente adjunta a areté. Nos padrões de formação dos gregos o tema central era sem dúvida o conceito de areté.

A seriedade que os gregos fundamentavam a palavra educação não se aproxima em primeira instância numa característica propriamente dito, em uma simples condução de certo alguém ou de certa população. Os termos usados pelos gregos eram de fato, uma habilidade, um desenvolvimento da capacidade física e intelectual, ou seja, todo homem hábil e eficiente era aquele que alcançava a areté. O próprio mitólogo Homero destacou em suas obras a excelência do homem grego, mais especificamente na figura de Ulisses, um exímio e exemplo de homem e guerreiro virtuoso. Ora, a prática da educação consciente, segundo Jaeger, pode mudar a natureza física do Homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior.[1]  A educação grega era moldada pela transmissão de tudo aquilo pertencente a comunidade e de seu caráter formativo, seja a música, os mitos e principalmente a desenvoltura da vida humana como o todo.

Por estes motivos, a educação era na verdade uma criação do homem, ou seja, o homem era criado para estar no ápice, no cume de toda hierarquia, todavia, nem todos poderiam chegar a tal privilégio da mais alta virtude humana. Este ideal de homem (guerreiro) é uma educação que visava uma continuidade, um fim agradável e louvável da parte do guerreiro. Não há dúvida que todos os guerreiros queriam ser lembrados, existe, portanto, o desejo incontrolável de que sua glória jamais seria contemplada por aquele insigne guerreiro. O espírito de superioridade sobre todos os seres era, portanto, o componente fundamental da natureza humana. O que importa era ser conhecido; ser um exímio guerreiro e a autovalorização corporal. Neste sentido, observamos que a palavra areté aqui, não tem valor moral e ético, mas uma conjugação da bravura militante.

O homem grego tinha vários destaques, era um povo que buscava construir uma consciente educação, era, todavia, por meio da educação de maneira geral, que os gregos chegavam ao ápice da sociedade. O esporte era um dos meios que levava o homem grego chegar de forma mais eficaz a classe alta da população grega antiga, isso consiste em que as atividades esportivas da época não se tratavam como na atualidade, ou seja, nos aspectos de honrar a nação, os gregos não só queriam uma honra para a nação, mas antes, uma honra para si, tudo devia ser voltado para o atleta que luta e arrisca sua vida para uma certa coroa, adquirido uma qualidade altíssima daquilo que se possa imaginar.

No canto XXIII da Ilíada, Homero explica alguns pontos sobre as disputas, essas disputas poderiam levar à morte, mas é por meio da morte que os homens recebiam grandes múnus no meio da classe nobre. O preço para este sucesso era de fato alto, observa-se que nessas atividades: “o chão regam do choro, as armas regam. Em soluços Aquiles, urra impondo as homicidas mãos do sócio aos peitos… Aqui, no pó de bruços, obra indigna! Roja á tumba do amigo Troiano”.[2] Nessa passagem já é possível ver o quão Homero salienta que as olimpíadas (jogos) eram a grande oportunidade de o homem crescer, este crescimento consistia na superioridade de todos os seres e até mesmo sepultar seus amigos.

Na obra clássica de Homero, estão presentes todos os jogos em que os competidores exerciam como: a corrida de bigas, a luta de murros, a luta-livre, a corrida de velocidade, o choque do gládio, o lançamento de peso, de dardo, o arco e flecha, dentre outras modalidades. Além desses jogos eram feitas as preparações fúnebres para aquele corajoso homem como também eram feitas as preparações dos prêmios para os vencedores.

Aristóteles vê por uma ótica que a educação em seu plano geral deve ser exercida de acordo com cada regime, neste sentido, deve-se defender o caráter próprio de cada uma como tal. Numa cidade, a educação deve ser uma e a mesma para todos. Em suma, deve ser uma tarefa comum e não privado. O comum deve ser o exercício e sua realização. Neste sentido, a educação deve ser do interesse não apenas de um determinado grupo, mas de toda cidade. Aristóteles fundamenta que os atenienses tinham por educação física doutrinas radicadas ou ainda, uma certa linha dos Espartanos, porém, com uma diferença, sem aquela bravura exagerada a ponto de levar ao fracasso ou pior para o homem, levá-lo a uma classe inferior por não alcançar tal virtude. Os exercícios devem ser praticados com moderação e prudência, evitando alimentação pesada e exercícios violentos. O homem precisa equilibrar a vida. Corpo e mente são práticas que geral obstáculos uma à outra.[3]

A partir dessas considerações, visto então que, foi possível compreender o que seja educação no mundo grego. Apresentar um conceito e sua etimologia consiste numa base cognoscível, longe de ser uma coisa néscia.  A educação dependerá de uma reta prática, do hábito, a qual possa se alcançar um estado nas grandes classes sociais do mundo grego antigo. Sabemos que a educação é algo importante para todos os homens, ela será o principal atributo para o homem em seu estado de crescimento físico e intelectual. Entretanto, a educação e a força das virtudes podem reestruturar a vida do homem em sua totalidade.

Autor: Fr. Phaulo Rycardo Souza Guilhon, SAC. Estudante do 3º ano de Filosofia na FASBAM (2022).

REFERÊNCIA

 

ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Atena Editora, 1955.

HOMERO. Ilíada. São Paulo: Clássicos Jackson, 1964.

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

[1] Cf. JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 3.

[2] Cf. HOMERO. Ilíada. São Paulo: Clássicos Jackson, 1964, p. 399.

[3] ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Atena Editora, 1955, p.571- 573.

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